Brasília 60 anos: pioneiras escrevem cartas para si mesmas
Mulheres que vivem na capital federal desde a década de 1960 abrem baú de memórias e fazem confidências as suas “versões” mais jovens
atualizado
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Nada dá mais sentido à existência humana do que a memória. No dia em que Brasília completa 60 anos, o Metrópoles convida pioneiras da cidade a abrirem seus baús de recordações. Com carinho e afeto, elas relembram os primeiros dias na capital federal sob uma ótica diferente. Escrevem cartas a si mesmas, como quem volta no tempo para agradecer pela coragem de ter arriscado.
Deixar a terra natal e partir rumo ao desconhecido, mudando o curso da própria vida. Hoje, chamamos de empoderamento, ousadia, atitude. Antes, talvez, soasse como loucura. Para elas, porém, o ímpeto falou mais alto. A vontade de desbravar venceu. Ainda bem.
A quem eram em 1960, relembram o que as marcaram desde a chegada ao Planalto Central. Seis décadas que, para muitas delas, passaram em um instante. Em um resumo de toda a vida, a mensagem: Brasília é mais que ferro e concreto. O quadradinho do Distrito Federal pulsa. Fotógrafas, psicólogas, escritoras, empresárias. Com a palavra, bravas brasilienses.
Elvira Barney
A mineira Elvira Barney, de 81 anos, veio à nova capital do país, berço de sonhadores, aos 22 anos, com apenas 10 dias de casada. A mudança foi motivada pelo trabalho do marido, o arquiteto colombiano César Barney, que ajudou a erguer o sonho profético de Dom Bosco.
Aqui, além de constituir família, Elvira atuou como promotora de eventos e escreveu o livro Mulheres Pioneiras de Brasília, lançado em 2001 pela editora Thesaurus. A publicação foi um marco na sociedade brasiliense e ainda hoje é lembrado com extremo carinho por seu simbolismo histórico.
Maria Inês Fontenele Mourão
Maria Inês Fontenele Mourão tinha 24 anos quando chegou em Brasília, no ano de sua inauguração. Veio recém-casada do Rio de Janeiro e, apesar, do cenário inacabado com que se deparou, lembra com alegria do dia de sua chegada: “Estava feliz e cheia de esperanças para começar minha vida aqui”.
Foi uma das primeiras professoras da rede pública de ensino, onde lecionou durante 15 anos; a primeira mulher a se tornar direta da Associação Comercial do DF e fundou a Associação de Mulheres de Negócios e Profissões Liberais no Brasil.
Aos 82 anos, é mãe de quatro filhos. Entre elas, Tânia Fontenele, 44 anos, historiadora que estuda as mulheres pioneiras da capital.
Marta Cury
Sentimentos nobres, gratidão e entusiasmo. É assim que Marta Cury se refere à Brasília, cidade que a acolheu desde antes da inauguração. Depois de chegar ao Planalto Central vinda de Anápolis, a psicóloga adaptou-se à nova cidade e, aqui, geriu negócios em parceria com o marido, o pioneiro Lindberg Cury.
Esteve presente em várias instituições, como Associação Comercial do Distrito Federal e a Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais no Distrito Federal. Mãe de três filhos e avó de nove netos, “Martinha” é sempre lembrada nas homenagens às pioneiras da cidade devido ao jeito doce, mas firme, com que toca a vida e os negócios.
Mercedes Urquiza
Vinda de Buenos Aires, na Argentina, Mercedes Urquiza chegou à capital junto ao marido, Hugo Maschwitz. O ano era 1957. Em 1962, o casal fundou a primeira agência de viagens da cidade no recém inaugurado Hotel Nacional, abraçando definitivamente o ramo do turismo. Em 2018, essa aventura foi contada por Mercedes no livro A Trilha do Jaguar: na Alvorada de Brasília.