Entenda por que alguns vegetarianos e veganos voltam a comer carne
“Ex-vegetarianos” contam os desafios e preconceitos enfrentados ao decidirem voltar a incluir a proteína em seu cardápio
atualizado
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Não é incomum que, no seu ciclo social, existam algumas pessoas que decidiram abdicar do consumo de carne. A adesão ao veganismo ou a vegeterianismo tem ganhado cada vez mais força no Brasil: 30 milhões de brasileiros são vegetarianos e cerca de 7 milhões seriam veganos, segundo a Sociedade Vegatariana Brasileira (SVB). Na contramão, o país é, também, um dos que mais consome carne no mundo.
De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o terceiro no ranking mundial quando o assunto é a ingestão de proteínas de origem animal. Neste cenário, fica fácil imaginar como é difícil o acesso à refeições com esse formato em restaurantes do país ou, até mesmo, em casa, quando a família come carne e tem refeições em comum.
Essa “tensão” social, na visão da psicóloga Danielle Barbosa, está entre os principais fatores que fazem veganos e vegetarianos voltarem a incluir a proteína animal em sua rotina alimentar. “Quem vive em um ambiente de pessoas que consomem muita carne tem tendência a voltar por não aguentar a pressão”, explica.
Má alimentação
Outro fator considerado determinante é a dificuldade em adaptar uma alimentação sem a proteína e que não falhe com os nutrientes necessários para o corpo. Alguns especialistas ainda apontam a necessidade de um ‘esforço extra’ para suprir vitaminas presentes em alimentos de origem animal.
“Além da preocupação com a proteína, ferro e zinco, a grande preocupação dos grupos que seguem esse estilo de vida é em relação ao consumo ideal de vitaminas como B12 e D, além de minerais como cálcio e cobre, que são conhecidos por estarem presentes em alimentos de origem animal”, explica a nutricionista Simone Rocha Santos, da SM Nutrição.
A advogada Amanda Magalhães, por exemplo, está passando por uma recente reintrodução da proteína animal em seu cardápio. Ela decidiu voltar a comer carne porque queria se dedicar a uma alimentação mais saudável, “com opções que sejam de fácil acesso à mim e aos lugares que costumo frequentar”.
A tarefa, no entanto, não é simples. O veganismo e vegetarianismo não são considerados dietas, mas estilos de vida que levam em conta fatores que vão além da alimentação, como uma mudança de hábitos e consumos do dia a dia, motivados pela proteção animal, do meio ambiente ou da própria saúde.
Pressão social
Essas pessoas precisam enfrentar pressão de dois lados: o que come carne e o que não come. Decidir abdicar da proteína animal é uma difícil decisão, porém, voltar atrás é ainda mais. Aqueles que passam por esse processo relatam uma “batalha interna”, entre o medo de ser julgado e de colocar em risco a própria ideologia.
“Foi uma decisão difícil para mim. Tinha orgulho disso e me sentia bem por fazer isso, principalmente por ser um hábito que a maioria das pessoas não consegue seguir”, declarou Amanda.
Entre as fontes ouvidas pelo Metrópoles, algumas relatam existir um certo “preconceito” entre esse grupos.
“Tem o vegano que não come nada de origem animal e não usa nada testado em animal… Como se fosse o ‘topo da cadeia’; tem o que só não come nada de origem animal; ‘abaixo’ disso, tem o que não come carne, mas consume ovos e laticínios. E por aí vai… E eu tenho certeza que o grupo abrangente discrimina, de alguma forma, o menos abrangente”, relata um personagem, que preferiu não ser identificado.
A estudante Emanoela Bárbara Soares, de 23 anos, também relata que voltou a comer carne por uma orientação nutricional: “Eu estava praticando muita atividade física e acabei perdendo muito peso no período que fiquei sem comer carne”.
Do outro lado da moeda, quando voltou a comer carne, ela conta que virou motivo de “piada”. As brincadeirinhas de mau gosto, no entanto, não partiam de vegetarianos ou veganos, mas de seus familiares que sempre consumiram carne.
“As pessoas falavam comigo como se eu tivesse vivido um surto e finalmente acordado dele”, desabafa.
Eu falhei?
Devido a essas cobranças, a sensação de falhar e a culpa por estar “desistindo” acabam cercando aqueles que decidem mudar os hábitos. “A culpa vem quando avaliamos que não deveríamos fazer ou ter feito determinada coisa. Mas, qual seria a causa por trás das escolhas que te desagradam?”, questiona Lara Umbelina, psicóloga da Clínica Renoir.
Especialista em alimentação, Lara indica a necessidade de entender se essa cobrança vem de si mesmo ou de um grupo específico: “Avalie e observe o que é possível fazer, sem ser pressionado por padrões.”
“Olhe os alimentos como possibilidades e não obrigações (nem para comer, nem para proibir) e torne sua vida mais coerente com seus propósitos”, orienta.
Lara ainda relembra que a decisão de voltar a comer carne não põe em cheque suas crenças. “Nem sempre as ideias são tão simples de serem praticadas. Nossa “palavra” é uma construção que pode acontecer aos poucos”, alerta.
É exatamente isso que Amanda Magalhães defende quando optou pelo consumo da proteína animal em prol de sua saúde: “Eu ainda acredito nos motivos que me fizeram parar de comer carne em 2016, agora, eu só não consigo me dedicar tanto a isso, mas isso não muda o que defendo.”
Autoconhecimento
A psicóloga Danielle Barbosa recomenda que, ao tomar importantes decisões como essas, as pessoas busquem um acompanhamento psicológico para entender suas escolhas e motivações, para que o processo aconteça de forma saudável — tanto para o seu corpo, quanto para sua mente.
“Minha dica é buscar encontrar o autoconhecimento e se desvincular de crenças que geram sofrimentos. É necessário aprender a respeitar as escolhas de vida, sem um terceiro ter que apontar se está certo ou errado”, recomenda.
Junto ao atendimento psicológico, é importante ter ajuda de um profissional ao fazer drásticas mudanças em sua rotina alimentar. Portanto, busque por acompanhamento nutricional para alinhar uma dieta que atenda às suas necessidades e não cause algum tipo de trauma à saúde.
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