Após queimaduras gravíssimas, blogueira expõe riscos da fotodepilação
Laura Cavalcante sofreu queimaduras de segundo grau e criou página para alertar sobre procedimento aparentemente inofensivo
atualizado
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A premissa parece simples e é atraente: ficar com a pele lisinha e meses longe dos “infortúnios” da depilação, sem risco de pelos encravados ou manchas na pele. Não à toa, poucos procedimentos estéticos são tão populares no Brasil quanto a fotodepilação. Entretanto, uma alarmante história protagonizada pela blogueira Laura Cavalcante levantou a importância dos cuidados ao decidir onde – e por que – fazer o tratamento.
Em julho, a influenciadora digital de 23 anos foi convidada para divulgar uma clínica de Maceió, Alagoas, onde vive. No entanto, em vez de sair com a cútis perfeita, sofreu queimaduras graves de segundo grau na parte posterior da coxa. Além dos ferimentos na pele, que ainda não cicatrizaram por completo, restou o trauma de largar antigos sonhos, como uma viagem sem passagem de volta para a Indonésia e a paixão pelo surfe.
“Nunca fui ligada em procedimentos estéticos, mas sempre tive muita foliculite atrás da coxa. Como tinha planos de passar um tempo fora, escolhi esse procedimento”, recorda. Um dos fatos que chamou atenção foi a avaliação de uma das esteticistas responsáveis – ou melhor, a falta dela. “Ela apenas olhou minha pele e disse que dava para fazer, sem me alertar sobre nada nem me entregar formulários médicos”, critica.
No dia de realizar a fotodepilação, nenhuma pergunta foi feita. À época, Laura não sabia, mas o endereço escolhido já havia sido denunciado ao Ministério Público, em 2018, pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, por possível conduta ilegal.
Ao sentar na maca e iniciar o procedimento, uma dor forte acendeu o primeiro sinal de alerta. “A cada disparada, eu me contorcia na máquina. Minha perna se movia involuntariamente. Fui aguentando. Elas colocaram um gel para resfriar o local. Quando retiraram, minha voz já estava trêmula. A esteticista me disse que algumas regiões tinham escurecido. Naquela hora, não havia nenhuma dermatologista no local”, relata.
Diante da gravidade do que viam, funcionárias fizeram os primeiros socorros com água corrente e aparelhos de alta frequência. Com a pele queimada, a influencer só sentia ardência e calor. “Me ofereceram um Uber, mas eu não tinha a menor condição de sentar. Meu namorado me buscou e me levou ao hospital. Lá, tive noção do quão sério foi tudo que aconteceu”, conta.
Dois meses depois do incidente, Laura Cavalcante resolveu fazer uma postagem revelando a situação. “Meu cabelo estava caindo, desenvolvi alergia emocional. Foi um período de muita reflexão. Passei um tempo refletindo sobre a minha vida. Tudo que fazia já não posso fazer mais. Minha vida era sol e natureza, passava o dia no mar…”, diz, entristecida. Ela denunciou o espaço à Polícia Civil e um inquérito está em andamento. Procurada, a clínica não respondeu ao contato do Metrópoles.
Nova vida
O capítulo traumático serviu como impulso para a blogueira criar o projeto e a página Minha Pele Não É Teste no Instagram. Em ambos, pretende alertar outras mulheres sobre os riscos associados a diversos procedimentos e que poucas pessoas conhecem.
“Recebi inúmeros relatos e percebi algo em comum: a tentativa das clínicas de tratar diversos incidentes como algo normal. Há falta de assistência. Muitas se negam a pagar um tratamento, indenização moral, ou dar informação antes do tratamento”, critica.
Formada em psicologia e direito, Laura Cavalcante garante que não irá se calar. “Ensinarei outras pessoas a como agir”, adianta.
Riscos
Mestre em dermatologia, Simone Veloso afirma que a fotodepilação – que inclui a luz pulsada e a depilação a laser – é um procedimento estético que, quando realizado com tecnologia e parâmetros corretos, costuma gerar muita satisfação para o paciente.
“Porém, se feita de forma errada, pode provocar queimaduras. Ao regredir, essas queimaduras podem deixar manchas claras ou escuras – hipo ou hipercromia – por diminuição ou aumento da pigmentação da pele”, explica.
“Outro efeito adverso da depilação a laser é o aumento paradoxal da quantidade de pelos, por um mecanismo de bioestimulação que geralmente ocorre quando fluências muito baixas são utilizadas. Pode ser necessário um maior número de sessões do que o esperado quando os pelos são muito claros ou muito finos”, acrescenta.
De acordo com Simone, a fotodepilação deve ser realizada por um dermatologista especializado e experiente, que “saberá como realizar a técnica corretamente, manuseando o aparelho de forma adequada e utilizando a quantidade de gel necessária”, pontua.