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Distrito Federal tem mais de 120 hortas comunitárias. Veja onde estão

Além de oferecer alimentos orgânicos, as plantações coletivas aproximam a comunidade e funcionam como terapia para os males da vida urbana

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JP Rodrigues/ Especial para Metropoles
Brasília (DF), 13/07/2018  – Evento: Hortas comunitárias de Brasília –  Local Sudoeste/Guará  Foto: JP Rodrigues/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 13/07/2018 – Evento: Hortas comunitárias de Brasília – Local Sudoeste/Guará Foto: JP Rodrigues/Metrópoles - Foto: JP Rodrigues/ Especial para Metropoles

Brasília foi projetada para ser uma cidade-parque. Lucio Costa pensou em cinturões de árvores que abraçassem as quadras residenciais e em criar um oásis no meio da secura do Cerrado. Mas, hoje, a capital federal ultrapassou a qualidade de parque e tornou-se algo ainda mais interessante: uma cidade-horta.

A Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri) não possui um número exato, mas estima a existência de aproximadamente 120 hortas comunitárias. Muitas estão dentro de escolas, entretanto, várias tomam os espacinhos abandonados nas quadras do Plano Piloto e das regiões administrativas. Os ambientes são criados e mantidos por moradores, que arcam com os custos e se propõem a cuidar do local em troca de alimentos orgânicos recolhidos direto do pé. Não é só manjericão, cebolinha e salsinha. São plantadas também couve, alface, ervas para chá, plantas medicinais e até árvores frutíferas.

A Lei Distrital nº 4.772/2012, assinada pelo então governador Agnelo Queiroz (PT), garante que a agricultura urbana e periurbana tenha apoio no Distrito Federal. O texto da norma explica quais são os objetivos das políticas de apoio (estimular convívio social e atividades culturais relacionadas com a produção, hábitos saudáveis de alimentação e promover utilização e limpeza de espaços públicos ociosos estão entre os fatores enumerados) e define os beneficiários prioritários, entre outras ferramentas.

Porém, ainda uma política pública mais específica para regulamentar a plantação em áreas vazias e dar apoio às hortas — o fornecimento de água e a garantia de não revogação do espaço, por exemplo, são questões importantes e não discutidas.

Apesar de quase todo mundo gostar de horta, elas não são um assunto livre de polêmica – em abril de 2018, a destruição da horta medicinal do Bloco H da 216 Norte virou notícia no Metrópoles. Depois de muita discussão com os moradores, o síndico do prédio ganhou a queda de braço e mandou pôr abaixo a plantação para implementar um novo projeto paisagístico no espaço. Até uma nota de repúdio assinada por 13 instituições (entre elas o Movimento Nossa Brasília, Conselho Comunitário da Asa Norte, Prefeitura da SQN 416, jornalistas e advogados) foi publicada.

Começou como horta e virou projeto
Movida pela vontade de criar uma horta perto de casa, a engenheira ambiental Dai Ribeiro, 36 anos, resolveu chacoalhar a vida e colocar o plano em prática. Chamou vizinhas, falou com a família e contou o desejo aos amigos. Ela queria achar um lugar onde pudesse plantar algumas espécies, nada muito grande, só para atender a demanda do dia a dia. Foi uma tia servidora pública quem deu a dica: Dai precisava falar com a administração do bairro.

A ideia inicial era encontrar um espaço na Colônia Agrícola Águas Claras, mas, após bater na porta do então responsável, André Brandão, Dai descobriu que não havia lugar livre. Porém, o administrador amou a iniciativa e disponibilizou um espaço na QE 38 do Guará. “A gente chegou aqui e estava tudo tomado pelo mato, tivemos de levantar as mangas e limpar a área. Reativamos o poço e tiramos dinheiro do nosso bolso para começar a trabalhar”, lembra.

Com um ano de vida, a Horta Comunitária do Guará é um case de sucesso. A plantação é diversificada, oferece colheitas a cada 15 dias, abastece a casa das famílias participantes e ganhou um prêmio da Secretaria de Meio Ambiente de Iniciativas Sustentáveis Urbanas. Com o dinheiro, os líderes do projeto desenvolveram um centro de aprendizado e vão ensinar sustentabilidade para duas escolas próximas.

“Queremos fazer uma incentivar sustentabilidade urbana, bem-estar e saúde. Muitas pessoas vêm aqui só pelo convívio. Tem gente que vem pegar um sol, descarregar, tomar um banho de natureza, outros trazem os filhos para ensinar como nascem as coisas. Com a modernidade e a industrialização, nós vamos perdendo a sensibilidade. Está tudo fácil no supermercado”, afirma a engenheira ambiental.

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A horta tem um pouco de tudo: desde plantas medicinais a temperos
As colheitas acontecem sempre aos sábados. É preciso fazer um cadastro para plantar e colher
As famílias se organizam e levam caixotes cheios de orgânicos
O novo investimento do grupo é um local para atender crianças que visitam e escolas participantes de um programa de sustentabilidade
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Dai Ribeiro é uma das líderes da Horta Comunitária do Guará

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A horta tem um pouco de tudo: desde plantas medicinais a temperos

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As colheitas acontecem sempre aos sábados. É preciso fazer um cadastro para plantar e colher

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As famílias se organizam e levam caixotes cheios de orgânicos

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O novo investimento do grupo é um local para atender crianças que visitam e escolas participantes de um programa de sustentabilidade

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O sistema é simples: para colher, é preciso plantar. Por isso, há um cadastro de voluntários responsáveis pelos cuidados com a horta. A colheita acontece aos sábados. Tem um pouco de tudo: repolho, cebolinha, couve, tomate, pimenta, banana, mamão, beterraba, milho, mandioca, abóbora, entre outros.

