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Aluna negra, pobre e de escola pública é 1º lugar em Medicina na USP

Bruna Sena sempre estudou em escola pública. Criada somente pela mãe, ela é a primeira da família a chegar à universidade

atualizado

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Arquivo pessoal
Bruna Sena
1 de 1 Bruna Sena - Foto: Arquivo pessoal

A voz é bem baixinha, mas a força e a vontade de lutar são gigantescas. Bruna Sena, 17 anos, foi a primeira colocada no vestibular prestado para medicina na USP de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, curso mais concorrido da Fuvest-2017. Negra, pobre e estudante de escola pública, a jovem mostrou a que veio após publicar no Facebook sua aprovação no vestibular: “A casa-grande surta quando a senzala vira médica”.

Bruna, filha da nordestina Dinália Sena, 50 – a mãe deixou a Bahia em busca de melhores oportunidades para construir a vida 20 anos atrás –, esteve desde a primeira série do ensino fundamental matriculada no ensino público e somente teve acesso a outro tipo de sistema no terceiro ano do ensino médio.

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Bruna comemora a aprovação ao lado da mãe

 

Para complementar os estudos, ia às aulas noturnas de um cursinho popular administrado por estudantes da Universidade de São Paulo. “A escola onde estudei era boa, mas tinha limitações. O que não aprendi lá, aprendi no cursinho. Eu sempre quis a USP”, revelou ao Metrópoles. Bruna superou 6,8 mil candidatos que disputaram as 90 vagas de graduação ofertadas para medicina na instituição.

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A primeira de sua família a chegar à universidade, ela já foi alertada sobre comentários negativos que o preconceito traz à tona. “No Facebook eu vi muitos comentários negativos. Eu sei que não vou agradar a todos. É relevar”, ressalta.

A USP não possui um sistema de cotas. Na verdade, estudantes de escolas públicas e alunos que se autodeclaram pretos, pardos e indígenas (PPI) ganham bonificações durante as duas etapas do vestibular. Não que isso limite a opinião da caloura: “Sou a favor de cotas, sim, mas como medida paliativa. Não tem como tratar de forma igual quem não teve as mesmas oportunidades”, enfatiza.

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Bruna Sena, 17, estudou a vida toda em escola pública e defende as cotas sociais e raciais

 

O primeiro lugar na FUVEST é só mais um dos acontecimentos que marcaram definitivamente a vida da garota. Abandonada pelo pai aos 9 meses de idade, Bruna foi criada somente pela mãe, que atualmente ganha cerca de R$ 1.400 como operadora de caixa. Desde 2000, as duas moram no conjunto habitacional Eugênio Lopes, na periferia de Ribeirão Preto.

Fã do drama médico “Grey’s Anatomy”, Bruna, agora, vivenciará no dia a dia as cenas que acompanhou durante a adolescência. Sobre o racismo que poderá enfrentar nos corredores da instituição e na carreira, ela comenta: “Sei que vou cruzar com muita gente babaca, mas por enquanto, estou tranquila”.

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Comemoração ao lado das amigas

 

Como toda pessoa que sonha com uma vaga em uma universidade federal, a reação da jovem ao ver a sua aprovação não podia ser outra. O choro de felicidade consolidou o esforço dela e da família em busca de melhores oportunidades de vida. Ela conta que passou noites em claro antes da divulgação do resultado: “Quando descobri, todo mundo pirou aqui em casa. Eu nem esperava passar da primeira fase”, comenta ela, que tratou logo de passar em primeiro lugar.

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