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Censura e risco à saúde. Entenda o lado perigoso do TikTok

Sucesso entre jovens, rede social é acusada de fazer censura velada, além de ser plataforma para desafios perigosos a crianças e jovens

atualizado

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Jovem usando o celular
1 de 1 Jovem usando o celular - Foto: Getty Images

Os números são megalômanos. Com quase 750 milhões de downloads no último ano, o TikTok tornou-se a segunda rede social mais baixada em todo o mundo, atrás, apenas, do WhatsApp, de acordo com relatório da consultoria Sensor Tower. Apesar do viés divertido e popular, o app de origem chinesa se vê envolto em polêmicas. Na última semana, o site The Intercept publicou uma denúncia na qual acusa os moderadores da rede a esconderam pessoas “feias e pobres” do feed dos usuários.

A regra era ocultar publicações empobrecidas da seção Para Você, que entrega conteúdos baseados em algoritmos dos quais pouco se sabe a respeito. Denúncias semelhantes já tinham sido reportadas por outros veículos estrangeiros, como o The Guardian e Netzpolitik.

Entre os materiais censurados, estavam aqueles que mostravam “barriga de cerveja, muitas rugas e distúrbios oculares”, entre outras características consideradas de “baixa qualidade”. Favelas e campos rurais eram expressamente proibidos. Não havia, também, nenhuma política antibullying na empresa, extremamente popular entre crianças, jovens e celebridades.

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Antes mesmo que esse conteúdo se tornasse público, diversos criadores haviam manifestado insatisfação com o app, contradizendo os pilares da rede, que são “inspirar criatividade e trazer alegria”.

A jornalista Alexandra Gurgel, nome por trás do perfil Alexandrismos, foi um deles. Defensora do movimento Body Positive, ela criticou correntes gordofóbicas postadas no TikTok.

Veja:

Ao Metrópoles, a empresa alegou, via nota, que “as políticas mencionadas […] representavam uma tentativa incisiva de impedir o bullying”. A rede reconheceu que a abordagem não foi adequada ao pedir a supressão de perfis diferentes do padrão. E garante ter reavaliado a medida.

“As diretrizes publicadas pelo The Intercept não são mais usadas e já estavam fora de uso quando o The Intercept as acessou. Mas é correto que, para as transmissões ao vivo, o TikTok é particularmente cuidadoso a manter conteúdos de conotação sexual fora da plataforma”, emenda.

Desafios perigosos

Enquanto tenta manter o grande número de usuários e aderir a um modelo mais globalizado, para além dos padrões orientais, a rede também se vê vítima do próprio crescimento. Basta lançar luz sobre os desafios que colocam em risco à saúde pública (vale lembrar de casos recentes, como o Desafio do Coronavírus e o Desafio do Sal).

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Além de expor jovens a situações de vulnerabilidade, essas correntes podem trazer danos do ponto de vista psicológico.

“Segundo a Organização Pan Americana de Saúde, metade das condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, então, quanto mais ficarem expostos a fatores de risco, como violência, ambiente familiar conflituoso, pobreza, uso abusivo de álcool e outras drogas, bullying e cyberbullying, maior a chance de desenvolver problemas emocionais”, defende Melina Cury Haddad, psicóloga especialista em terapias cognitivas.

Esses desafios que os usuários do app publicam, principalmente os influencers, acabam estimulando o comportamento de muitos jovens por terem um apelo visual forte, rapidez dos vídeos e muitos seguidores. É como se eles ensinassem a construir uma imagem, um padrão de como devem ser e se comportar

Melina Cury Haddad

“Sejam no Tik Tok, sejam em outros apps, essas brincadeiras fazem parte de um padrão de uso da mídia social, especialmente entre os jovens, que passam a sentir uma pressão de manter uma presença constante nas plataformas digitais em troca de visualizações e curtidas”, complementa Vivian Wolff, coach especialista em desenvolvimento humano e mindfulness.

Para Mario Louzã, médico psiquiatra e doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, na Alemanha, o problema não é, necessariamente, o meio, mas, também, o público. Outras redes, em sua visão, operam de forma semelhante.

“O adolescente tem essa necessidade de se sentir integrado”, avalia. “Certamente, [o TikTok] causa problemas sérios em relação à autoestima”, defende.

Sobre a exclusão de pessoas gordas ou com perfis “fora do padrão”, Melina Cury Haddad é categórica: “a empresa censurou alguns usuários com esses perfis entendendo que poderiam deixá-los menos suscetíveis ao cyberbullying e assédio, mas o que ocorre é exatamente o contrário. Esse tipo de censura aumenta o preconceito social e, com isso, impacta diretamente na autoestima do usuário.”

Há coisas boas?

Vivian Wolff salienta, porém, alguns aspectos positivos do TikTok, como o espaço aberto para falar sobre temas como TDAH e ansiedade. Outra medida recente foi uma campanha de prevenção da Covid-19.

“Alguns perfis criaram áudios representando doenças com as quais estão batalhando e compartilharam suas dificuldades e sintomas com a comunidade. Essa tendência faz um contrabalanço positivo aos desafios negativos e levam conhecimentos importantes aos muitos adolescentes que talvez padeçam da condição”, pondera.

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