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Advogadas se unem pela busca da igualdade de gênero na profissão

A associação “Elas Pedem Vista” foi criada por 11 mulheres para debater, difundir, fortalecer e aumentar a participação feminina no direito

atualizado

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Brasília (DF), 28/03/2018  – Evento: CLUBE DAS ADVOGADAS.-  Local Lago Sul Foto: JP Rodrigues/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 28/03/2018 – Evento: CLUBE DAS ADVOGADAS.- Local Lago Sul Foto: JP Rodrigues/Metrópoles - Foto: JP Rodrigues/ Metrópoles

Nos últimos anos, mulheres de todas as partes do mundo levantaram-se, buscaram a união e estão mostrando que é o momento delas na luta contra machismo, assédios sexuais e morais na vida pessoal e, principalmente, profissional.

Movimentos como #metoo (eu também), #timesup (tempo acabou), #BalanceTonPorc (“delate seu porco”), #meuprimerioassedio, #meuamigosecreto e muitos outros ganharam as redes sociais, manchetes dos principais jornais e revistas, nacionais e internacionais, chegaram às ruas e deram voz para milhares de mulheres.

O discurso visa debater o lugar delas no mercado de trabalho e a importância da presença feminina nos cargos de chefia. Os homens ainda são maioria no ambiente de comando, só 15% dos postos de CEO no mundo são ocupados por mulheres. No direito, 11 advogadas brasilienses se uniram para lutar contra isso.

A associação “Elas Pedem Vista” começou a ser discutida há dois anos, mas só em 11 de setembro de 2017, no Dia do Advogado, realmente nasceu. “Sentíamos falta de um grupo de apoio, onde pudéssemos conversar sobre a experiência dentro da advocacia, quebrar estereótipos e fragilidades vividas por algumas mulheres”, explica a advogada e presidente da associação, Ana Carolina Caputo Bastos.

Convites para pequenos eventos ligados à profissão, como happy hours e jantares, por exemplo, são estendidos apenas aos homens. As mulheres ficam em dúvida se devem ir e indagam se outra advogada estará presente. “O mundo masculino é muito unido, precisávamos nos articular também”, diz Ana Carolina.

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Cristina Neves da Silva e Ana Carolina A. Caputo Bastos

 

Ela lembra de uma situação vivida por uma colega de profissão. Durante uma reunião social de advogadas, os homens saíram para fumar charuto e um amigo da moça a chamou para ir junto, ela o acompanhou. Resultado? Ficou mal falada no meio e foi chamada de “oferecida”. O ambiente era despojado, mas não deixava de ser uma oportunidade para falar de negócios.

“Ainda tem divisão. Ela julgou estar protegida e não estava. Muitas vezes o pessoal e o profissional se misturam nesses encontros. Precisamos nos organizar para não nos tornarmos pequenas ilhas e sofrer assédios. Você quer fumar charuto? Eu fico do seu lado. Vamos tornar a mescla mais natural. É a hora da união”, fala a advogada.

A vice-presidente da associação Cristina Maria Gama Neves da Silva diz não se tratar de um combate com o sexo masculino. “A gente não quer competir, brigar, mas está na hora de olhar para nós, mulheres. Ver nossas prioridades, preferências, estilos de vida. Nos fortalecer em uma rede com iniciativas que nos promovam”, defende.

As advogadas foram aconselhadas a desistir do direito, pois “advocacia não é para meninas”. Filhas de dois ex-ministros do Tribunal Superior Eleitoral, Carlos Eduardo Caputo Bastos e Fernando Neves da Silva, elas creditam a paixão pela profissão aos exemplos que tiveram em casa. E não pensam em largá-la, por isso a urgente necessidade de mudança.

“Elas Pedem Vista” na prática
O nome do grupo explica muito. “Judiciário e Congresso usam esse termo. Pedir vista é uma trava para analisar, estudar melhor a questão antes de votar, podendo divergir ou acompanhar o relator com outro argumento. Serve para melhorar a análise”, explica Ana Carolina.

Além de discutir temas sensíveis à sociedade, difundir e fortalecer a opinião das mulheres sobre o direito, a associação quer dar mais visibilidade ao trabalho das advogadas. Por exemplo, publicação de artigos e palestras.

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Eventos jurídicos geralmente têm, em sua maioria, mesas compostas apenas por homens. A ideia é reverter esse quadro e estender o convite a mulheres capacitadas para os debates.

“Temos no grupo especialistas do direito do trabalho, tributário, constitucional, eleitoral, processual, estamos cobrindo uma gama de áreas para nos fortalecer. Queremos aumentar a presença feminina no debate”, explica Cristina.

Uma das preocupações do grupo é o fato de as mulheres representarem 48% do registro do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), mas pouquíssimas ocupam cargos de poder na advocacia pública ou privada.

“Nas Universidades, faculdades de direito, mulheres são maioria. Mas, nos Tribunais Superiores só se encontra homens. O Supremo teve até hoje três ministras. Atualmente, a corte é composta por duas e isso não é uma realidade só do Brasil. Então, por que não chegamos nos postos de poder? Começamos a nos questionar. É uma opção? Falta de apoio? De articulação? O que elas precisam fazer para isso?”, indaga Ana Carolina.

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Vice-presidente da OAB/DF Daniela Teixeira

 

A vice-presidente da OAB/DF Daniela Teixeira diz que, até 2020 as mulheres serão maioria inscritas no órgão. Isso porque está aumentando o número de jovens do sexo feminino fazendo o exame. Se pegarmos os últimos cinco anos de formados, já são maioria, com 52%.

De fato é muito necessário a gente ocupar esses espaços. Temos 27 OABs no Brasil e só uma mulher presidente – Fernanda Marinela, de Alagoas. Vice-presidentes são nove. No DF, nesses 60 anos, tivemos apenas uma, a Estefânia Viveiros

Vice-presidente da OAB/DF Daniela Teixeira

Ela já está acostumada a ser a única mulher nas solenidades e eventos oficiais. Para Daniela, essa situação precisa mudar e ela se mantém otimista, pois acredita estar indo a passos largos. “Se olhar para o poder judiciário como um todo, há 20 anos só tinha homem. Meus professores eram homens, na Advocacia Geral da União (AGU) só tinha homens. Hoje, as presidentes da AGU, PGR, Supremo, STJ, reitora da UnB, são todas mulheres”, fala.

E a vice-presidente deixa um recado: “Essas posições não são nossas por cotas. São nossas por direito. Precisamos nos engajar e participar, começar desde cedo a mostrar que lugar de mulher é na OAB”.

Para Ana Carolina, as vozes femininas alinhadas incentivam umas as outras e a igualdade tende a melhorar. “Vamos fazer dois eventos até maio. O primeiro, em uma universidade, será um talk show para conversar sobre exemplos de mulheres no direito, desafios da carreira e outros temas. O segundo será em um escritório de advocacia, para falar sobre maternidade, assunto ainda difícil no nosso meio. Não temos uma regulamentação certa para a licença, então, como uma pode ajudar a outra usando a experiência vivida?”.

Nesse período pré-eleitoral, elas também vão lutar pela participação feminina na política brasileira. Atualmente, o Brasil tem o pior desempenho na representatividade feminina no Legislativo de todos os países da América do Sul. No Brasil, as mulheres correspondem a 52% da população brasileira e possuem menos de 10% das cadeiras no Congresso Nacional, ficando abaixo da média mundial, que chega a ser de 22,1%.

Quando uma mulher entra na política, muda a mulher. Quando muitas mulheres entram na política, muda a política

Michelle Bachelet

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