Arte que acalenta: conheça 5 ilustradoras que disseminam o bem na web
Os desenhos reflexivos e empoderados dessas artistas brasileiras contribuem para tornar as redes sociais menos tóxicas e mais afetivas
atualizado
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Segundo uma pesquisa realizada pela instituição de saúde pública do Reino Unido, o Instagram é a rede social mais nociva ao equilíbrio emocional. O estudo aponta que a plataforma, amplamente utilizada no Brasil, pode provocar distorção de imagem e até ser gatilho para depressão. Encabeçado por ilustradoras do sexo feminino, um movimento artístico busca mudar essa realidade disseminando mensagens de amor próprio e autoaceitação no feed.
Em meio a selfies supereditadas e looks do dia ostensivos, desenhos de mulheres disruptivas ganham espaço. Com traços representativos e dizeres empoderados, o trabalho independente dessas artistas ajuda a tornar o “Insta” menos tóxico e mais afetivo. É como um respiro para quem não suporta mais viver debaixo de filtros.
O Metrópoles conversou com cinco dessas profissionais. De diferentes estados do país, elas se encontraram na arte reflexiva e fizeram dela um negócio. Em comum, o quinteto ainda pertence à geração millennial, reconhecida pela aptidão em usar a internet a favor de mudanças socioculturais.
@Mari.VidaIlustrada – 112 mil seguidores
A maranhense Mariana Luz, 26 anos, descobriu o talento para desenhar durante a faculdade de design gráfico. Criou o perfil em 2015, como uma espécie de portfólio on-line. Realizando workshops de ilustração paralelos à graduação, ela aprimorou a técnica e, pouco a pouco, despertou prazer em casar os esboços com mensagem alto-astrais. Ao publicar as invenções no app, ela viu sua página decolar.
A maior inspiração para exercer o ofício, de acordo com ela, vem da avó, dona Lurdinha. “Foi quem me criou, em um lar profundamente acolhedor. Aprendi muito sobre amor próprio e autocuidado com ela. Busco exercitar e compartilhar esses aprendizados, tão valiosos, por meio das minhas ilustrações”, revela.
O objetivo do trabalho, segundo Mariana, é injetar doses de positividade no dia a dia dos internautas. “Acredito que, quando as pessoas chegam em casa após um longo dia de trabalho, elas querem entrar nas redes sociais para se sentirem bem – e não para terem crenças limitantes e padrões de beleza reforçados. Com a missão de dar esse tão merecido refresco à rotina dos seguidores, eu me doo cada vez mais intensamente aos desenhos com palavras de aconchego e paz”, conta.
@BrunaFrotte – 103 mil seguidores
A escritora Bruna Frotté, 23, deu início à jornada na rede social com fotos de Post-Its poéticos em lugares emblemáticos do Rio de Janeiro. Para tornar as frases rimadas ainda mais instagramáveis, ela se aventurou pelo universo da ilustração.
“Depois que comecei a desenhar, meu alcance na plataforma cresceu consideravelmente. Acredito que as ilustrações valorizam a minha escrita e se consolidam como a moldura ideal do meu trabalho”, opina.
Autodidata, ela diz ter aprendido tudo que sabe sobre desenho e tipografia assistindo a videoaulas no YouTube. “Ainda estou aprimorando o meu traço e encontrando minha identidade visual, mas sinto que me descobri na arte com veia feminista e empoderada”, diz.
@Mari.Ilustra – 134 mil seguidores
Mariana Souza, 27, tem uma relação longeva com os desenhos. Incentivada pelo pai, a recifense cresceu brincando com os lápis de colorir: “Pintava até as paredes da casa”. Embora o passatempo tenha sido deixado de lado com a chegada da vida adulta, a paixão permaneceu.
“Para pagar as contas e sustentar meus dois filhos, precisei trabalhar em uma central de atendimento. Estava infeliz quando resolvi jogar tudo para o alto e apostar na minha habilidade de ilustrar, desta vez de forma digital. Foi um ato arriscado, mas recompensante”, lembra. “Desenhar é como uma terapia para mim. Considero um privilégio poder viver integralmente disso, por meio de parcerias comerciais e encomendas particulares”, salienta.
