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Entre oriente e o ocidente: a vida de Mariana De’ Carli Al Ali

A brasiliense de 28 anos estudou na Inglaterra, converteu-se ao islamismo e hoje mora em Dubai, ao lado do marido Saeed Al Ali, membro de uma família que governou a ilha Qais até o domínio imposto pelo Irã

atualizado

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Arquivo pessoal
Mariana De’ Carli Al Ali
1 de 1 Mariana De’ Carli Al Ali - Foto: Arquivo pessoal

Uma aventura inesperada. Assim podemos definir a trajetória da brasiliense  Mariana De’ Carli Al Ali. Filha de Carlos Alberto De’ Carli, senador entre 1987 e 1995, fez o ensino médio em Miami, nos Estados Unidos, graduação na King’s College, uma das instituições mais tradicionais de Londres, na Inglaterra, tornou-se islâmica aos 18 anos, casou-se com Saeed Al Ali, 34, membro da família que governava uma região hoje dominada pelo Irã, e vive atualmente em Dubai, nos Emirados Árabes.

Sempre atenta ao cenário mundial, Mariana tem uma maturidade incomum para seus 28 anos. Diante do horror provocado pelo grupo terrorista Estado Islâmico, que já se responsabilizou pela morte de milhares pessoas e destruiu monumentos milenares, assumir-se seguidora da religião islâmica é quase uma provação nos tempos de hoje. “Era tanto preconceito que demorei para assumir a minha conversão e tive que me afastar das redes sociais por algum tempo. Cheguei ao ponto de ouvir uma pessoa próxima da minha família dizer que tinha nojo de muçulmanos e nunca iria entender como eu teria me misturado com essas pessoas”, conta.

Porém, para cada demonstração de islamofobia, Mariana mostra ter uma resposta certeira. “Há uma série de equívocos sobre o assunto, a começar pelo nome. Dizer que essa facção criminosa é um Estado seria a mesma coisa que falar que o Comando Vermelho do Rio de Janeiro é uma instituição do país”, diz. Em Dubai, por exemplo, o grupo é chamado pelo nome de Daesh, que significa “semeadores da discórdia”. “A França e outros países europeus também estão começando a utilizar esse termo como uma forma de afastar a ideia de que eles agem em nome do islamismo. A religião é muito maior do que isso”, explica.

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Ela também utiliza roupas típicas da região (e da religião) no dia a dia
A brasiliense não é impedida de utilizar roupas mais informais no dia a dia
Em cima de um camelo durante um de seus passeios pelo Marrocos
As roupas tradicionais do país chamam atenção pelo requinte
Na Índia, Mariana faz uso das tatuagens hena, parte da tradição do país
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Mariana em sua formatura da King's College, em Londres

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Ela também utiliza roupas típicas da região (e da religião) no dia a dia

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A brasiliense não é impedida de utilizar roupas mais informais no dia a dia

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Em cima de um camelo durante um de seus passeios pelo Marrocos

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As roupas tradicionais do país chamam atenção pelo requinte

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Na Índia, Mariana faz uso das tatuagens hena, parte da tradição do país

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Islamismo
A paixão pela religião islâmica surgiu da escrita. Na King’s College, Mariana se especializou em modern languages and area studies, que trata-se do conhecimento de linguística aplicada a sociologia. “Meu trabalho se aprofundou nas línguas peninsulares ibéricas, mas também pude aprender outros idiomas, como francês, italiano e árabe”, explica. Durante seus estudos na instituição inglesa, que ocorreram entre 2005 e 2011, o famoso escritor José Saramago presidia a cátedra de literatura lusófona.

Após o primeiro contato com a língua árabe, Mariana resolveu ler o Corão, livro sagrado para os islâmicos. “Percebi que a linguagem era bastante poética, com um texto rítmico, que mantém a forma do começo ao fim”, diz. Ela começou a estudar os povos do Oriente Médio e se apaixonou pelos ensinamentos da religião. “Por mais contraditório que pareça, o Islã me empoderou, mostrou que eu era mais do que um pedaço de carne. E vindo de um mundo tão superficial, era o que eu precisava”, afirma.

