BBB22. Especialistas comentam fala de Natália sobre escravidão: “Mito”
Sister reproduziu um discurso do racismo estrutural, relativizando a escravidão em uma conversa com outros participantes
atualizado
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Pouco tempo depois de entrar na casa, a mineira Natália Deodato foi protagonista de uma das primeiras polêmicas do BBB22. Em uma conversa à mesa com colegas de confinamento, na madrugada de terça-feira (18/01), a sister falou sobre escravidão no Brasil e afirmou que pessoas negras foram escravizadas por serem “eficientes e fortes”.
“Eu sou preta e realmente tem a história de que a gente veio como escravo. Por que? Porque a gente era forte. Por que a gente veio como escravo? Porque a gente era bom no que fazia. Se colocasse uma outra pessoa para fazer aquilo, não conseguiria”, afirmou.
A conversa sobre racismo gerou revolta nas redes sociais, sobre uma possível relativização da escravidão, e acendeu o debate fora da casa.
Para repercutir o tema, o Metrópoles conversou com a pesquisadora em gênero e raça da Universidade de Brasília (UnB) Kelly Quirino, e com o psicólogo Alexander Bez, a fim de entender como esse tipo de discurso se relaciona com o racismo estrutural.
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“A fala da Natalia diz muito sobre como o pensamento europeu sobre a escravidão, disseminado no nosso país há mais de 5 séculos, entrou na mente das pessoas. O que faz com que até uma mulher negra reproduza isso”, explica Kelly Quirino.
Apesar de um discurso equivocado, a especialista ressalta que a mineira é uma vítima desse sistema. “O próprio oprimido incorporou a fala do opressor. O que mostra que o discurso do racismo é tão forte quanto as práticas racistas que existem na sociedade”, completa.
A justificativa de que os negros eram mais rápidos, mais fortes ou que possuíam outras vantagens físicas sustentou práticas racistas durante séculos, e se perpetuou por gerações de brasileiros, ensinados a pensar de forma equivocada. Contudo, como explica a professora, isso não passa de um mito.
“Na realidade, estamos falando de seres humanos que compartilham das mesmas aptidões e força física. É importante destacar como esse discurso é eficiente, pois está presente em todas as instituições. Por isso, exige de nós um sacrifício muito grande para erradicá-lo”, pondera.
Visibilidade e peso
Reproduzir essa temática de forma positiva ou “romantizada”, na visão do psicólogo Alexander Bez, deve ser combatido a todo custo, em busca de uma postura antirracista. “Independente do contexto, toda fala que envolva elogios a ter sido escravo, se perfaz num erro gigante”, afirma.
“Psicanaliticamente falando, quando a Natália profere a sua fala, ela mesmo sem querer está concordando com as atrocidades cometidas contra a população negra”, adianta. “Entretanto, não podemos ignorar o fato de que ainda vivemos em uma sociedade racista, com ensinamentos racistas.”
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