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A vida depois de… ver o próprio negócio virar cinza e escombros

Jeová Souza perdeu num incêndio a fábrica de sandálias que ergueu com muito esforço. Com prejuízo de R$ 8 milhões, deu a volta por cima e hoje exporta os calçados e contabiliza o sucesso alcançado após a tragédia

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A vida depois do incêndio
1 de 1 A vida depois do incêndio - Foto: Michael Melo/Metrópoles

O ano era 1989. Jeová Souza tinha 17 anos quando deixou a cidade cearense de Independência – a mais de 300 km de Fortaleza – rumo ao Planalto Central. O jovem trazia planos, metas e sonhos na bagagem. Queria estudar e construir um futuro na Capital Federal. Sabia que, de cara, era preciso deixar a vida lhe levar.

O primeiro emprego que Jeová conseguiu foi como balconista em uma loja de sapatos. Começava ali uma longa relação com o setor de calçados. Não demorou muito e o vendedor se destacou. Virou representante comercial de uma marca nacional e começou a estudar o mercado.

Vi a necessidade de um produto mais arrojado para o ramo de sandálias. Então, passei a vender produtos de uma outra fábrica, mas ela fechou as portas.

Jeová Souza

A partir dali, começou a confeccionar a própria mercadoria. A verve empreendedora pulsava nos fundos da casa de uma tia.

O quintal ficou pequeno para o ritmo frenético de produção. Já eram confeccionados 200 pares de chinelo por dia. Jeová precisava expandir os limites, empregar mais gente, organizar fabricação e remessa dos produtos. O crescimento do negócio o empurrou para um pequeno lote no Polo de Desenvolvimento Juscelino Kubitschek, em Santa Maria. Em 2 de janeiro de 1996, fundou oficialmente a empresa de sandálias Koc Pitt, de chinelos de dedo para o público feminino, masculino e infantil.

A vida ia bem para o homem de negócios. Até a madrugada de 10 de maio de 2010. Pouco mais de 20 anos depois de desembarcar em Brasília, Jeová sofreu o maior revés de sua vida. E a situação fugiu de seu controle momentaneamente. 

Depois de encerrar o expediente, por volta das 21h, ele deixou a empresa sob os cuidados do vigia noturno. Quatro horas mais tarde, recebeu uma ligação do funcionário: a fábrica estava em chamas. Cerca de R$ 8 milhões em investimento viravam fuligem, cinza e escombro. Muito escombro.

No dia seguinte, só cabia acordar do pesadelo, calcular o prejuízo e traçar novos planos e novas metas. As lições aprendidas por aquele jovem de 17 anos inspiravam agora o homem maduro, de quase 40. 

O quadro de funcionários foi reduzido drasticamente: dos 187 colaboradores ficaram apenas 67. A empresa, que estava no auge, produzindo 12 mil pares de sandálias por dia, teve as atividades interrompidas por três semanas. Nenhum solado foi cortado. Nenhuma tira foi customizada. Nenhuma peça foi estampada. “Tínhamos contratos a cumprir e não poderíamos ficar parados por muito tempo”, ressalta Jeová. “Da noite para o dia, perdemos os equipamentos, mas nos reinventamos”. E assim foi.

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Um mutirão deu cabo das cinzas e, em pouco tempo, reocuparam o local. Com o terreno limpo, armaram uma grande tenda no estacionamento e ali mesmo as sandálias voltaram a ser produzidas. Como o maquinário de fazer as solas das sandálias se perdeu no fogo, a Koc Pitt firmou parcerias para essa etapa do processo. No chão da fábrica, só se finalizavam os produtos. Era o recomeço. 

É uma parte um pouco mais fácil, que não requer equipamentos tão pesados como os utilizados na fabricação de placas.

Jeová Souza

A empresa reiniciou as atividades com uma produção média de 1.500 pares por dia – número equivalente a pouco mais de 12% da antiga cota diária.

Hoje, cinco anos depois do incêndio que quase colocou tudo a perder, Jeová Souza ainda se impõe metas, faz planos e sonha. Ele exporta produtos regularmente para os Estados Unidos e para a Angola – além de estar negociando com a Colômbia e de ter enviado sandálias para a França.

A Koc Pitt também fornece sandálias que ganham marcas famosas no fim da cadeia produtiva: Ellus e Calvin Klein são duas delas.

As instalações da fábrica ocupam hoje 4 mil metros quadrados, área maior que a anterior ao incêndio. A produção está próxima da daquela época. 

“Encolhemos porque o mercado também está um pouco retraído. Mas é só questão de ajuste e de tempo”, acredita, com a esperança de atingir em breve a produção de 12 mil pares diários. O incidente é coisa do passado. E que venham mais planos, metas e sonhos.

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