Desenganadas, gêmeas contam agora uma linda história de superação
Prematuras, Sofia e Clarice enfrentaram muitos procedimentos médicos, internações, mas estão perto de comemorar um aninho de vida
atualizado
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Reza uma lenda japonesa que, se uma pessoa dobrar mil aves de papel – chamadas de tsuru –, um desejo é realizado. A tradição oriental, símbolo da saúde, foi a maneira encontrada pela família de Isabel Waga, 33 anos, para lidar com os obstáculos enfrentados pela bióloga durante a gravidez das gêmeas Sofia e Clarice. Os mil origamis feitos por familiares e amigos se transformaram em milhões e, hoje, colorem a vida das bebês.
As dobraduras estão espalhadas por todos os cômodos. No quarto das meninas, os tsurus viraram móbiles, e na pele da avó, madrinha e papai, tatuagem.
Com menos de cinco meses de gestação, Isabel sentiu dores fortes, perdeu o tampão mucoso – sinal que a mãe já está em trabalho de parto –, e o colo do útero reduziu drasticamente de tamanho. Como a gravidez já estava avançada, os médicos não conseguiram fazer a cerclagem, método em que o profissional “costura” o colo do útero.
A obstetra, então, indicou a colocação de um pessário, dispositivo de silicone ou de borracha que é inserido na vagina para a prevenção do parto prematuro. Após o procedimento, Isabel voltou para casa. No dia seguinte, outro susto: a bolsa havia estourado.
Novamente, a bióloga precisou ser internada. Ela ficou deitada em uma cama de hospital com medicação na veia até a 24ª semana de gravidez, quando subitamente entrou em trabalho de parto.
Clarice foi a primeira a nascer, pesando apenas 680g. A irmã veio 30 minutos depois, com 720g. Mas já não era mais possível fazer outro parto normal. Isabel teve descolamento de placenta e os médicos tiveram que realizar uma cesárea para o segundo parto ocorrer.
A maternidade não veio para mim de uma forma fácil. Quando vi minhas filhas pela primeira vez tive sentimentos confusos. Nunca tinha visto bebês tão pequenos. Senti muito medo. Medo de perdê-las, medo das sequelas, medo do que iríamos enfrentar. Demorei dias para ter coragem de tocá-las
Isabel Waga
Durante 99 dias, Bel (como é carinhosamente chamada pela família) e o marido, Felipe Gawsyszewsky, 36, viveram dias de incertezas com as filhas na UTI. As meninas passaram por inúmeros procedimentos e tiveram diversas complicações médicas. Elas ficaram mais de 40 dias entubadas, fizeram mais de 10 transfusões de sangue (cada uma), tiveram infecções graves e pneumonia. Sofia ainda precisou passar por duas cirurgias.
A mãe conta que, nesses três meses de apreensão no Hospital Santa Luzia, teve um curso “forçado” de medicina. Os termos técnicos que, antes da gravidez não faziam sentido para Isabel, atualmente estão incorporadas ao seu vocabulário.“Ainda grávida no hospital, uma obstetra me falou sobre um estudo que dizia que a vivência em uma UTI neonatal causa estresse semelhante ao de uma guerra. Não duvido!”
Em casa, a rotina com as duas crianças prematuras também reservou outros sustos ao casal. Com apenas duas semanas longe do ambiente hospitalar, as bebês tiveram apneias e foram novamente internadas. Dessa vez, as meninas ficaram em hospitais diferentes. Levada pelo Samu para o Santa Helena, a pequena Sofia teve que encarar uma estadia mais prolongada que a irmã nas unidades de saúde. Os médicos diagnosticaram que ela estava com o vírus H1N1.
Com o tempo, as surpresas diminuíram e, hoje, prestes a completar o primeiro ano de vida, as pequenas encantam a família e os papais com seus desenvolvimentos. Os desafios, no entanto, ainda são muitos.
As meninas têm uma agenda cheia. São acompanhadas por pediatra, neurologista, otorrinolaringologista, oftalmologista, fisioterapeuta e terapeuta ocupacional. Sofia ainda requer um pouco mais de atenção. Por causa do grande volume de antibióticos, desenvolveu uma surdez profunda.
Para compartilhar os desafios encontrados desde a gravidez, Isabel divulga em sua conta no Instagram fotos com os progressos das filhas. Ela também faz parte de um grupo de mães que tiveram filhos prematuros no Hospital Santa Luzia e se uniram durante o período de luta na unidade.
Gostava da sala de ordenha. Era lá que todas as mães se encontravam. Cada uma dividia suas dores e vitórias. Já que não podia amamentar e nem pegar minhas filhas no colo, tirar leite fazia com que eu me sentisse mais mãe
,recordou Isabel
Em 17 de dezembro, papais, avós, madrinhas, tios, tias e amigos vão celebrar os primeiros 365 dias de vida da Clarice e da Sofia. O pássaro tsuru, símbolo da luta da família, será o tema da festinha que celebrará a esperança e a saúde das irmãs, cada vez mais prontas para bater asas rumo a merecida felicidade.