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A vida depois de… Se apaixonar na velhice

Pedro Xavier tem 92 anos. Maria do Socorro, 76. Eles namoram há 20 anos e construíram uma relação de amor e respeito, já na fase madura da vida

atualizado

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Aos 72 anos, Pedro Xavier sentiu um aperto no peito. Procurou o médico para um check up. Queria saber, seguramente, o quanto de energia lhe restava para fazer uma mulher feliz. Ouviu do doutor que a saúde ia bem, sem contraindicações para o amor. Os sintomas não eram de doença, mas sim de paixão. Confidenciou ao especialista em coração que, depois de muito tempo adormecido, havia encontrado uma mulher que o fazia ter ilusões.

Depois de conhecer Maria do Socorro Rodrigues, em um grupo para diabéticos e hipertensos, Xavier voltou a sonhar. “Ele disse ao médico que começou a fazer planos, a sentir umas coisas e a ter ilusão com a vida”, lembra Maria, mais falante e mais cheia de energia que o companheiro. Vinte anos se passaram desde o primeiro encontro. Hoje, Xavier tem 92 anos, e Maria 76. Permanecem como namorados: cada um tem sua casa e eles se visitam todos os dias.

Tenho minha cama king size e gosto de me espreguiçar, de ter muito espaço só para mim. Esse negócio de morar na mesma casa não sei não

Maria do Socorro

Depois de uma certa idade, pensar na morte é prudente. Já pensou que coisa triste ia ser eu morrer na casa dela, ia deixar essa lembrança lá, meu filho ia ter que me buscar

Xavier, com um apurado senso de praticidade

 

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Com bom humor, os dois falam sobre a relação nada tradicional

Os dois cuidam carinhosamente um do outro, fazem caminhadas, viajam e saem para dançar. Juntos organizam o baile do Centro de Convivência dos Idosos do Guará, toda quinta-feira à tarde. É quando Xavier escolhe sua melhor camisa social e engraxa os sapatos, que estão sempre brilhando. Socorro está sempre de batom, vestido rodado e brincos.

Vez ou outra uma novata tenta chamar Xavier para dançar. “Minhas amigas logo avisam que a companheira dele é brava e elas se afastam, ficam com medo de mim. A gente dança mais um com o outro. Às vezes libero para alguma amiga minha”, diz Maria, que assume sentir ciúmes do amado.

 

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Maria do Socorro e Pedro Xavier gostam tanta de dançar que organizam um baile semanal para idosos

 

A aproximação entre eles partiu de Maria do Socorro. Ela ignorou as convenções sociais machistas que dão ao homem a obrigação de tomar a iniciativa. “Ele era lindo e dançador, um homem muito disputado. Onde passava, tinha mulher atrás. Eu me encantei e puxei assunto, fui me aproximando”, relata a namorada.

Pedro gostou da morena com sotaque nordestino, cheia de atitude e com perfil enérgico. “Ela é diferente das outras, tem um pulso firme, resolve tudo e não deixa nada para depois. Gostei muito do jeito dela”, relata Xavier.

Os dois se encontraram em Brasília, depois de muitos dessabores. Pedro nasceu em Unaí. É órfão de pai e mãe e desde muito cedo aprendeu a trabalhar como comerciante.Tem 10 filhos, 20 netos, 8 bisnetos e uma ex-mulher. Maria é piauiense e criou os 4 filhos sozinha com o trabalho de costureira, após se separar do marido — ela prefere dizer que eles se descombinaram. Hoje tem 7 netos. As duas famílias convivem em harmonia.

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Eternos namorados: juntos há 20 anos, eles optaram por viver em casas separadas, apesar de se verem todos os dias

 

“Muitos idosos vivem sozinhos, em depressão. A gente se faz companhia. Como ele não escuta bem, não enxerga muito, eu guio os passos dele pela rua, para não tropeçar e se machucar”, conta Maria.

A vida é uma maravilha. Posso dizer que gostei muito dessa estadia no mundo. Não posso reclamar. A essa altura, tenho uma garota dessa ao meu lado

Pedro Xavier

A relação de Pedro e Maria não cabe em definições tradicionais. Eles dispensam rótulos como almas gêmeas ou o de amor da vida um do outro. Para falar de si mesmos, preferem conceitos que construíram juntos nas últimas duas décadas. “Ele é diferente dos homens que conheci, nunca falou um palavrão ou me tratou sem respeito”, define Socorro. Há muito de amizade, companheirismo e cumplicidade entre os olhares trocados pelos dois. O compromisso não precisa de aliança. Está selado entre as mãos mapeadas pelo tempo, que se guiam pela vida.

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