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A vida depois de… superar a deficiência para ajudar outras pessoas

Flávio Luis ficou cego aos 28 anos, após uma pancada na cabeça. Hoje, é presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais

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Uma pequena casa na 903 Sul significa muito para pessoas com deficiência visual. É onde muitos encontram ajuda para retirar barreiras do caminho. Lá, quem não enxerga tem almoço gratuito, uma gráfica que produz material em braile, computadores com leitores de tela e orientação sobre diversos assuntos. Flávio Luis da Silva, 46 anos, é o presidente da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), que funciona no local.

Flávio perdeu a visão aos 28 anos, depois de levar uma pancada na cabeça, que comprimiu o nervo ótico. “Fiquei totalmente perdido na época, não sabia o que fazer e não acreditava que ficaria cego para sempre”, lembra.

Os pais de Flávio não sabiam como lidar com a nova condição do filho. Para protegê-lo, mantinham-o em casa. “A gente sabe que não é por mal, mas a superproteção faz mal à pessoa com deficiência. Tive que cultivar a minha independência e autonomia para conseguir me adaptar a uma nova vida”, relata.

Assistentes sociais o aconselharam a se matricular no Centro de Ensino Especial de Deficientes Visuais. Nessa escola, Flávio reaprendeu a viver. “No primeiro dia, eu olhava aquelas pessoas cegas tão felizes, dando risada e vivendo a vida normalmente, e isso me causava um sentimento estranho. Eu pensava: vou ficar aqui um tempo, até voltar a enxergar”.

Com a ajuda de colegas e professores, aceitou que sua condição era permanente. Passou a frequentar várias oficinas, entre elas a de arte. Aprendeu a fazer esculturas e descobriu um talento até então adormecido, o de escultor. Até os 28 anos, Flávio Luis da Silva nunca havia entrada em uma galeria de arte ou museu. Trabalhava com análise laboratorial em uma fábrica de bebidas e morava com os pais.

Depois da cegueira, ele perdeu o emprego e precisou se reinventar. Atualmente, construiu uma carreira como artista plástico. Já expôs no Brasil e em vários países. Divide seu tempo entre essa atividade e a presidência da associação, onde é voluntário. A ABDV existe há mais de três décadas e atende mais de mil pessoas. Flávio está à frente do trabalho há um ano e meio, após ser eleito pelos associados.

A gente cobra do governo a questão da acessibilidade. O deficiente físico depende muito do transporte público. A Rodoviária do Plano Piloto, por exemplo, não oferece mobilidade nenhuma. Andar lá é sempre muito difícil. Sem contar as calçadas da cidade, que são todas esburacadas

Flávio Luis

Flávio conta com um aliado especial para driblar as dificuldades de locomoção. O cão-guia Platão faz o papel dos olhos de Flávio. O bicho com nome de filósofo garante a segurança do deficiente visual, por onde quer que ele ande. Estão juntos há sete anos. “Outra cobrança nossa é que se treinem mais cães-guias. São entregues cerca de três animais a cada dois anos”, lamenta.

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Conflito
A ABDV sobrevive de doações e a sede funciona em um terreno emprestado do GDF. Entre os principais problemas, está a divisão do espaço com as atividades do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua. Os deficientes visuais disputam espaço com os sem-teto, que vão até lá para atendimento com psicólogo, assistente social e alimentação.

“É preciso repensar essa situação. Depois que passamos a dividir o terreno com eles, nossos associados deixaram de vir, por conta de assaltos. Os cegos são vulneráveis e acabam sendo prejudicados”, reclama Flávio.

A Secretaria do Trabalho, Mulheres, Desenvolvimento Social, Igualdade Racial e Direitos Humanos informou que desconhece assaltos no local. Reconhece, entretanto, a relação conflituosa e concorda que a divisão do espaço incomoda a ABDV. Mas não informou qualquer plano para solucionar o impasse.

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