Empatia: veja fantasias para você não usar neste Halloween
Polêmicas recentes em Brasília levantam debate sobre limites ao escolher o traje
atualizado
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Recentemente, duas situações em Brasília causaram revolta devido a escolhas indevidas de fantasias. Na mais recente delas, uma pessoa foi vista usando um traje de Ku Klux Klan em uma academia no Distrito Federal. A roupa remete a um grupo supremacista branco dos Estados Unidos. Em outra, o tema eleito foi baile funk. Carregada de estereótipos, a festa gerou indignação nas redes. Os casos não são isolados e, em época de Halloween, tendem a se multiplicar.
Para a mestre e doutoranda em Direitos Humanos e Cidadania pela Universidade de Brasília (UnB) Maíra de Deus Brito, fantasias de cunho étnico ou que remetem a culturas específicas não são “homenagem”, como alguns grupos defendem.
“São racistas. Não há outro termo para classificar tal situação”, pondera.
“Tenho dúvidas sobre o desconhecimento da violência e do racismo empregados pela Ku Klux Klan [grupo que acredita na superioridade branca] ou do quão racista é imaginar que o universo do funk possa ser resumido a armas, confrontos e pobreza”, declara.
Uma “simples” vestimenta de índia, por exemplo, vem carregada de preconceitos, como a hipersexualização da mulher indígena. “Os indígenas só são lembrados quando convém. Essa é uma parte da população brasileira que sofreu, e sofre, genocídio histórico. Até hoje eles são vítimas de crimes de ódio. Então, é muito perverso lembrar apenas em festas e esquecer todos os ataques que eles vêm sofrendo – física ou simbolicamente”, avalia.
É desrespeitoso usar símbolos como o cocar, que significa resistência, fora de contexto. “Muito disso se aplica a outros grupos, como chineses, japoneses e ciganos”, complementa.
Minorias políticas não numéricas, como negros e mulheres, são frequentemente alvo de ‘lembranças’ desse tipo e corriqueiramente tratadas com deboche nessas recordações
Maíra de Deus Brito
Então, qual o limite? Para ela, um questionamento importante a se fazer é se alguém ficaria ofendido ao ver determinada roupa sendo usada como fantasia. Produções que remetem à religião, por exemplo, devem ser abolidas.
“Se apenas uma pessoa se sentir desconfortável, o motivo é mais do que suficiente para não repetir a roupa. Mais uma coisa necessária: ouvir da pessoa o porquê aquela roupa a incomoda. Não há como saber a dor do outro, mas é fundamental que se respeite aquele incômodo e que não aconteça uma repetição”, pondera.
“A fantasia e o baile funk são racistas e há quem retruque tal afirmação dizendo que é ‘mimimi’ ou que ‘agora tudo é racismo’. Enquanto houver uma pessoa incomodada com a forma erotizada com a qual o corpo dela é tratado ou se existirem menções a grupos de ódio (atuantes no presente ou no passado) haverá racismo – assim como também haverá a luta antirracista”, conclui.