“Desistência silenciosa”: fazer o mínimo no trabalho virou tendência?
O termo apareceu pela primeira vez no TikTok. Pessoas relatam melhora da saúde mental após colocar limites no trabalho
atualizado
Compartilhar notícia
Zaid Khan, um engenheiro de 24 anos de Nova York, Estados Unidos, não criou o termo “desistência silenciosa”. Porém, é dele o crédito pela popularização da expressão. Após divulgar um vídeo no TikTok contando sobre sua nova forma de agir no trabalho, a discussão ganhou fôlego e reacendeu os debates sobre saúde mental no trabalho.
A expressão em inglês é quiet quitting. Em tradução livre, seria algo como “demissão silenciosa”. Mas, segundo Zaid Khan, não é sobre desistir e, sim, sobre colocar limites.
“Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não está mais seguindo a mentalidade da cultura de que o trabalho deve ser sua vida. Seu valor como pessoa não é definido pelo seu trabalho”, explicou.
O vídeo já ultrapassou a marca de 3 milhões de visualizações e o nível de engajamento levou os jornais The Wall Street Journal e o The Guardian a tratar do tema com reportagens especiais extensas. A tônica dos textos gira em torno da nova mentalidade em voga: é preciso colocar limites para ter qualidade de vida.
Vida além do trabalho
Quem reforça essa ideia é a especialista em carreiras Juliana Guimarães. Para ela, a era do emprego enquanto sinônimo de status social acabou. “Percebemos a busca pelo equilíbrio entre os momentos produtivos, de desenvolvimento social e pessoal e momentos em família”, pondera.
A cultura da produtividade, que estimula os funcionários a trabalhar além do horário e estar atento às demandas no celular, por exemplo, pode contribuir para problemas de saúde mental. Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki Saúde Mental, explica que o excesso de trabalho “pode se traduzir em uma percepção de estresse crônico, culminando em uma síndrome de esgotamento – a síndrome de burnout”.
Esse fato pode explicar o aumento das demissões, por exemplo. Apenas entre janeiro e maio de 2022, o número subiu 32,5% em relação ao mesmo período de 2021. Segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Previdência, 2,9 milhões de profissionais deixaram seus empregos voluntariamente.
“Precisamos nos reconectar com o significado de trabalho que também envolve satisfação psicossocial. Não somos definidos apenas por nossa formação, pelas nossas profissões ou por nossas entregas profissionais. O mundo mudou e o conceito de sucesso também evoluiu”, defende Juliana Guimarães.
Outro lado da discussão
Apesar da desistência silenciosa colocar na pauta a melhoria da relação com o trabalho, Leonardo Rodrigues da Cruz alerta que a dinâmica é mais complexa. Segundo o psiquiatra especialista em saúde mental, a pergunta a se fazer é: “trata-se de uma resposta passivo-agressiva dentro de um esgotamento emocional ou de maturidade para colocar limites e respeitar-se?”.
Ele defende que a saída é impor limites e estabelecer uma boa relação com os empregadores.
“Em geral, o reequilíbrio do trabalhador passa pelo desenvolvimento de estratégias para lidar com as demandas de trabalho, melhorias no estilo de vida e intervenções no ambiente/instituição que gerou desgaste”.