A vida depois de… Ter sete filhos
Julyana Mendes Santos, 39 anos, falou ao “Metrópoles” sobre a rotina de ter seis crianças e um filho adulto em casa
atualizado
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A fantasia de mãe idealizada, perfeita e sempre feliz não cai bem à engenheira civil brasiliense Julyana Mendes Santos, 39 anos. Ela não quer viver uma personagem. Com muita franqueza, considera maternidade e culpa quase como sinônimos. Diariamente, aprende a lidar com aquela vontade de desaparecer por alguns minutos — que só quem tem filhos conhece — que é suprimida por todo o amor. Se cuidar de uma criança é difícil, imagine criar sete, antes dos 40 anos.
Ser mãe de sete nunca fez parte dos planos da engenheira. A conta foi fechando ao longo da vida. A mais nova, Maria Beatriz, tem 8 meses. O mais velho, Pedro, 21 anos. Julyana estava na faculdade, com 17 anos, quando engravidou pela primeira vez. O relacionamento com o pai de Pedro terminou anos depois do nascimento do bebê.
Quando Pedro tinha 8 anos, Julyana se casou novamente. Da união, vieram Luis Felipe, hoje com 12 anos, e João Eduardo, de 9. É preciso uma pausa para fazer as contas: a essa altura, Julyana somava três filhos, todos meninos. O desejo de ter uma garotinha correndo pela casa fez esse número dobrar.
Apesar de uma norma do Conselho Federal de Medicina proibir a sexagem (ato de escolher o sexo do embrião), Julyana, que à época desconhecia a regra, procurou um especialista em reprodução. Foi parar no consultório de Roger Abdelmassih — condenado a 278 anos de prisão pelo estupro de 39 pacientes –, em São Paulo. Por sorte, não foi uma das vítimas. Duas tentativas de fertilização depois, ficou grávida de trigêmeas. “Elas nasceram com 28 semanas, ficaram na UTI, foi um sufoco”, lembra Julyana.
Três anos após o nascimento de Maria Carolina, Maria Eduarda e Maria Fernanda, que hoje têm 7 anos, o casal se separou. Julyana, até então mãe de seis, conheceu Kleber Caiado, com quem é casada atualmente. “Ele adotou o pacote completo. Não tinha filhos e queria muito ser pai. Eu pensei: vamos lá. Aí veio a Maria Beatriz”, relata.
Kleber é fisioterapeuta. O casal se conheceu em um clube de corrida. Julyana sentia dores no joelho e precisou de um profissional. Primeiro, veio a amizade, depois a admiração e o amor. “Eu também vinha de um divórcio. Em nenhum momento enxerguei as crianças como um peso. Adorava ouvi-la falar sobre elas. Além de ser apaixonado, sou muito fã da Julyana”, diz Kleber.
Seria muita covardia da minha parte desistir de um amor por fraqueza, por medo do desafio que é entrar em uma família já formada. Casar com a Julyana foi a melhor decisão da minha vida
Kleber Caiado
A rotina
A família funciona como um time. Os pequenos fazem a própria cama e assumem funções na casa, de acordo com a idade. “Depois das 21h, só os adultos podem ficar acordados. Quem manda em casa sou eu. É muito importante deixar isso claro, pois com sete filhos, não poderia funcionar de outro jeito. Vejo uma geração de pequenos reis e rainhas sendo criados sem ouvir não. Aqui não há espaço para a falta de respeito”, relata Julyana.
Um momento supostamente simples, como levar os meninos para a escola, exige muita organização. O carro da família tem sete lugares. Então, se o pai e a mãe quiserem levar todo mundo para um passeio, precisam de um segundo veículo. No dia a dia, a minivan resolve a locomoção, até o momento. Na hora de viajar de férias, planejar com antecedência é a regra. “Vamos sempre para o mesmo lugar: a casa de praia da minha família. Já pensou pagar hospedagem para essa galera toda?”, brinca.O cansaço mental é maior do que o físico. É muita responsabilidade pensar que sete seres humanos terão você como referência na vida
Julyana Mendes
Em uma das férias, a família foi à Disney. “Via muitos casais com um ou dois filhos tendo mais trabalho que a gente. Os meninos cuidam um do outro, eles mesmos se fazem companhia”, relata Kleber.
Julyana criou um perfil no Instagram, o @mãedesete , para dividir com outras pessoas a sua realidade. Tem mais de 56 mil seguidores. Fala sobre alimentação e educação, por exemplo. Tem até nutricionista parceira para ajudar nos posts.
Além dos momentos felizes, ela fala sobre os dias difíceis. Recebe muitas mensagens de mães curiosas ou com problemas em casa. Longe de querer ser exemplo ou heroína, ela acredita na importância de compartilhar informações, alegrias e, por que não, angústias.
Você surta, chora e isso faz parte. Tenho vontade de sumir quase todo dia. As mulheres sofrem muita pressão para se encaixar em padrões. É preciso entender que mãe não tem que ser perfeita
Julyana Mendes
Tem que ter saúde
A família faz acompanhamento com psicólogo e terapeuta, para que as crianças e os pais se relacionem da melhor maneira dentro dessa organização familiar. Durante uma hora por dia, quando os filhos vão para a escola, Julyana deixa de ser a mãe de sete para ser apenas Julyana. É o momento em que ela vai à academia. “É onde eu renovo as energias, me sinto bem. Se eu não praticar exercício, não dou conta da rotina”, relata.
Há 4 anos, abriu mão da vida profissional para ficar em casa com os filhos. Ela administrava a empresa familiar, no ramo da construção civil. “Fui criada para ser independente e essa transição foi difícil. Hoje, me considero uma pessoa realizada”, diz. A família não têm babá. O casal conta com a ajuda de familiares — como a sogra, irmãos e cunhados — e de uma empregada doméstica.
O espaço físico também ajuda. Quando não estão na escola, nem na natação ou diante do vídeo-game, as crianças correm cheias de energia pelo quintal da bela casa em um condomínio onde vivem. Mas não se enganem: esse não é o cenário de um comercial de margarina. Ali vive uma família sete vezes real.