Advogada vem a Brasília ensinar a usar constelação familiar na Justiça
Cristina Llaguno é precursora no uso da filosofia para resolver conflitos entre famílias no âmbito jurídico e ministrará palestra e vivência
atualizado
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Nas noites de quarta e quinta-feira (21 e 22 de fevereiro), o auditório da Faculdade de Direito da UnB vai receber dois eventos. A advogada argentina Cristina Llaguno é professora da Hellingerschule, na Alemanha e no Brasil, e diretora do Centro de Constelaciones Familiares e Soluciones Sistémicas, no Chile. Ela estará na capital para contar (e ensinar) sobre a sua experiência com o uso de constelação familiar para conciliações judiciais – Cristina é pioneira nesse tipo de abordagem, que está começando a aparecer no meio jurídico.
O evento não é só para advogados e pretende abrir portas a quem deseja saber mais sobre o assunto. A participação é gratuita e basta fazer inscrição aqui, para a palestra de quarta, e aqui, para a vivência, na quinta.
Cristina descobriu a constelação familiar em 2002, para resolver problemas pessoais. Com dois filhos adotados, a advogada tinha muita dificuldade em abrir espaço no coração, e a relação dentro de casa era complicada. A filosofia, como ela chama, foi essencial para entender os pontos de vista dos envolvidos e, finalmente, instaurar a paz. “Se funcionou para mim, sabia que podia ajudar outras pessoas”, lembra.
A ideia aqui é, principalmente, ajudar casais que estão em pé de guerra na Justiça. Seja por conta de detalhes na guarda dos filhos ou na divisão de bens depois de anos juntos. A maioria dos problemas passa por mágoas acumuladas, falta de diálogo e dificuldades em se colocar no lugar do outro. Tudo isso pode ser trabalhado na constelação. O método funciona como uma espécie de encenação sem roteiro, sem atores, guiada pelas emoções, mostrando aos participantes como cada um está se sentindo. Ganha quem está assistindo à própria história sem intervir, participando e aprendendo mais sobre empatia.“As pessoas não percebem: a resposta está em suas mãos. Elas querem um juiz, com uma vara mágica, para dizer quem está certo e quem está errado. Mas não funciona assim. Todos somos bons e maus, certos e errados, ao mesmo tempo. A solução é empoderá-los para que encontrem as soluções sozinhos”, ensina Cristina.
Só depois se parte, de fato, para as audiências de conciliação. De acordo com a página do Projeto Constelar e Conciliar do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), que já usa a técnica em oito varas da capital federal, há uma média de 52% de acordos quando apenas uma parte compareceu na constelação. Esse número aumenta para 71% quando ambas participam do evento.
A aplicação da técnica não é só para casos de separação ou de divisão de bens. Cristina conta ser possível usá-la em todos os assuntos envolvendo a família, mas também entre empresa e trabalhadores, ou indivíduos cheios de dívidas. “A princípio, as pessoas ficam incrédulas, achando que não funciona. O novo nunca é bom. Mas quando veem o resultado, quando a relação com a família melhora, quando um problema que demoraria 15 anos é resolvido em cinco meses, são convencidas”, explica a especialista.
A vinda de Cristina faz parte de um projeto que pretende trazer para Brasília a Escola Hellinger de constelação. Bert, sistematizador da técnica, e sua esposa, Sophie, estão sempre atualizando os ensinamentos e a Hellinger é a vertente mais moderna. Por enquanto, um instituto da escola alemã em São Paulo é o único lugar no país onde é possível conseguir uma especialização no método da área familiar. Na capital, a primeira turma da Escola Hellinger será aberta em maio, com curso introdutório na área jurídica (que não será específica para profissionais do direito, qualquer pessoa pode se inscrever).
A especialista, que trabalha na Argentina, no Chile, nos Estados Unidos e, agora, no Brasil, revela ter muita esperança nos brasileiros. “É um momento ideal, quando o povo está pronto para receber o novo”, afirma.