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Crianças e tablets: uma relação que pode comprometer a visão

Excesso de tecnologia pode acelerar o processo de miopia e aumentar casos de estrabismo

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Cute brother and sister enjoying tablet at home
1 de 1 Cute brother and sister enjoying tablet at home - Foto: iStock

Quem tem menos de 25 anos já nasceu na era tecnológica. As crianças de hoje em dia, então, têm bastante facilidade em lidar com smartphones e tablets. Bastante antenados, muitos pais estimulam esse contato com as novas tecnologias como forma de inserir seus filhos num universo competitivo. De fato, é cada vez mais comum, nas grandes cidades, vermos crianças atentas ao que está acontecendo no eletrônico em suas mãos. Mas os oftalmologistas advertem: o excesso de contato com tablets e smartphones pode acelerar um processo de miopia, porque a criança se concentra em focar tudo tão de perto que perde a capacidade de enxergar ao longe com precisão.

De acordo com o doutor Mohamed Dirani, um dos criadores do Plano – um aplicativo que monitora a atividade dos olhos enquanto a criança se entretém com tablets e telefones celulares -, 10% das crianças da Educação Primária em Singapura têm miopia. Esse número aumenta para 60% na época da Educação Secundária e para 80% quando o jovem adulto entra para o mercado de trabalho. “O diagnóstico precoce é importante, na medida em que crianças bem jovens, entre dois e quatro anos, já estão desenvolvendo miopia”.

Países asiáticos desenvolvidos têm hoje os maiores índices de miopia já registrados. Assim como em Singapura, entre 80% e 90% dos adolescentes e jovens adultos de Hong Kong e Taiwan sofrem de miopia, enquanto na Coreia do Sul esse índice é ainda mais alarmante, subindo para 97%. Há 60 anos, apenas 10%-20% dos jovens asiáticos apresentavam dificuldade de enxergar ao longe.

Assim como nos Estados Unidos e Europa, onde cerca de 40% das pessoas têm miopia hoje em dia, no Brasil o problema também vem crescendo. De acordo com o médico oftalmologista Renato Neves, diretor-presidente do Eye Care Hospital de Olhos, o acesso facilitado às novas tecnologias vem reforçando uma tendência averiguada nos últimos 15 ou 20 anos.

“A miopia entre crianças já vinha aumentando consideravelmente por uma questão de mudança de comportamento de pais e filhos. Não é de hoje que, por questões de segurança e comodidade, as crianças passam a maior parte do tempo brincando dentro de casa. Sendo assim, a televisão e depois o videogame já eram um entretenimento que limitava a visão ao que estava próximo”, fala o médico.

“Nos últimos anos, como ficou mais fácil o acesso a dispositivos eletrônicos (notebooks, tablets e aparelhos celulares inteligentes), o aumento da miopia passou a ser sentido com mais frequência. Mas não só isso. O uso prolongado de tablets e smartphones também tem mostrado aumento na incidência de casos de estrabismo – que consiste no desvio dos olhos e cuja correção pode ser cirúrgica”, diz Neves.

Com relação à miopia, o médico explica que a dificuldade de enxergar o que está distante pode impactar significativamente o desempenho escolar de uma criança, já que ela terá dificuldade para acompanhar o que o professor escreve no quadro negro se não estiver nas primeiras fileiras. “Algumas crianças com baixo desempenho escolar, inclusive, que foram diagnosticadas com miopia e passaram a usar óculos, mudaram completamente seu comportamento em relação aos estudos, se mostrando muito mais interessadas”. Diante do aumento da incidência de miopia, Neves recomenda que seja feito um acompanhamento desde cedo com um oftalmologista.

“Embora os bebês não possam cooperar, um exame oftalmológico é necessário por volta dos seis meses de idade. Neste caso, a retinoscopia é usada para diagnosticar erros de refração, como hipermetropia, miopia e ambliopia (síndrome do olhinho preguiçoso). Depois, por volta dos três aos cinco anos de idade, a criança já pode ser examinada dentro dos padrões convencionais – que vão confirmar ou não o que já se sabia sobre a visão daquele paciente”, explica Neves.

“A próxima consulta deve acontecer assim que a criança começa o processo de alfabetização, para justamente oferecer tratamento em caso de alguma necessidade apresentada em sala de aula. Depois disso, a cada três anos vale a pena fazer um exame clínico, intensificando as consultas com o oftalmologista no Ensino Médio, quando o preparo para o vestibular pode impactar significativamente a acuidade visual”, complementa Neves.

O oftalmologista afirma que, nos primeiros anos de vida, a correção da miopia é realizada através de óculos – lembrando que o uso de lentes de grau não impede a progressão do problema, que deve ser reavaliado periodicamente. Quando a criança atinge a adolescência é possível migrar dos óculos para as lentes de contato – embora isto dependa do senso de responsabilidade que a criança tem em relação aos cuidados que as lentes necessitam.

Para alguns jovens, os óculos continuam sendo a opção de tratamento mais prática, já que exige baixa manutenção. Ao atingir a idade adulta, depois dos 18 anos, a cirurgia refrativa surge como opção para quem quer se livrar de óculos e lentes de contato. Com uso do laser, a córnea é remodelada para fazer com que a luz seja focada na retina. “A maioria das pessoas com miopia não têm complicações mais graves. Mas cerca de 10% desses pacientes apresentam ‘alta miopia’. Neste caso, eles têm de ser devidamente acompanhados ao longo da vida, porque existe um risco considerável de desenvolverem outras doenças oculares, como glaucoma, catarata, degeneração macular e descolamento da retina”.

Para quem está preocupado com o que aumenta as chances de uma criança ter miopia, Renato Neves adverte: “É fundamental brincar ao ar livre, passar um tempo olhando ao longe e recebendo luz natural. Até mesmo crianças que passam muito tempo dentro de casa ou da escola devem ser estimuladas a parar, de vez em quando, e focar objetos distantes. Além disso, os pais devem estar bastante atentos a quantas horas por dia a criança passa lidando com tablets e smartphones. Afinal, para focar o que está bastante próximo, o globo ocular acaba sofrendo uma deformidade para melhor se adaptar e, por consequência, a criança passa a ter mais dificuldade de enxergar ao longe”.

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