A motivação para compartilhar imagens de incentivo, de acordo com ela, vem de um desejo pessoal. “Escrevo o que gostaria de ouvir. Como as mulheres costumam ter anseios similares, muitas figuras femininas se identificam com as minhas ilustrações. Morro de felicidade toda vez que alguém diz que se viu representada em um desenho meu. É sinal de que não estou sozinha nas angústias da vida e de que, juntas, estamos caminhando para melhorar determinadas situações”, exclama.
@HelenaMorani – 109 mil
A carioca Helena Morani, 23, é estudante universitária e, há pouco mais de um ano, decidiu compartilhar criações artísticas em seu perfil pessoal no Instagram. “Sempre curti desenhar, mas não sabia como, efetivamente, trabalhar com a arte. Resolvi, mesmo às cegas, me dedicar mais profundamente à paixão em março do ano passado. E deu certo”, comemora.
“Minha primeira ilustração para o Insta foi acompanhada de dizeres feministas. O número de interações na minha página cresceu muito assim que a postei”, recorda. “Credito o sucesso desse tipo de postagem ao viés politizado que tem. Penso que, em tempos difíceis como o nosso, é bom consumir conteúdos que exalem a mesma linha de pensamento que a nossa. É como uma corrente do bem que propaga boas intenções”, avalia.
O propósito por trás do trabalho, segundo ela, é conscientizar pessoas. “Minha missão é contribuir para a conscientização dos problemas ligados às mulheres, como violência doméstica e assédio sexual, por meio de uma estética millennial e convidativa”, pontua.
@IlustraGabs – 238 mil seguidores
A ilustradora cearense Gabriela Martins, 26, ganhou projeção na web após celebridades globais, como Deborah Secco e Fernanda Paes Leme, compartilharem desenhos de sua autoria. Além de serem politizadas e representarem belezas diversas, as ilustrações de “Gabs” carregam um toque de bom humor.
“O Instagram é uma ótima vitrine de trabalho. Ele me proporcionou, por exemplo, parcerias pagas incríveis. O que mais recompensa, no entanto, é o feedback das pessoas. Certa vez, uma seguidora me escreveu dizendo que meus desenhos a incentivaram a terminar um relacionamento abusivo. Isso não tem preço”, frisa. “Comentários como esse são a prova de que dá, sim, para abordar assuntos sensíveis em tons pastel”, acrescenta.
Por ser detentora de um dos perfis do segmento mais acompanhados da rede social, a artista diz ser frequentemente questionada sobre dicas de como crescer digitalmente. “A verdade? Não tem fórmula pronta. Às vezes é uma personalidade grande que compartilha seu trabalho, a alta frequência com a qual você posta. O conselho que dou é: foque em seu trabalho e esqueça os números, eles vêm com o tempo. Pare de pensar aonde quer chegar e faça a sua parte hoje. Busque cursos de especialização e desenvolva sua própria identidade visual”, aconselha.
Psicologia positiva
“Amei. Estou passando uma fase muito difícil da minha vida e me redescobrindo, recomeçando. Suas ilustrações me ajudam muito a tentar me amar de novo e pensar positivo. Muito obrigada”, comenta uma seguidora numa postagem de Mariana Luz. “Você não sabe como precisava ler isso hoje”, escreve outra internauta, desta vez em uma publicação de Helena Morani.
O doutorando em psicologia clínica e cultura da Universidade de Brasília (UnB) Marcelo Luz garante que um desenho com dizeres positivos pode, realmente, melhorar o mood de uma pessoa. “As ilustrações com mensagens motivacionais podem, de fato, incentivar e trazer aconchego emocional. Não adianta, porém, apenas admirar a ilustração e sentir-se motivado por um instante. É preciso ter consciência de que é necessário força de vontade para mudar pensamentos enraizados e tirar metas do papel”, analisa o pesquisador.
O estudioso alerta, ainda: o que desperta sentimentos bons em um indivíduo pode não significar muito para outro. “Vale salientar que esse tipo de arte não é unanimidade. Assim como livros de autoajuda, auxilia em certos casos. Identifique o efeito que essas imagens têm em você. Se elas te motivam, consuma-as com frequência. Se não te inspiram, procure outras formas de incentivo na rede, como acompanhar personalidades que te despertem admiração”, sugere.