Gravidez tardia: mulheres quebram tabu e buscam ter filhos após os 40
Especialista explica que tecnologia e medicina estão avançadas e, mesmo depois dos 35 anos, é possível ter uma gestação segura
atualizado
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Elas estudaram, trabalharam, casaram, procuraram empregos melhores. Foram em busca da estabilidade financeira, profissional e amorosa. Enquanto isso, a decisão de ser mãe era cada vez mais adiada. Até que o desejo da maternidade bateu na porta e elas se encontraram em um dilema: seria muito tarde para ter um filho?
Joanna Fulforb era uma dessas mulheres e a sua resposta foi não. Com 40 anos, a diplomata passa por sua primeira gestação. “Na minha vida inteira, eu fui fora do padrão. Nunca quis ter filhos. Então, me aconteceu uma mudança de sentimentos e eu decidi ter um”.
Ela conheceu o marido na Bolívia enquanto trabalhava na embaixada brasileira. Voltaram ao Brasil e, juntos há dois anos, Joanna decidiu engravidar. Ela não teve dificuldades e tudo aconteceu naturalmente, sem uso de medicamentos.
Um mês depois da decisão, a diplomata já esperava um filho.“Quando eu estava pensando sobre o assunto, li artigos, conversei com médicos. Todos me mostravam que não havia problema nenhum em engravidar tarde”.
Os percentuais podem assustar: a partir de 35 anos, a chance de um bebê nascer com Síndrome de Down varia de 1% a 4%. Quanto maior a idade, maior a porcentagem. Mas para Joanna, isso não foi um obstáculo. “Muitas dessas pesquisas são antigas. Hoje tudo é mais seguro”.
A gravidez de 26 semanas corre tranquilamente. Ela realiza acompanhamento médico para tratar da alimentação e dos exercícios, mas fora isso, se sente em uma gravidez normal. “Eu não tenho nenhum cuidado diferente que outra mulher grávida tem”.
A família ficou surpresa com a notícia, mas não pela idade. “Eles ficaram surpresos porque eu sempre dizia que não queria filhos. Foi uma felicidade. O meu marido também vai ser pai pela primeira vez”, conta.
De mamãe de primeira viagem para uma que queria mais um filho. Cristiane Paiva, de 43 anos e mãe de um menino de 9, tinha vontade de aumentar a família. Mas o caminho foi bem complicado.
A professora decidiu esperar o primeiro filho crescer até ter outro. Quando viu que havia chegado a hora, engravidou quatro vezes consecutivas, sem medicação e sem dificuldades. No entanto, sofreu abortos espontâneos em todas.
“Minhas perdas não tinham a ver com idade, mas mesmo assim a vontade continuava latente. A idade ia chegando e eu não perdia as esperanças de ser mãe de forma natural”, relata.
Muitas pessoas diziam que ela não conseguiria e colocavam rótulos. Segundo Cristiane, “era um terrorismo feito por culpa da idade”. Ela procurou médicos depois dos abortos e, segundo ela, até alguns profissionais tentavam a desencorajar de ser mãe. Mas a vontade de ter mais um filho era mais forte.
“Circunstâncias me levaram a ser mãe após os 40, mas esse quadro não me desanimou, não me desestimulou. Não tirou minhas esperanças de ser mãe”.
Cristiane decidiu procurar um médico especialista e, agora, acompanhada, carrega uma gestação saudável e tranquila de 27 semanas. “Tive uma observação mais próxima nos três primeiros meses, fazendo ecografias, mas agora estou com os cuidados de uma gravidez normal’.
Apesar das duas mamães contarem que se sentem como grávidas normais, o ginecologista Guaraci Lélis explica: a gestação tardia “precisa ser melhor avaliada e acompanhada”. Acima de 35 anos, o médico elucida, as mulheres começam a perder a quantidade e a qualidade dos óvulos. A partir dos 38, elas só contam com 1/4 da quantidade original.
E mesmo assim, em 10 anos, as gestações entre 30 e 39 anos aumentaram de 22,5% para 30,8%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE). Enquanto isso, a quantidade de mães entre 20 e 24 anos caiu de 30,9% para 25,1%.
O médico detalha que uma mulher com gravidez tardia precisa realizar os exames pré-concepcionais para verificar a imunidade e as ultrassonografias morfológicas do primeiro e segundo trimestre. A ultrassonografia do terceiro trimestre é importante para checar a vitalidade e verificar o líquido amniótico. Todos esses exames ajudam a conferir se há problemas no sistema nervoso e riscos de infecções no bebê.
Outra recomendação é tomar ácido fólico para evitar problemas no sistema nervoso, vitaminas C e D para melhorar a imunidade materna e suplementação de cálcio. A orientação na parte nutricional e de exercícios é também importante como forma de se prevenir da pré-eclâmpsia (pressão alta durante a gravidez), diabetes gestacional e parto prematuro.
“Hoje, temos exames para rastreamento de síndromes, como o NIPT. É uma prática não-invasiva, que retira o sangue materno a partir da 10ª semana, e tem 99% de chance de mostrar se o bebê tem problemas de síndromes”, explica.
Todos os cuidados são importantes, pois a cada 10 gestações acima de 45 anos, só um bebê nasce. Mas o Dr. Guaraci enfatiza que, hoje, os acompanhamentos médicos são mais disciplinados, com nutricionistas e psicólogos em uma atividade conjunta. “A mulher não precisa desistir do sonho de ser mãe porque quer alcançar uma estabilidade financeira, profissional ou esperar um relacionamento estável”.
O ginecologista aconselha para a mulher que decidir adiar a gravidez, por qualquer motivo, congelar os óvulos a partir de 35 anos.
Se a futura mãe seguir as recomendações médicas, ter uma boa saúde, peso adequado, boa alimentação e vida saudável, a perspectiva de uma gestação sem risco são as mesmas de uma pessoa mais jovem.
“Às vezes, as mulheres ficam preocupadas e ansiosas com a idade, e acabam dificultando o processo de ter um filho naturalmente. Mas esse mito da gravidez tardia precisa ser quebrado”.