Com o islamismo, pude entender que não vim ao mundo para satisfazer alguém. Pude sentir uma grande sensação de liberdade em perceber que não sou escrava desse mundo e nem de ninguém

Mariana de Carli-Ali

Engana-se quem acha que, por seguir o islamismo, Mariana teve que se abster das conquistas obtidas pela vida ocidental. “Eu trabalho, saio com amigos, viajo sozinha, escolho se quero usar véu, o hijab, ou uma roupa informal. Tenho liberdade de escolha”. Além disso, ela garante que seus direitos enquanto mulher são mais bem respeitados no país em que vive. “No Brasil, mulheres passam por agressões sexuais graves que não são nem consideradas crimes. Aqui em Dubai, se um homem pedir meu telefone de forma abusiva eu posso fazer uma reclamação por assédio.” Ou seja, qualquer contato físico não solicitado por uma mulher pode ser considerado uma violência. “Afinal, é uma violação ao meu direito de dizer não”, explica.

Dubai
Mariana se mudou para Dubai em junho de 2015 após ser convidada para ser produtora de conteúdo na Informa, empresa especializada em desenvolver materiais acadêmicos e também promover congressos em diferentes áreas, que vão de gestão governamental a energia, petróleo e gás. “Quando eu tinha 10 anos, o meu pai negociou um contrato com o Governo dos Emirados e eles acabaram comprando nossa casa em Brasília para abrir a primeira embaixada. Desde então, eu me interessei pelo o local, passei a adolescência nos Estados Unidos sonhando com Dubai. Esse emprego foi a oportunidade certa para mim”, conta.

Atualmente, ela mantém o canal de vídeos no Youtube The Expats Ltd. com seu irmão Gabriel De’ Carli, 25, que também se mudou para o país por causa de uma oportunidade de emprego e outros dois brasileiros que trabalham com Mariana na Informa. Nos vídeos, eles trazem curiosidades sobre a região e os costumes da cultura islâmica. Confira uma das postagens, que trata sobre o Ramadã, mês sagrado para quem segue a religião:

Uma semana após a mudança para os Emirados, Mariana conheceu Saeed em uma reunião de trabalho. Integrante da família que governava a ilha Qais, região que se encontra sob o domínio do Irã desde a revolução de 1979, Saeed trabalha em um órgão governamental de Dubai que financia, incuba e acelera empresas regionais que não fazem parte da indústria do petróleo.

Após passarem um fim de semana inteiro juntos discutindo projetos do trabalho, uma surpresa: Saeed pediu para conhecer a família de Mariana. Assim, ele passou os próximos quatro meses a pedindo em casamento. “Não chegamos a namorar publicamente, mas convivemos quase diariamente. Em nossas saídas – ninguém se importava de nos encontrarmos sozinhos – soube que ele havia morado na Inglaterra durante a infância, fez bioquímica em Houston, nos Estados Unidos, aprendeu a falar oito línguas, já tinha morado em países como Cazaquistão, Nepal e Índia. Enfim, uma série de fatores que mostrava quantos interesses e curiosidades tínhamos em comum”, afirma. Em 21 de dezembro, eles se casaram em uma cerimônia intimista no restaurante Pierchic, localizado em frente ao famoso prédio do Burj Al Arab.

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Durante o dia a dia, o casal também opta por um vestuário menos tradicional
Ainda que sejam islâmicos, o casal comemora o Natal em família
O casal vestido tradicionalmente (e fazendo brincadeiras)
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No casamento, que ocorreu no dia 21 de dezembro

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Durante o dia a dia, o casal também opta por um vestuário menos tradicional

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Ainda que sejam islâmicos, o casal comemora o Natal em família

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O casal vestido tradicionalmente (e fazendo brincadeiras)

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Eles se comunicam diariamente em inglês, mas Mariana conversa em árabe com os familiares dele. Se alguém foi contra a união dos dois? Mariana garante que não. “Os irmãos de Saeed foram nossos padrinhos no casamento civil e minha família é multicultural”, diz. O primeiro casamento de seu pai havia sido com uma mulher nascida na Letônia e a família de sua mãe conta com cristãos, muçulmanos e judeus. “Não seguimos o padrão de uma família tradicional. Minha mãe me apresentou as mesquitas e me ensinava sobre as mais diferentes religiões, deixando sempre claro que a fé é uma escolha pessoal”, explica. A poderosa mensagem serviu como um mantra que Mariana carrega na sua vida até os dias de hoje.

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