Desafio virtual da “Baleia Azul” incentiva o suicídio de adolescentes
O jogo, que chegou ao Brasil, teria levado mais de 130 adolescentes na Rússia a tirarem a própria vida. Pais devem ficar alertas
atualizado
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Um jogo bizarro e perigoso, aparentemente iniciado na Rússia, tem cativado crianças e adolescentes na internet. O alerta foi feito no Facebook na última quinta-feira (6/4) pelo moderador de um grupo chamado “Baleia”, voltado para o empoderamento de pessoas gordas.
Ele começa o texto falando que, estranhamente, o número de pedidos para entrar no grupo mais que quadruplicou nos últimos dias, a maior parte vindo de meninas com não mais do que 16 anos.
Uma rápida volta no Google foi suficiente para decodificar a angústia da adolescente. Aparentemente, há um jogo iniciado em redes sociais e comunidades virtuais na Rússia chamado “Baleia Azul”, em que “moderadores” ou “curadores” listam aos participantes uma série de tarefas às quais eles precisam se submeter cegamente, sob pena de serem expostos na rede.
As missões chocam. Dia a dia, os participantes devem fazer coisas como “se pendurar em um telhado por 22 minutos”, “assistir a filmes de terror durante 24 horas”, “se cortar com uma navalha”, “cortar os lábios” e até “se jogar de um prédio”. Sim, a tarefa derradeira do jogo seria o suicídio.
A polícia russa acredita que o jogo levou três garotas à morte apenas em fevereiro deste ano e pode também ser a causa de outros 130 suicídios de adolescentes entre novembro de 2015 e abril do ano passado.
Segundo uma matéria do iG sobre o caso, as amigas Yulia Konstantinova, de 15 anos, e Veronika Volkova, 16, morreram no final do mês passado ao se jogarem de um prédio de 14 andares na cidade de Ust-Ilmsk. A última mensagem delas no Facebook foi “fim”, em alusão ao término do jogo.
Na mesma semana, uma menina de 14 anos teria se jogado na frente de um trem e outra, de 15, ficou gravemente ferida ao se jogar de um prédio e ter a queda amortecida pela neve.
A polícia russa abriu três investigações por incitação ao suicídio. Os responsáveis pelo jogo seriam jovens adultos que “convencem” os participantes a entrarem no “desafio” com músicas que dizem coisas como “quantos dias nulos você vai passar como esse?”.
Pertencimento e alerta
A chegada do tal jogo mortal ao Brasil já dá sinais há alguns dias. No YouTube, por exemplo, jovens com milhares de seguidores fazem vlogs (diários em vídeo) dizendo que aderiram ao jogo e incentivando seus fãs a fazerem o mesmo. Um deles chega a dizer que tem “10% de chance de sobreviver” em uma das transmissões. Algumas chegam a ter quase 400 mil visualizações.
Para a psicóloga Stéphanie Sabarense, especializada em terapia cognitivo-comportamental e com experiência em depressão e suicídio de adolescentes, não é possível apontar um único fator que explique a aderência cega desses jovens à tal “brincadeira”. Muito menos pode-se dizer que eles já possuíam tendências suicidas antes do encontro com o Baleia Azul.
“Não acho que seja a busca do suicídio propriamente dito”, sublinha. “Tem a ver com a procura por adrenalina, pelo proibido, que é própria do adolescente”, diz. A necessidade de autoafirmação, de diferenciação da família e de pertencer a um grupo – qualquer que seja – também podem estar relacionadas às aparentes “filas de espera” que essas comunidades têm para novos participantes.
“Essa fase é de transição. Se ela acontece de maneira tranquila – com o adolescente andando em grupinhos e não mais com a família, querendo se encontrar -, normal. Quando ele não se encaixa em grupo nenhum, ele começa a procurar essas coisas para sentir que faz parte de algo”.
Para a especialista, é importante que os pais tenham sempre controle do que crianças e adolescentes fazem na internet, além de atenção total à rotina do filho, se ele tem chegado em horários diferentes ou tem andado com grupos diferentes, por exemplo.
Stéphanie afirma que os pais devem manter contato próximo com o adolescente. Além disso, recomenda uma conversa honesta com os filhos antes que se deparem com o desafio. “Hoje, as pessoas são muito ocupadas e deixam a educação dos filhos com a escola ou com psicólogos e não têm participação ativa na vida deles”, diz.