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A vida depois de… viver como refugiado no Brasil

Mahmoud Abdul Rahman deixou a África para tentar uma vida melhor no Brasil e é dono de um talento ímpar com tecidos e bordados

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Brasília (DF), 22/11/2016A vida depois de… vir para o Brasil refugiado do GanaLocal: Restaurante Universal, CLS 210Foto:
1 de 1 Brasília (DF), 22/11/2016A vida depois de… vir para o Brasil refugiado do GanaLocal: Restaurante Universal, CLS 210Foto: - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Foi pela TV que Mahmoud Abdul Rahman, de 29 anos, viu o Brasil pela primeira vez. “Preciso ir para esse país”, pensou. Terminada a Copa do Mundo de 2014, ainda na ressaca do 7×1, desembarcou no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

Era 11 de novembro de 2014, data em que iniciava seu novo recomeço. Do português bom, mas ainda claudicante, um adjetivo é dito tantas vezes que quase soa como nativo: “É tudo lindo aqui”.

Este mês, Mahmoud completou dois anos no Brasil. Do dia em que chegou do Gana, seu país Natal, a São Paulo, andando de terminal em terminal com o transporte gratuito do aeroporto atrás de alguém que o ajudasse com alguma informação, criou um portfólio de referências que vai além da nova língua, a sexta do seu repertório — ele fala quatro línguas africanas, além do inglês.

Antes da entrevista, disse que até uma nova mãe entrou para o seu coração: a dona do restaurante onde trabalha como aprendiz, na Asa Sul, o Universal Diner, é tão amada quanto a que ele deixou aos cuidados dos quatro irmãos na África, confessou, com os olhos marejados.

Mahmoud hoje é um dos 8,8 mil refugiados que vivem no Brasil, segundo o Comitê Nacional para Refugiados do Itamaraty (Conare). Embora seja funcionário exemplar no restaurante — passou de ajudante de serviços gerais a atendimento ao público em tempo recorde –, é com as linhas e cores que Mahmoud tem mais intimidade. Aprendeu com um tio a arte do bordado, que imprime com maestria em batas e vestidos.

As cores, os desenhos, os recortes e acabamentos, tudo é obra do seu talento. A “Mahmoud Design”, como ele chamou sua marca, fazia até algum sucesso na sua cidade, mas não o suficiente para permitir que sonhasse alto. Quando chegou aqui, queria aprender novas profissões. “Eu coloquei na minha cabeça que queria melhorar de vida. Aprender coisas diferentes”, conta.

 

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Uma peça lde Mahmoud eva até quatro horas para ser bordada

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Saudade
Foi um amigo, também africano, quem o arranjou o primeiro emprego, em uma empresa de decoração de eventos. Achou tudo “lindo”. “A gente arrumava o lugar e ficava muito lindo. Um dia eu quero ter uma empresa assim, quero abrir o meu negócio”, planeja.

Há alguns meses, fez uma visita não programada a Gana para visitar a família. Um dos irmãos lhe disse que a mãe estava muito doente e que ele deveria visitá-la. Sem dinheiro para a viagem, ganhou de presente da patroa as passagens e o dinheiro. Lá, descobriu que a mulher a quem chamara de mãe a vida toda era, na verdade, sua tia. A mãe biológica abandonou Mahmoud aos 2 anos.

Eu fiquei triste e chorei muito. Mas depois fiquei agradecido por ela ter me criado. Não fosse ela, eu teria ficado jogado na rua. Ela ainda é minha mãe.

Mahmoud Abdul Rahman

Depois do ocorrido, bordou uma bata em sua homenagem. Nas costas, escreveu o nome da mãe de criação. “Para que eu me lembre que ela é minha mãe independentemente de tudo”. Mahmoud conta que ela está melhor, mas não sabe o que tem. Os irmãos não lhe contam porque está longe e eles têm medo de como Mahmoud vai reagir. Em julho do ano que vem, nas férias, quer fazer uma nova visita. “Duas semanas é muito pouco para matar a saudade”. Mais uma palavra do português cujo significado ele já conhece bem.

Hoje, o ganense mora com um primo, em Samambaia Norte. Sem as máquinas de costura e bordado que tinha em Gana, a “Mahmoud Designs” está parada. Mas, nas horas vagas, ainda costura uma ou outra peça com equipamentos emprestados — seus bordados são tão complexos que precisam de até três tipos diferentes de máquinas para ganharem vida.

Um primo tem uma máquina de costura e outro amigo, uma de bordado. Quando consegue, se divide entre os dois espaços para criar. Leva até quatro horas para costurar uma bata e mais quatro para bordar os detalhes. O trabalho compensa. Ele prefere o resultado colorido às camisas lisas sem vida que encontra nas lojas brasileiras. Ele enche a boca para falar que as pessoas o param na rua e perguntam onde ele comprou a camisa. “Eu digo que faço, mas como não tenho a máquina, não consigo vender para fora”.

A luta de Mahmoud agora é conseguir as máquinas semi-industriais para tentar fazer uma renda extra com suas criações. “Se eu não tenho máquina, não tenho cliente. Queria vender minha roupa, colocar em alguma loja, exposta. O bordado é a minha profissão, meu ofício”, repete. Ao todo, os equipamentos custariam cerca de R$ 7 mil. São máquinas de acabamento overloque, bordado e costura.

Quem tiver interesse em ajudá-lo pode entrar em contato com o Universal Diner, onde ele trabalha: (61) 3443-2089. 

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