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“Desistência silenciosa”: fazer o mínimo no trabalho virou tendência?

O termo apareceu pela primeira vez no TikTok. Pessoas relatam melhora da saúde mental após colocar limites no trabalho

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Mulher jovem e branca, com cabelo liso curto, sentada em uma mesa de madeira e trabalhando. Ela usa uma camisa jeans e tem um computador na sua frente
1 de 1 Mulher jovem e branca, com cabelo liso curto, sentada em uma mesa de madeira e trabalhando. Ela usa uma camisa jeans e tem um computador na sua frente - Foto: Getty Images

Zaid Khan, um engenheiro de 24 anos de Nova York, Estados Unidos, não criou o termo “desistência silenciosa”. Porém, é dele o crédito pela popularização da expressão. Após divulgar um vídeo no TikTok contando sobre sua nova forma de agir no trabalho, a discussão ganhou fôlego e reacendeu os debates sobre saúde mental no trabalho.

A expressão em inglês é quiet quitting. Em tradução livre, seria algo como “demissão silenciosa”. Mas, segundo Zaid Khan, não é sobre desistir e, sim, sobre colocar limites.

“Você ainda está cumprindo seus deveres, mas não está mais seguindo a mentalidade da cultura de que o trabalho deve ser sua vida. Seu valor como pessoa não é definido pelo seu trabalho”, explicou. 

O vídeo já ultrapassou a marca de 3 milhões de visualizações e o nível de engajamento levou os jornais The Wall Street Journal e o The Guardian a tratar do tema com reportagens especiais extensas. A tônica dos textos gira em torno da nova mentalidade em voga: é preciso colocar limites para ter qualidade de vida.

Vida além do trabalho

Quem reforça essa ideia é a especialista em carreiras Juliana Guimarães. Para ela, a era do emprego enquanto sinônimo de status social acabou. “Percebemos a busca pelo equilíbrio entre os momentos produtivos, de desenvolvimento social e pessoal e momentos em família”, pondera. 

A cultura da produtividade, que estimula os funcionários a trabalhar além do horário e estar atento às demandas no celular, por exemplo, pode contribuir para problemas de saúde mental. Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki Saúde Mental, explica que o excesso de trabalho “pode se traduzir em uma percepção de estresse crônico, culminando em uma síndrome de esgotamento – a síndrome de burnout”. 

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A condição ocorre quando o paciente é exposto à situação tensas por longa duração de tempo. Com isso, o organismo libera níveis mais altos dos hormônios do estresse, como o cortisol, adrenalina, epinefrina e a norepinefrina. Essas substâncias são importantes para superar situações difíceis a curto prazo, mas o excesso delas trabalha contra o próprio corpo
Segundo especialistas, o profissional mais propenso a desenvolver o burnout é aquele que só entrega o trabalho quando sente que deu 100% de si, que leva trabalho pra casa e que está conectado quase 24h por dia
A síndrome, que foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, se não tratada pode evoluir para doenças físicas, como doença coronariana, hipertensão, problemas gastrointestinais, depressão profunda e alcoolismo
De acordo com a entidade, ele pode se manifestar das seguintes maneiras: como uma sensação de exaustão ou falta de energia; com sentimentos de negativismo, cinismo ou distância em relação ao trabalho e/ou como uma sensação de ineficácia e falta de realização
Entre os sintomas físicos estão: exaustão física e fadiga, dores de cabeça e no estômago, distúrbios do sono, que podem se manifestar com insônia e pesadelos e mudanças de hábitos alimentares, por exemplo
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Burnout é uma síndrome psíquica de caráter depressivo cujos sintomas são parecidos com os da ansiedade, do estresse e da síndrome do pânico. No entanto, nesse caso, o diagnóstico está associado à vida profissional do paciente

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A condição ocorre quando o paciente é exposto à situação tensas por longa duração de tempo. Com isso, o organismo libera níveis mais altos dos hormônios do estresse, como o cortisol, adrenalina, epinefrina e a norepinefrina. Essas substâncias são importantes para superar situações difíceis a curto prazo, mas o excesso delas trabalha contra o próprio corpo