O próximo passo para manter a horta funcionando é uma campanha de financiamento coletivo, pois o dinheiro do prêmio já está no fim.

Unidos pela boa vontade
Já a Horta Comunitária do Sudoeste foi criada pela vontade de Osvaldo, um dos moradores do bairro. Ele acordou com a ideia na cabeça, achou uma área interessante, com um pezinho de tomate ainda tímido e se pôs a arar a terra. A enfermeira aposentada Ikuyo Nakamura, 74, estava nos Estados Unidos em 2015 cuidando de um neto recém-nascido quando recebeu a notícia sobre a plantação perto de sua casa brasileira.

Sem saber muito bem como funcionava, Ikuyo foi colher algumas plantas. Os responsáveis pela horta reclamaram e a chamaram para ajudar na manutenção do local. Na época, a regagem era feita por meio de um registro de água do Parque do Sudoeste. Em maio de 2016, sem aviso, a Companhia de Saneamento Ambiental de Brasília (Caesb) cortou o ponto. “Foi bem no meio do período da seca. Até tentamos contratar um carro-pipa, mas não é muito efetivo, molha tudo e a terra continua seca. Agora, a gente traz a própria água”, conta a aposentada.

O grupo já tentou pedir ao Instituto Brasília Ambiental (Ibram) que o caminhão-pipa responsável por regar os canteiros da região jogasse um pouco de água na horta, mas não conseguiu vencer a burocracia. Outra opção foi cotizar entre os participantes uma caixa d’água particular, mas a administração do parque colocou empecilhos. Por enquanto, o jeito é levar o líquido de casa. Ikuyo explica que, em um esforço de contenção de gastos, os amigos reaproveitam a água usada para lavar arroz ou verduras.

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O que Ikuyo não sabe, logo procura na internet
Hélio Mota Leite, um dos participantes da horta, leva água de casa para regar as plantas
Mesmo com as adversidades, a horta cresce devido ao carinho da comunidade que faz questão de cuidar do espaço
Basta um olhar treinado para reconhecer as variedades
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Ikuyo Nakamura é uma das líderes da Horta Comunitária do Sudoeste e está todos os dias na área molhando suas plantinhas

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O que Ikuyo não sabe, logo procura na internet

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Hélio Mota Leite, um dos participantes da horta, leva água de casa para regar as plantas

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Mesmo com as adversidades, a horta cresce devido ao carinho da comunidade que faz questão de cuidar do espaço

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Basta um olhar treinado para reconhecer as variedades

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Sem água todos os dias para molhar as hortaliças, as quais precisam de água em abundância, a horta se transformou. Há quem passe no local e reclame que tudo está feio. Todavia, um olhar treinado encontra ervas medicinais, rúcula, tomate, cajá-manga, mamão, erva-doce, capim-cidreira, chuchu. Qualquer pessoa com o desejo de participar da horta pode chegar e achar um cantinho destinado ao cultivo. Ikuyo dá a dica: a internet ensina muito. Ela mesma vive procurando informações.

Instrumento de reabilitação
O trabalho com terra e plantas não é interessante só em termos de alimentação saudável e livre de agrotóxicos, mas também como instrumento de terapia e profissionalização. Na Unidade de Internação de Planaltina, uma horta chama atenção.

Criada em 2010 pelo agente socioeducativo, geógrafo e técnico em agropecuária Hudson Correia, 43, a Fazendinha da Unidade tem cerca de 2 mil metros quadrados de plantação. “Quando passei no concurso e comecei a trabalhar aqui, percebi os jovens muito ociosos. Sugeri o projeto, então tiramos uma parte do gramado e começamos. Deu tão certo que ampliamos”, vibra.

Arquivo Pessoal

A Fazendinha tem duas estufas, sistema de irrigação com gotejamento e tecnologia de ponta. A horta  se mantém com a venda dos produtos fornecidos pela terra. Parte do lucro é usada na manutenção do projeto e o restante banca melhorias na própria unidade de internação.

Mas o objetivo principal de Hudson é ensinar o ofício aos internos. Em um ciclo de seis meses, são ensinadas técnicas agrícolas voltadas para o cultivo de hortaliças. O jovem aprende a adubar os diferentes tipo de plantio, irrigar, cuidar da planta no decorrer do ciclo, colher e até comercializar. As turmas são de oito alunos por semestre, devido à falta de servidores na supervisão das atividades.

Lar das plantinhas bebês
O Viveiro do Lago Norte, na QI 6, é referência para quem deseja começar a plantar árvores, flores ou temperos. O local, criado pela administração regional do bairro em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e ONGs, cuida das plantinhas até elas estarem fortes para serem transportadas à nova casa.

Cada pessoa pode levar as mudinhas do viveiro. A administração só pede que, em troca, sejam doados materiais para ajudar a manter o local (sementes e adubo são boas opções). No final de junho, o Viveiro do Lago Norte comemorou seu terceiro ano de existência.

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