Gorda? Paolla Oliveira vira musa empoderada ao assumir celulites
Críticas ao corpo natural da atriz suscitaram reflexões sobre padrão feminino, corpos naturais e cobrança estética para mulheres
atualizado
Compartilhar notícia
Imagine a situação: você está na praia, usando, obviamente, roupas de banho. Um fotógrafo se aproxima, clica a cena, posta nas redes e, em poucas horas, milhares de pessoas estão falando sobre gordurinhas, celulites e estrias que, talvez, você nem havia se dado conta de que estavam ali. Ou sabia que existiam, mas não se importava. Se a situação pareceu assustadora e improvável, saiba que ela é frequente na vida de pessoas que vivem sob os holofotes.
Nesta semana, Paolla Oliveira, de 37 anos, sofreu críticas sobre seu corpo após fotos de cenas finais de “A Dona do Pedaço”, gravadas na praia, vazarem na internet. O mesmo ocorreu com a atriz hollywoodiana Scarlett Johansson, também flagrada de biquíni.
Esperando o feminismo me destruir até eu virar a gata da Scarlett Johansson https://t.co/pGO0Ikgkwk
— Maria Fernanda (@MariaFerds_) 21 de novembro de 2019
No entanto, à medida que os dois casos se misturavam nas redes sociais e mais pessoas tomavam conhecimento do fato, a discussão ganhou outro foco e muitas mulheres começaram a se perguntar: como duas artistas consideradas sex symbols por anos podem estar à margem dos atuais padrões da sociedade?
Para muitas mulheres, a reflexão foi seguida por alívio. “Vocês que acham que Paolla Oliveira está fora dos padrões, em que mundo vivem?”, escreveu uma usuária do Instagram. “Que sirva de lição, mulherada. Nossos esforços nunca serão suficientes. Vamos parar de tentar agradar e fazer sacrifícios malucos em prol desse padrão de beleza surreal”, comentou outra.
Representatividade
Na opinião da ativista Vanessa Campos, que atua nas redes sociais levando conceitos body positive para suas seguidoras, essa constante objetificação de corpos femininos tem feito as mulheres se darem conta sobre o caráter intangível e subjetivo do atual padrão de beleza da sociedade.
“A Paolla já foi elogiada pelo corpo, depois criticada como se estivesse vendendo uma imagem mentirosa, como se não pudesse ter um corpo normal e continuar sendo gostosa. Somos objetificadas a todo momento, o que gera uma busca desenfreada pelo pertencimento, por um padrão muito difícil de alcançar sem adoecimento físico e mental”, explica.
Segundo Vanessa, é necessário exercitar o amor próprio para evitar esse tipo de cobrança. “Todas nós sofremos pressão estética para caber num padrão, as gordas, além disso, podem sofrer processos de gordofobia, que é algo bem diferente. Mas todas vivemos numa sociedade gordofóbica em que ter uma silhueta maior, barriga, braço grande, coxa grossa, celulite e estria, peito caído é pecado.”
Para ela, criticada por suas curvas reais assim como as atrizes, a discussão vai além de cuidados e hábitos alimentares “Hoje, tenho acompanhamento nutricional, não como alimentos processados, pratico yoga e meditação, tive alta da terapia que me ajudou a entender tudo isso, mas também falo de um lugar de mulher classe média, branca, privilegiada, e que pode comprar orgânicos ou roupas pela internet em lojas especializadas”, pontua.
“A mudança que percebemos em algumas falas e comportamentos também é classista. Mulheres como Preta Rara, MC Carol de Niterói e Tais Carla são atacadas todo santo dia também por outras mulheres que projetam ali a sombra delas. Acredito nessa mudança, mas acredito bem mais que ela está em curso e que todas nós a construímos quando nos posicionamos com afeto por quem somos”, finaliza.
Confira o texto postado por Vanessa nas redes sociais: