“Infectei meus amigos com Covid-19”, diz brasiliense na Itália
Mesmo fora do grupo de risco, jovens que vivem na Itália compreendem que não estão imunes ao vírus e viram peça-chave para combater a doença
atualizado
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Se você é jovem e tem “histórico de atleta”, não se agarre à ilusão reconfortante de que está imune às graves consequências do coronavírus. Ou, pior: não faça dessa ideia – já refutada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – uma desculpa para descumprir medidas de combate à pandemia.
Quem alerta são brasilienses dessa faixa etária que, atualmente, residem na Itália. Personagens de um dos capítulos mais tristes da história do país europeu, o mais devastado pelo vírus até o momento, os entrevistados salientam a importância das novas gerações na luta contra a doença.
A esperança é que, por meio da informação, o Brasil escape dos dias cinzentos que pairam sobre o solo italiano.
A professora de língua portuguesa Camila Almeida, de 31 anos, mora em Bolonha, a 80 quilômetros de Florença, e diz que, assim como muitos jovens, ela subestimou a gravidade da Covid-19.
“Sempre pensamos que não vai acontecer com a gente. Até que acontece. Senti na pele os sintomas do coronavírus e posso afirmar: não é só uma gripezinha”, relata. Dona de boa imunidade e fisicamente ativa, ela teve febre, dores no peito e problemas para respirar.
“No quarto dia de mal-estar, não suportei o desconforto e fui a um ambulatório. Como estava no início do surto [o caso aconteceu no fim de fevereiro], a médica foi um pouco displicente. Me prescreveu apenas paracetamol e me mandou para casa. Não mencionou nada sobre isolamento”, revela.
Como medida de contenção de recursos e pelos sintomas considerados brandos, Camila não foi testada para confirmar o diagnóstico. Dias depois, sentindo-se melhor, engatou uma viagem à Espanha.
“Foi quando, sem ter certeza absoluta de que estava infectada, passei para dois amigos – atletas, inclusive. Descobri dias depois, quando eles fizeram o teste e deu positivo”, conta.
No momento que recebi a notícia dos resultados, constatei que, de fato, tive coronavírus e, pior, disseminei
Camila Almeida, 31 anos
O episódio rendeu à professora uma lição que ela espera passar adiante. “Nós, jovens, temos um papel importante para evitar a disseminação do vírus. Não havia muitas informações sobre a seriedade da doença à época, mas, agora, vocês têm. Usem o caso da Itália e o meu como exemplos. Fiquem em casa. Protejam a si e ao próximo”, aconselha.
Situação na Itália
Segundo o Ministério da Saúde da Itália, até o momento, o número de mortes devido ao coronavírus ultrapassa 8 mil. As autoridades contabilizaram mais de 62 mil infectados.
Ruas vazias e caminhões transportando caixões de vítimas viraram rotina no país, conhecido pela rica história e pelas paisagens turísticas.
O território vive, desde o dia 9 de março, um isolamento total, que inclui a suspensão de aulas e de serviços não essenciais.
Ainda são incertos os motivos que culminaram nesta dramática situação do país. O alto número de cidadãos idosos, pertencentes ao grupo de risco da doença, e a resistência de parte da população às medidas de isolamento social para manter o prosperar econômico são os mais evidentes.
Movimento de jovens
O designer Pedro Vidotto, 32, e a jornalista Camilla Terra, 31, são casados e vivem há cinco anos em Milão, centro comercial a 45 quilômetros de Bergamo, epicentro da pandemia na Itália.
Ao ver amigos desfalecerem pela doença e um colega morrer, o casal assumiu para si a responsabilidade de seguir à risca as recomendações de saúde para frear a pandemia. “Num primeiro momento, pensamos: como não temos parentes por perto nem conhecemos muitos idosos aqui, vamos seguir a vida normalmente. Mas, prezando pelo bem coletivo, revimos essa atitude.”
“Demorou, mas entendemos que, mesmo fora do grupo de risco, não estamos imunes à doença e somos peça-chave para combatê-la”, sustentam.
Eles estão em quarentena há semanas e só saem do isolamento uma vez a cada sete dias, para ir às compras. “Fazemos parte de um movimento crescente de jovens engajados em cooperar e acelerar a normalização do quadro. Nos atentamos às regras de segurança, oferecemos ajuda a vizinhos idosos e consumimos em mercados de bairro para ajudar a economia local”, exemplificam.
São atitudes simples mas que, realizadas em massa, causam grande impacto à sociedade.
Morte de jovens
O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesys, chamou a atenção dos jovens na semana passada.
“Tenho uma mensagem para os mais jovens: vocês não são invencíveis. O vírus pode colocá-los no hospital por semanas ou até matá-los. Mesmo se vocês não ficarem doentes, as escolhas que vocês fazem sobre onde vão podem significar a diferença entre a vida e a morte para outra pessoa”, disse.
A fala do diretor-geral é embasada em fatos. Já há registros de jovens aparentemente saudáveis apresentando quadros graves da doença, como um médico paquistanês de 26 anos, e uma estudante francesa de apenas 16 morreu.
“Os jovens, sem dúvidas, têm o poder de assimilar o vírus de uma maneira muito mais branda. O percentual de casos severos referentes a esse grupo é baixo. No entanto, há, sim, o risco”, frisa o clínico geral e coordenador do Pronto-Socorro do Hospital Santa Lúcia, Luciano Lourenço.
Como fazer a minha parte?
É jovem e quer fazer a sua parte para frear a pandemia? Então, siga os passos destacados pelo Metrópoles:
- Atente-se às medidas listadas por organizações de saúde para conter a disseminação, como evitar aglomerações e cobrir o rosto ao tossir e espirrar;
- Não saia de casa, a não ser em casos de extrema necessidade,
- Ao ir ao mercado ou à farmácia, pergunte a vizinhos que fazem parte do grupo de risco, como idosos e pacientes em tratamento oncológico, se eles precisam de mantimentos. Oferecendo ajuda, você evita que pessoas menos resistentes ao vírus se coloquem em risco;
- Não faça estoque de comida nem medicamento. Quando sobra para um, pode faltar para outro;
- Não propague fake news. Procure fontes confiáveis para se atualizar sobre a pandemia e, assim, não disseminar notícias falsas e alarmantes.