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Faxineira vence depressão, vira palestrante e inspira diaristas pelo mundo

Verônica Oliveira conquistou seguidores pelo “papo reto” sobre o trabalho como diarista. Apenas no Instagram, tem mais de 300 mil seguidores

atualizado

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Gui Prímola/Metrópoles
Verônica Oliveira
1 de 1 Verônica Oliveira - Foto: Gui Prímola/Metrópoles

Brasil, 19 de março de 2020. O governo do Rio de Janeiro confirma a primeira morte por coronavírus no estado. A vítima, uma mulher de 63 anos, tinha diabetes e também hipertensão, ou seja, se enquadrava no grupo de risco. Ainda assim, não foi dispensada do trabalho. Ela era empregada doméstica e pegou coronavírus da patroa, uma moradora do Leblon que havia acabado de voltar de uma viagem para a Itália.

A situação trágica resume a forma colonial como muitos brasileiros tratam faxineiras, diaristas e demais funcionários que auxiliam no cuidado de suas casas. É o que acredita a influenciadora digital e empreendedora Verônica Oliveira. Para combater esse e outros abusos, estereótipos e preconceitos, ela criou o perfil Faxina Boa, no qual acumula 306 mil seguidores no Instagram e outros 100 mil no Facebook. Além dessas redes, há um grupo com mais de 7 mil trabalhadoras do lar no Brasil e do mundo comandado pela jovem.

Veronica Oliveira
Verônica Oliveira é criadora do perfil Faxina Boa

Aos 38 anos, ela tornou-se influenciadora digital e palestrante ao “mandar a real” sobre questões intrínsecas à cultura e ao imaginário do povo brasileiro. Desde fevereiro, decidiu abrir ao mundo sua rotina suada, mas digna de aplausos. Não à toa, conquistou a web e firmou contratos com grandes marcas. Antes, trabalhou durante quatro anos fazendo faxinas. E foi propagando seu negócio de maneira criativa que se descobriu uma influencer.

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Ela virou digital influencer em fevereiro, após quatro anos fazendo faxinas
E luta para derrubar os mitos em torno da profissão, além de dar fim a problemas como assédio nesse ambiente de trabalho
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Verônica Oliveira é criadora do canal Faxina Boa

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Ela virou digital influencer em fevereiro, após quatro anos fazendo faxinas

@faxinaboa/Instagram/Reprodução
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E luta para derrubar os mitos em torno da profissão, além de dar fim a problemas como assédio nesse ambiente de trabalho

@faxinaboa/Instagram/Reprodução
Trajetória

A paulista atuava como atendente de telemarketing e acabou sendo demitida. Da crise financeira veio, também, um baque mental. Foi preciso uma internação psiquiátrica, após uma tentativa de suicídio, para ver a “luz” no fim do túnel. “A princípio, atendia apenas amigas, mas depois que passei a atender ao público geral, descobri uma profissão que me fazia feliz, garantia uma renda que nunca havia feito antes e driblei os problemas psicológicos”, conta.

A profissão funcionou quase como uma terapia. “O trabalho braçal ajuda a desencanar dos problemas. Foi uma mudança completa na minha vida”, recorda.

Com essa vivência, Verônica percebeu a forma como muitos de seus contratantes a tratavam – assim como suas colegas de profissão. No feminino, pois grande parte ainda são mulheres, muitas delas vítimas de assédio.

As pessoas acreditam que o fato de contratar um prestador de serviços o transforma em proprietário daquela pessoa, e muitos se aproveitam dessa suposta posição de superioridade para praticar diversos abusos. Existe muito trabalho a ser feito a fim de mudar essa realidade

Verônica Oliveira

A pandemia de coronavírus intensificou essas discrepâncias. “Houve o caso do menino Miguel, além de estados que declararam o trabalho doméstico como ‘essencial’ para que os mais ricos não ficassem sem suas empregadas. Surreal”, lamenta.

Embora o cinema (com produções aclamadas, a exemplo de Que horas ela volta?) e outros projetos virtuais tenham lançado luz sobre trabalhadoras domésticas, a influenciadora acredita que o caminho para uma relação saudável, do ponto de vista financeiro e social, ainda é longo.

“O processo será lento, as próximas gerações de trabalhadoras domésticas irão se posicionar de forma mais efetiva a partir dessas reflexões que estão sendo criadas agora”, prevê.

Verônica explica que por ser “praticamente hereditário”, o trabalho doméstico também sente discriminação do ponto de vista intelectual. Um vídeo no qual ela reclama o direito de ser pensante e crítica acumula, até o momento, mais de X visualizações. Embora não entenda o porquê, uma vez que explica o óbvio e deveria ser regra, ela comemora. “Houve uma ruptura nesse processo com a facilitação do acesso ao ensino superior pelas classes mais baixas, por isso talvez exista tanto esforço para interromper esse avanço.”

Nova carreira

Atualmente, Verônica Oliveira atua como palestrante e produtora de conteúdo para redes sociais. Também faz consultoria e workshops para empresas. No mês que vem, lançará o primeiro livro, pelo selo Latitude, da editora V&R.

“Em minhas palestras, eu falo sobre o processo de superação que passei e a forma como eu encaro meu trabalho e a importância da prestação de serviços, independente de qual seja. A intenção é fazer as pessoas saírem de lá conscientes de que são importantes, pois elas são”. Para entrar em contato, a melhor opção é por e-mail.

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