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Segundo especialistas, o profissional mais propenso a desenvolver o burnout é aquele que só entrega o trabalho quando sente que deu 100% de si, que leva trabalho pra casa e que está conectado quase 24h por dia

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A síndrome, que foi incluída na Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, se não tratada pode evoluir para doenças físicas, como doença coronariana, hipertensão, problemas gastrointestinais, depressão profunda e alcoolismo

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De acordo com a entidade, ele pode se manifestar das seguintes maneiras: como uma sensação de exaustão ou falta de energia; com sentimentos de negativismo, cinismo ou distância em relação ao trabalho e/ou como uma sensação de ineficácia e falta de realização

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Entre os sintomas físicos estão: exaustão física e fadiga, dores de cabeça e no estômago, distúrbios do sono, que podem se manifestar com insônia e pesadelos e mudanças de hábitos alimentares, por exemplo

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Pessoas afetadas podem comer mais do que o habitual, recorrendo a alimentos como uma forma de conforto. Ou passar a comer menos, uma vez que os hormônios do estresse afetam o apetite

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De acordo com especialistas, para diminuir a sensação de cansaço extremo, é importante que os espaços fora do ambiente de trabalho sejam vividos sem a interferência dos assuntos do serviço. Além disso, é importante que o trabalhador saiba dizer “não”, quando for necessário, e mantenha-se atento a situações que possam se tornar gatilhos emocionais

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Especialista salientam ainda que é essencial ficar atento aos sinais e procurar ajuda de um profissional quando sentir um ou mais sintomas que possam indicar a presença do esgotamento. Com acompanhamento especializado é possível garantir que a situação seja controlada

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Esse fato pode explicar o aumento das demissões, por exemplo. Apenas entre janeiro e maio de 2022, o número subiu 32,5% em relação ao mesmo período de 2021. Segundo pesquisa da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), com base nos números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho e Previdência, 2,9 milhões de profissionais deixaram seus empregos voluntariamente.

“Precisamos nos reconectar com o significado de trabalho que também envolve satisfação psicossocial. Não somos definidos apenas por nossa formação, pelas nossas profissões ou por nossas entregas profissionais. O mundo mudou e o conceito de sucesso também evoluiu”, defende Juliana Guimarães.

Pessoas passeando, tomando sol e lendo às margens do Rio Siena, em Paris, na França. É um dia de verão ensolarado
Qualidade de vida tem sido um fator de peso na rotina das pessoas. O trabalho não ocupa mais a primeira posição de importância

 

Mulher negra de pele clara, com cabelo cacheado curto, sentada em um sofá bege. Ela usa uma camiseta preta, calça jeans e um relógio smart. Ela está lendo um livro
“Equilibrar as várias áreas da vida em uma rotina saudável é um dos desafios modernos”, comenta o psiquiatra Leonardo Rodrigues da Cruz, do Instituto Meraki Saúde Mental
Outro lado da discussão

Apesar da desistência silenciosa colocar na pauta a melhoria da relação com o trabalho, Leonardo Rodrigues da Cruz alerta que a dinâmica é mais complexa. Segundo o psiquiatra especialista em saúde mental, a pergunta a se fazer é: “trata-se de uma resposta passivo-agressiva dentro de um esgotamento emocional ou de maturidade para colocar limites e respeitar-se?”.

Homem e mulher, ambos brancos e adultos jovens, discutindo em uma sala no ambiente de trabalho
Os limites no ambiente de trabalho são importantes para as relações e até para a possibilidade de se desenvolver na empresa

Ele defende que a saída é impor limites e estabelecer uma boa relação com os empregadores.

“Em geral, o reequilíbrio do trabalhador passa pelo desenvolvimento de estratégias para lidar com as demandas de trabalho, melhorias no estilo de vida e intervenções no ambiente/instituição que gerou desgaste”. 

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