Influência positiva: conheça perfis que merecem sua atenção no Instagram
Em entrevista ao Metrópoles, Caio Braz e Carla Lemos falam sobre processo criativo nas redes sociais e produção de conteúdo responsável
atualizado
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Tutoriais bem produzidos, exercícios e dietas aparentemente simples ou até mesmo um posicionamento isolado, mas que reflita sua opinião pessoal. Diante da rapidez em que os conteúdos surgem na internet – e que o feed é atualizado – publicações como essas podem ser suficientes para que um perfil nas redes sociais ganhe seu follow.
Mas já parou para pensar sobre o poder você está conferindo à alguém, por meio de um simples toque na tela, muitas vezes de forma não-intencional?
A polêmica envolvendo Gabriela Pugliesi, na semana passada, tem lições a ensinar não só aos influenciadores, mas àqueles que integram sua audiência e, consequentemente, validam seu trabalho.
Um estudo da consultoria Kantar realizado entre os dias 14 e 24 de março mostrou que o Facebook, WhatsApp e Instagram tiveram um crescimento de cerca de 40% em março, quando teve início a quarentena devido à pandemia de coronavírus.
Mais que nunca, é necessário questionar: as pessoas que você acompanha, indiretamente, merecem sua atenção? Fazem você se sentir bem? Elaboram um conteúdo que chega ao seu celular com responsabilidade?
Por mais que acontecimentos recentes induzam a uma resposta negativa, nem só de maus exemplos sobrevive a internet. Felizmente, há muita influência positiva para conhecer e seguir.
Modices
A carioca Carla Lemos, por exemplo, começou a produzir conteúdo na internet há 13 anos. Hoje, soma mais de 210 mil seguidores, número modesto comparado às proporções atuais e ao tempo de carreira, mas suficiente para colocá-la entre as produtoras de conteúdo mais importantes do país.
Não à toa, sua lista de seguidores contempla várias personalidades, como Nina Silva, Sophia Abrahão, Paola Oliveira, Fernanda Nobre e a ex-bbb Marcela Mc Gowan.
Em entrevista ao Metrópoles, ela conta que o prestígio conquistado na internet é resultado de um trabalho em constante amadurecimento.
“Eu venho desse segmento porque não me identificava com a moda que eu via naquela época. Com o tempo, compreendi a associação do tema com a política, com aspectos psicológicos, com a história da mulher na sociedade… Isso me fez questionar várias coisas, incluindo meu papel”, lembra a influenciadora.
Foi a partir daí que o Modices, dedicado até então à apresentação de tendências de vestuário, aperfeiçoou o discurso e incorporou termos como feminismo, empoderamento e autocuidado às publicações. Um “aprofundamento” que, na opinião de Carla, deveria ser replicado por todos os influenciadores, em seu nicho de atuação.
“A gente precisa se aprofundar mais, enquanto produtores de conteúdo. Reconhecer que com grandes poderes há também grandes responsabilidades. Influenciar é promover atitudes, mudar comportamentos, isso é muito poderoso”, analisa.
Isolada em seu apartamento no Rio de Janeiro, ela tem dedicado suas publicações a conteúdos de bem-estar, autocuidado e controle dos efeitos emocionais da quarentena.
“Na Finlândia, o governo começou a recrutar influenciadores para falar de boas práticas contra o coronavírus. E, de fato, há muito conhecimentos incríveis na internet que podem ajudar”, diz.
“Precisamos sim ser essa influência positiva, agir com mais responsabilidade diante do que postamos e ser exemplo sobretudo para os profissionais que estão entrando nas redes agora, por causa da pandemia, e se tornando produtores de conteúdo”, conclui.
Caio Braz
O jornalista e apresentador Caio Braz, de 32 anos, também é um nome de destaque nas redes sociais. Assim como Carla, ele fez fama na internet até ser convidado por Lilian Pacce para ser repórter do programa GNT Fashion, comandado por ela.
Com a desenvoltura, não demorou para alçar voos mais altos no canal e se tornar apresentador de outras atrações, como o programa Marmitas e Merendas e o talk show Xou das Nove. Contudo, sempre manteve o pézinho no on-line, plataforma que o consagrou.
Carismático, com posicionamentos coerentes e palpites certeiros, ele usa as redes sociais atualmente para falar sobre vários assuntos. E sabe bem a responsabidade de apertar o botão de postar.
“Acho que o meu processo criativo vai na mão contrária desse conteúdo ‘comendo brioches, f%&*-se a vida’, sabe? Eu me preocupo com isso. É um capitulo básico de comunicação. Eu tenho 170 mil pessoas me seguindo, o que significa que eu estou falando com 170 mil pessoas. Se for relevante, eu vou receber pelo menos duas mil mensagens de volta”, diz.
“O problema é que, na internet, as pessoas tem muito coragem e pouca noção do que elas são, do que representam, do que vendem. Para além do cafona, tem muita gente demonstrando alienação, falta de cuidado com o outro… E esse é o momento de refletirmos sobre quanto poder estamos dando nas redes para quem não merece”.
Além de acreditar na criação de um “conselho de ética” para a atuação on-line, o apresentador destaca a importância de escolher bem quem seguir nas redes sociais.
“Quando você pensa em um influenciador, você tem que pensar que aquela é uma estrutura completa de poder. Envolve empresas, empregos, marcas. Se existir 10 marcas ligadas àquela figura, são pelo menos 60 pessoas ligadas diretamente ao que ela diz. Não acho que o cancelamento é a solução, mas o boicote, sim”, pondera.
Para quem está começando a trabalhar com internet, Braz tem algumas dicas valiosas. “Primeiro encontrar seu nicho, seu lugar de fala. Segundo, pensar muito antes de postar”.
Entenda a polêmica
No último sábado (25/4), Gabriela Pugliesi publicou uma série de stories promovendo uma festa em sua casa. As imagens viralizaram em pouco tempo e ela foi duramente criticada por ignorar as recomendações de isolamento social contra o coronavírus.
Com a repercussão negativa, acabou perdendo contratos com várias marcas e decidiu tirar a sua conta do Instagram, com mais de 4 milhões de seguidores, do ar.
Na opinião da pesquisadora em comunicação digital da Universidade de São Paulo (USP), Issaaf Karhawi, essa sequência de fatos evidencia a importância de ter uma relação transparente com o público – que, no final das contas, é responsável pela audiência.
“Os influenciadores digitais ocupam certos espaços e porque eles foram legitimidados pelos seguidores”, pondera. “Porém, quando colocamos esse influenciador nesse lugar de distinção, estabelecemos pactos com ele, de proximidade, crenças, intimidade…. À medida que ele rompe isso com ações polêmicas e pronunciamentos equivocados, o público responde”, prossegue.
A especialista alerta, porém, que nem sempre o reação dos seguidores será proporcional. “Vivemos esse momento de boicote, uma lógica agressiva e que replica a velocidade e o binarismo, do certo errado, do sim ou não, que acabamos replicando de uma forma cruel.
Por isso, antes de transformar hobbie em profissão, é preciso ponderar se você é capaz de ser um bom gestor da própria imagem.
“Não significa fazer teatro. Mas ter consciência que você é uma marca. Ao contrário de uma empresa, na qual uma crise dificilmente será atribuída a uma única pessoa, se você errar enquanto influencer, está sujeito a macular a própria imagem”, conclui.