Do Paraná ao Paranoá. Conheça Moro, o cão justiceiro do DF
Servidores no Fórum da cidade adotaram o cão e o batizaram em homenagem ao juiz Sérgio Moro. Bichinho tem até crachá e ajuda na vigilância
atualizado
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Moro ladra, mas não morde. É dócil, meio babão e tem olhos bondosos, porém, não se engane: ele tem faro treinado para reconhecer o perigo. A casa de Moro brasiliense fica bem longe de Curitiba, onde são tomadas as principais decisões da Operação Lava Jato.
Ele vive no Fórum do Paranoá (não confundir com Paraná), a 20km do Plano Piloto. O cachorrinho vira-lata foi adotado por funcionários do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) e batizado em homenagem ao juiz mais polêmico do Brasil, Sérgio Moro.
Em setembro de 2016, enquanto o Moro de toga aceitava denúncia de corrupção contra Lula no caso do triplex no Guarujá, o cachorro Moro chegava ao Fórum do Paranoá. Ele foi abandonado, estava doente e começou a frequentar o local em busca de comida e afeto.
Fiz um carinho e ele nunca mais foi embora. Me seguiu por três dias, até que notei que veio para ficar
Gabriel Dantas, lembra o chefe da segurança do fórum
Um dos seguranças — ninguém sabe dizer qual — começou a chamar o cãozinho de Moro. Outros servidores tentaram batizá-lo como Fred e Scooby, mas o cachorro quis ser xará do magistrado, só respondia quando o chamavam de Moro. “As pessoas que trabalham aqui, em geral, têm muito orgulho de como o juiz Sérgio Moro se destaca. Foi uma homenagem a ele”, explica Gabriel Dantas.
Nem todo mundo gostou do nome, como era de se esperar, já que Sérgio Moro é amado e também odiado. “Já me pediram até para mudar o nome, mas foi o cachorro que escolheu, só olha se o chamarmos assim. Acho que a maior parte da população admira o juiz, então ficou assim mesmo”, diz a servidora Ana Valéria Barros, a principal cuidadora do cão, ao lado de Gabriel Dantas.Os servidores do Fórum adotaram Moro com muito amor e dedicação. Ana Valéria é protetora de animais e já resgatou mais de 100 bichos das ruas. Ela criou um grupo para dividir os custos de tê-lo ali. O TJDFT não gasta um centavo com a presença do bichinho, que não incomoda ninguém. A ração — de primeira qualidade, pois o paladar do cão é exigente –, banhos, remédios, exames, castração, tudo saiu do bolso dos funcionários públicos.
Durante o dia, Moro fica em uma área cercada, num jardim que tem até um pequeno pomar. Ana Valéria, que é arquiteta, construiu uma casa para ele. “Quando ele chegou, vivia numa ‘favelinha”, uma casinha pequena e improvisada. Hoje tem um palácio”, brinca Ana.
À noite, ele corre solto pelo Fórum e “trabalha” nas rondas de segurança. Já ajudou, inclusive, a prender um ladrão. “Moro vivia latindo para um carro que parava aqui na frente quase toda noite. Ele ficava muito agitado, então, decidimos checar a placa. A polícia descobriu que era um veículo roubado. Quando apareceu aqui de novo, o bandido acabou preso”, relata Gabriel.
Moro recebeu um crachá pelos bons serviços prestados. Tem até foto na sua identificação. “É meu melhor funcionário: está sempre bem-disposto, de bom humor, nunca dá atestado e não reclama de nada”, diz o chefe da segurança do Fórum, em tom de brincadeira. O cão tinha uma roupa para protegê-lo do frio na qual se lia “segurança”, mas, guloso, comeu a vestimenta. Também já mastigou um pedaço do seu crachá.
A presença do cachorrinho é motivo de alegria no Fórum. Servidores passaram a andar com biscoitos caninos no bolso para conquistá-lo. “O ambiente em um Fórum é pesado. Tê-lo aqui é terapêutico, as pessoas vão lá fazem carinho, brincam com ele. Foi o Moro que nos resgatou e não o contrário”, diz Gabriel.
Os aposentos de Moro ficam ao lado da sala do júri. Vez ou outra, ele pula a janela para acompanhar um julgamento. “Todo mundo gosta dele, então ninguém reclama”, afirma Ana. Os dias de preocupação de Moro acabaram, agora ele é unanimidade.