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Caso Marcius Melhem levanta debate sobre assédio sexual no trabalho

Brasil registra cerca de uma denúncia por dia contra assédio sexual em ambiente de trabalho. Sinais podem passar despercebidos pela vítima

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A dificuldade para denunciar assédio ou abuso sexual é sempre um grande problema para quem decide prestar queixa. Além da vergonha e do medo, as vítimas ainda têm de enfrentar o julgamento dos envolvidos no processo de denúncia e da sociedade, quando o caso vem a público. Foi o que aconteceu com as vítimas do ator e diretor Marcius Melhem.

Oito atrizes, todas insubordinadas a ele, o acusam de assédio sexual e, em alguns casos, assédio moral. Uma dessas vítimas é a atriz e humorista Dani Calabresa, que relatou diversas investidas de Marcius. Por não conseguir qualquer retorno positivo, ele teria boicotado profissionalmente a comediante, atualmente no ar no CAT BBB, no Big Brother Brasil.

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Assédio sexual no trabalho

O caso de Calabresa é muito parecido com o de quase metade das mulheres inseridas no mercado de trabalho brasileiro. De acordo com pesquisa realizada pelo LinkedIn e pela consultoria de inovação social Think Eva, cerca de 47% delas sofreram assédio sexual no trabalho e, dessas, 15% chegaram a pedir demissão devido ao desconforto sofrido.

A situação é delicada. Não bastasse a desigualdade de gênero – elas são apenas 54,4% da força de trabalho no país, contra 73,7% deles – as mulheres ainda enfrentam outro problema: ocupam menos cargos de chefia. Esse cenário se torna um ambiente perfeito para a denúncia contra esse crime ser subnotificada.

“Percebemos que em um ambiente não diverso e que não entrega uma cultura de respeito necessária, o homem se sente mais confortável para tomar atitudes que se enquadrem nesse crime, pois ele está em um cenário majoritariamente masculino em que seus colegas podem ‘entender’ suas atitudes e sua motivação”, analisa a advogada criminalista Hanna Gomes.

O assédio sexual no trabalho pode causar problemas à saúde mental da vítima e ao seu rendimento profissional

Medo x Denúncia

De acordo com a especialista, o medo é a palavra chave para a subnotificação dos casos de assédio sexual. “A vítima tem medo de perder o emprego por possuir um vínculo frágil na empresa, da represália, de ser confrontada e do poder hierárquico do assediador”, explica.

“Medo de não conseguir outro emprego, medo da difamação… Medo de fazer a denúncia e ela acabar não dando certo. Tudo isso contribui para o silenciamento da vítima”, ressalta a advogada.

Ainda que grande parte das vítimas não façam um boletim de ocorrência para investigar o crime, os números de denúncias de assédio sexual no trabalho são um grande problema para a Justiça brasileira: cerca de uma denúncia por dia é registrada no Brasil, de acordo com o Ministério Público do Trabalho.

Os dados são referentes aos meses entre janeiro e outubro de 2020 e, somente nesse período, 261 queixas haviam sido registradas. Ainda segundo o órgão, foi um aumento de 64% de denúncias desse tipo em 5 anos.

Saúde mental

Na concepção da psicóloga Patrícia Zerlottini dos Reis Barros, a vítima desse crime pode acabar desenvolvendo problemas psicológicos e de rendimento no trabalho. “Pode levá-la ao isolamento como forma de se autoproteger, o que, posteriormente, a faz ser considerada pelos próprios colegas como antissocial”, avalia.

“Além de hostilizar, inferiorizar e isolá-la do grupo, compromete sua vida pessoal, revertendo em danos à saúde mental e física”, analisa.

“Ainda acarreta na perda de satisfação no trabalho, gerando à vítima a incapacidade para o trabalho e/ou seu afastamento, desemprego, depressão, ansiedade e até mesmo o suicídio”, ressalta Zerlottini.

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É preciso tocar em mim?

“O contato físico não é essencial para caracterizar assédio sexual. Gestos, recados e todas as atitudes já citadas anteriormente também”, diz Hanna Gomes. Raramente o assédio sexual vai começar com atitudes explícitas, como explica a advogada.

“Pode começar com uma cantada, uma ‘piadinha’, um e-mail de duplo sentido, um convite para jantar ou tomar um café… Sempre de formas bem sutil”.

A especialista ainda alerta que a vítima pode demorar a perceber o que de fato está acontecendo. “Ela não entende e, a principio, acaba se culpando e procurando brechas em seu próprio comportamento que possam justificar a atitude criminosa do outro”, relata.

‘Será que eu dei abertura?’ ‘Eu também posso ter dito algo que deu a entender que havia permissão para uma investida libidinosa’… São algumas indagações da vítima a si mesma quando em situação de assédio sexual.

O que fazer?

  • Nesses casos, Patrícia e Hanna indicam que o primeiro passo é a coleta de provas: prints, áudios, e-mails, mensagens e possíveis testemunhas.
  • Faça um diário dos acontecimentos, com as datas. O registro escrito ajuda a contextualizar a violência;
  • Procure apoio emocional em pessoas de confiança;
  • Se sentir mais confortável, faça o registro da ocorrência em formato virtual;
  • A vítima também pode recorrer ao departamento de Recursos Humanos da empresa e pedir pela transferência de departamento;
  • Não hesite em denunciar, a vítima é protegida na esfera trabalhista e também na esfera civil;
  • Caso deseje denunciar a violência que sofreu, acione o 180, Central de Atendimento à Mulher;
  • Se estiver em perigo, é preciso ligar para a polícia, no número 190;
  • Se não precisar de ajuda urgente, os caminhos são Defensoria Pública, Ministério Público ou Delegacias da Mulher.

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