Afinal, quando a traição caracteriza uma relação abusiva?
Psicóloga comenta caso Mayra Cardi e Arthur Aguiar e explica quando a infidelidade vira um círculo vicioso e destrutivo
atualizado
Compartilhar notícia
Relações abusivas costumam ser marcadas por diferentes tipos violência: ciúmes excessivo, manipulação, agressões físicas ou verbais. No entanto, outra característica que também costuma fazer parte desse tipo de envolvimento é a traição.
Na semana passada, a empresária Mayra Cardi publicou um relato nas redes sociais (26/06) em que faz uma série de acusações ao ex-marido, Arthur Aguiar. Nele, ela afirma ter vivido um relacionamento abusivo com o pai de sua filha e alega ter sido traída diversas vezes durante o casamento.
Arthur, por sua vez, gravou um vídeo em que admitiu a infidelidade, mas rechaçou a acusação de abuso. Na resposta da publicação, já deletada pelo artista, seguidores não conseguiram entrar em consenso sobre qual dos dois tem razão.
De acordo com a psicóloga Adriana Souza, apesar da traição ser considerada uma forma de agressão ao relacionamento, ela não é suficiente para configurar um abuso. “A relação monogâmica é um combinado entre duas pessoas e quebrar esse pacto é uma irresponsabilidade afetiva”, opina a profissional.
Ela explica que para uma traição ser considerada uma ferramenta de abuso, é preciso analisar outros aspectos, como a constância, a forma como ela ocorre e o impacto disso para a autoestima do outro.
Geralmente a infidelidade que leva ao abuso psicológico não ocorre de forma isolada. Vem acompanhada de manipulação, chantagens emocionais da desqualificação do outro — que muitas vezes foi levado a acreditar que ‘nunca vai ser feliz sem o abusador’, ‘nunca vai achar coisa melhor’ e acaba se submetendo a essa situação de desconforto
Adriana Rodrigues, psicóloga humanista e especialista em atendimento de casais
A psicóloga Pâmela Magalhães, convidada por Mayra a esclarecer o assunto em uma live nessa segunda-feira (29/06), valida a opinião da colega. “Existe o abuso invisível, silêncios ensurdecedores, jogos emocionais e atitudes destrutivas que não vão aparecer como um soco, um tapa, mas que são extremamente nocivos”, pontua.
Mas ela quis?
Pela experiência no atendimento de casais, Adriana acredita que, se verdadeiros, os fatos narrados por Mayra para justificar a queixa de abuso psicológico – como o fato do ex-companheiro chorar, pedir desculpas e fazer promessas sempre que um caso vinha à tona – apontam, sim, para uma relação abusiva.
“O relato dela fala de traição, mas também de chantagem emocional e manipulação. É um conjunto de situações”, argumenta a especialista.
A profissional destaca que muitas mulheres acabam permanecendo nessa situação porque, ao se dar conta do que estão vivendo, já têm com a saúde mental fragilizada.
“Vi muitos comentários, pessoas dizendo que ‘ela aceitou’, que ‘ela quis’. É muito complicado dizer isso em um contexto de adoecimento emocional. Às vezes, a pessoa viveu anos tendo sua autonomia emocional destruída pelo parceiro e, por isso, vive em um ciclo de decisões destrutivas”, entende Adriana.
Pessoas que se encontrem nessa situação, devem procurar ajuda de um especialista. “Um psicólogo irá ajudar a compreender sua responsabilidade pessoal diante desses fatos e retomar a autoestima, para que o padrão não se repita em relações futuras”, aconselha Adriana.