Esteticista cria touca para cabelo afro após sofrer racismo em consultório
Cristiane Boneta teve que utilizar sacos de lixo como touca e avental para se proteger em consulta odontológica
atualizado
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A esteticista e palestrante Cristiane Boneta passou por um episódio de racismo traumático em consulta ao dentista, em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A recepcionista do local a orientou a utilizar sacos de lixo como touca de cabelo, sob a justificativa de que os fios de Cristiane não caberiam na touca normal.
Ao confrontar um dos proprietários do local sobre o motivo de os pacientes precisarem utilizar sacos de lixo como equipamento de proteção, Cristiane recebeu uma resposta evasiva. O profissional afirmou não ver necessidade de comprar os objetos adequados.
“A recepcionista pediu que eu guardasse os sapatos e a bolsa em um saco de lixo. Achei estranho, mas obedeci. Logo em seguida, ela estendeu outros dois sacos e disse: ‘Esses aqui são para você vestir. E como seu cabelo é volumoso e não cabe em uma touca, você vai ter que colocar um saco nele também’”, relatou Cristiane sobre o episódio, em entrevista ao portal Uol.
A esteticista, que é especializada em pele negra, se sentiu incomodada com a situação e registrou tudo pelo celular, com fotos e vídeos. Cristiane publicou o ocorrido em post nas redes sociais. Ela recebeu apoio dos internautas e uma oportunidade única para evitar que outras pessoas passem pelo mesmo: criar uma linha de toucas descartáveis para cabelos afros.
“Diversas empresas ofereceram EPIs, mas uma delas, com uma mãe e filha negras à frente do negócio, foi a que me fez brilhar os olhos. Elas me convidaram para criar uma touca descartável para cabelos black power, que seja do tamanho adequado para acomodar também tranças e dreads, pensando no cabelo afro”, contou Cristiane.
Inspirada a evitar que outras pessoas sintam o que ela sentiu no consultório, a esteticista sugeriu a criação de uma linha de aventais de uso único em diversos tamanhos. “Para que caibam em corpos obesos, de todos os tamanhos possíveis. É uma linha toda de EPIs descartáveis pensada nos corpos excluídos, fora dos padrões”, defendeu.
A coleção foi aprovada e está em fase de precificação de custos, produção, distribuição e lucro. “Nós vamos vender on-line, é claro, ainda mais considerando o momento atual. Já fechamos parcerias de revenda em São Paulo e na Bahia”, explicou Cristiane.
Desfecho
Além das mensagens de apoio, a esteticista também foi cobrada por seus seguidores a processar o consultório em que sofreu racismo. “Muita gente me dizia para processá-lo. Eu nem sabia que era possível. Com o alerta, conversei com a minha advogada e nós entramos com uma ação”, afirmou.