Corredora do DF completa as seis maiores maratonas do mundo
“Foi uma sensação de missão cumprida sem explicação”, diz servidora pública sobre concluir seis corridas de 42 km
atualizado
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Completar uma maratona é o que muitos atletas almejam, mas este sonho requer dedicação e treinos exaustivos. Em 2009, a auditora da Receita Federal Gisele Adnet, 51 anos, decidiu começar a correr e, em novembro do ano passado, conquistou um dos prêmios máximos da categoria: a medalha da Abbott World Marathon Majors, tornando-se a primeira mulher de Brasília a completar as seis corridas da liga e uma das 3.8 mil em todo o mundo.
Eu não busco o pódio, nem o melhor tempo. Para mim, o importante é participar e completar a prova
Gisele Adnet
Gisele começou a levar os treinos de corrida a sério em 2010, aos 43 anos. No início, ela participava de corridas de 5 e 10 km, mas alguns meses depois surgiu o inusitado convite para correr a primeira maratona – 42.1 km – em Berlim, na Alemanha. O treino para atingir os 42 km levou incríveis seis meses. “Eu decidi que iria fazer a prova. Procurei um professor de educação física e me preparei”, lembra.
“O que me incentivou a correr foi a mudança no estilo de vida. Eu sabia que faria novas amizades e teria companhia para viajar em todas as maratonas. O nosso grupo é muito animado”
Depois dos primeiros 42 km concluídos, Gisele definiu um desafio e meta pessoal: correr as seis principais maratonas ao redor do mundo para ganhar a tão sonhada medalha da liga Abbott World Marathon Majors. Daí para frente, a vida da auditora se voltou para o mundo das corridas. Gisele já completou sete maratonas (42.1 km), uma delas na Disney, 17 meias maratonas (21.1 km) e inúmeras corridas de 10 km e 5 km.
O anseio por correr deu um novo significado às férias da auditora. Todo o período de recesso é planejado em torno das próximas corridas. As maratonas proporcionaram à atleta experiências inimagináveis, como viajar para Tóquio. Ela conseguiu aliar o amor pelas corridas com o desafio de completar novas provas.
A linha de chegada traz consigo uma bomba de emoções, endorfina e serotonina. A simples lembrança emociona a atleta. “A sensação de superação a cada maratona é indescritível. Passa um filme na cabeça na hora que você cruza a linha de chegada. Você só pensa nos três meses passados, de dedicação total com treinos intensos e, por vezes, sofridos, com chuva ou calor”, recorda emocionada, com os olhos brilhando. “Só de lembrar, já parece que eu estou vivendo tudo de novo”.
Apesar de tantas corridas de notoriedade, Gisele garante que não há uma no pódio pessoal. Cada uma traz as suas peculiaridades, com momentos de glória. A maratona de Berlim (2011) se destaca por ser a primeira; Chicago (2012), uma das mais vibrantes, com a participação do público em toda a prova; a de Tóquio (2014) por ser uma corrida decisiva para a classificação da seguinte, em Boston (2015). Esta, por sua vez, foi uma prova dificílima para a atleta, que a completou com faringite e ardendo em febre. “Eu lembro que choveu do início ao fim da prova, mas concluí com muita emoção”.
A maratona de Londres (2017) era um sonho antigo por passar pelos principais pontos turísticos da terra da rainha Elizabeth II e a de Nova York (2017) por ser a que Gisele garantiria a medalha do Abbott World Marathon Majors.
Mas até chegar a Nova York, a atleta passou por momentos de altos e baixos. Faltando 3 semanas para embarcar para os Estados Unidos, em 2016, Gisele quebrou o pé, o que a fez adiar em um ano o sonho de conquistar a medalha das seis corridas. Ela virou o pé andando na rua, de salto.
“Eu já estava preparadíssima para a prova e foi muito frustrante. Seria a minha quinta maratona; a sexta (e última para conseguir a medalha) que aconteceria em Londres”, relembra. Gisele tinha todo um imaginário sobre concluir as seis provas na terra da realeza.
Não restava outra alternativa, a não ser cancelar a inscrição e transferi-la para o ano seguinte. “Eu respeitei a orientação do ortopedista e do fisioterapeuta. Fiquei dois meses sem correr, mas quando voltei, na maratona de Londres, tive o meu melhor desempenho. Bati todos os meus recordes”, lembra.
Os 42 km de Nova York foram ainda mais emocionantes. As filhas Talitha, 26 anos, e Luana, 15, a aguardavam no ponto final. Foram duas maratonas no mesmo ano, o corpo estava exausto, mas a atleta não pensava em cansaço, na chuva que caia ou no frio do dia. Ela só queria cruzar a linha de chegada e pegar a medalha da Abbott World Marathon Majors.
“Foi uma emoção enorme e sem explicação. Sensação de superação, missão cumprida e eu só queria compartilhar com as pessoas que estavam ali me esperando. Eu peguei a medalha da prova de Nova York e segui direto para o estande onde eu pegaria a Six Majors. Quando vi o meu nome junto à medalha eu gritei: ‘É minha!’. Peguei e sai correndo para encontrar com as minhas filhas e compartilhar aquela alegria com elas”.
Próximos desafios
Agora que completou o desafio traçado em 2010, Gisele busca novas metas. A atleta garante que não correrá maratonas nos próximos meses, apenas trajetos menores, mas já tem planos para 2023: completar a ultra maratona Two Oceans, na África do Sul. “Quero completar 56 km com 56 anos!”, planeja animada. E aos 60 anos, ela pretende ter completado 60 meias maratonas.
Mudança de vida
Para começar a correr, a servidora precisou mudar todo o estilo de vida: alimentação, sono, hidratação, treinos de musculação. “Preciso estar com o corpo em forma. Para isso me preocupo com descanso, recuperação, treino de força e cardio. Nessa rotina entram massagens também”.
Muitas vezes, a programação começa às 4h30. Ela faz treinos de corrida ao menos quatro vezes por semana e de musculação três vezes. Fora isso, faz alongamento; massagem; fisioterapia, quando necessário. A rotina de treinos fica mais intensa com a aproximação das provas. Gisele chega a correr até 32 km para se preparar.
Conselho de quem entende do assunto
Gisele dá a dica para quem almeja começar a correr: procure uma assessoria, com um profissional sério, que faça o seu acompanhamento. De acordo com ela, ter uma boa alimentação é primordial, assim como respeitar o tempo de descanso e os próprios limites.
O foco não deve ser na silhueta perfeita, mas no corpo que dê leveza e força para correr
Gisele Adnet
O profissional de educação física é o responsável por montar o melhor treino para cada objetivo. A evolução, garante, será alcançada aos poucos, com trabalho de velocidade, força, aumentando o volume e a intensidade da prática.
“Não desista quando achar que está difícil. Todo mundo tem preguiça na hora de começar a correr. Eu morro de preguiça quando o despertador toca de manhã, mas não deixo ela me vencer porque o resultado é maravilhoso”