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A vida depois de… sair da Papuda e virar costureiro

Durante os quase seis anos em que ficou preso por tráfico de drogas, Eurípedes Machado aprendeu o ofício, deu a volta por cima e, hoje, tem uma loja onde fabrica e repara roupas, em Santa Maria

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A Vida Depois de… Sair da Papuda ( Eurípedes)
1 de 1 A Vida Depois de… Sair da Papuda ( Eurípedes) - Foto: Giovanna Bembom/Metrópoles

Em 2002, Eurípedes de Jesus Machado, 51 anos, passou a ver o mundo por uma janela do Complexo Penitenciário da Papuda. Trocou a ambição de conseguir muito dinheiro em pouco tempo por um salário mínimo obtido nas oficinas da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do Distrito Federal (Funap-DF).

Acostumado a vender drogas para universitários no Plano Piloto desde a adolescência, Eurípedes teve que encontrar um meio para não sucumbir ao dia a dia na cadeia. Descobriu na alfaiataria um novo caminho para a vida.

Eurípedes nasceu no Guará. Sua mãe, Justina Alves, não tinha condições financeiras para sustentar a família e se viu obrigada a matricular o filho no supletivo para que, assim, ele pudesse trabalhar durante o dia e ajudar nas despesas de casa. Enquanto batia o ponto em um emprego terceirizado no Senado Federal, Eurípedes lidava com a aproximação das drogas.

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Eurípedes em seu comércio em Santa Maria

A maconha foi a primeira droga que ele experimentou. De usuário, passou a traficar os entorpecentes. Aos 16 anos, foi levado pela primeira vez a uma unidade de internação de menores infratores, antigamente chamada de Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Funabem). A detenção ocorreu por intermédio da mãe. Preocupada com o rumo seguido pelo jovem, Justina acionou o juizado de menores. Ao ver o filho longe de casa, ela arrependeu-se e se esforçou para tirá-lo de lá.

Aquele choque não foi suficiente. Saí da Funabem e continuei nas drogas. Até a minha prisão em 2002. O desejo de ganhar muito dinheiro era maior do que o medo de ser pego

desabafou Eurípedes

As linhas e novelos com os quais Eurípedes lida hoje em dia em seu comércio, em Santa Maria, durante muito tempo serviram para embalar os pacotes de drogas entregues nas portas das faculdades do DF. Os pesadelos que tinha, frequentemente, com policiais militares algemando-o, viraram realidade. Uma munição calibre .380 encontrada no interior do carro que ele dirigia levou-o para a detenção mais longa que experimentou na vida.

“Dentro daquele quadrado havia dois tipos de pessoas: as que insistiam pela opção mais fácil e, ao mesmo tempo, perigosa; e as que buscavam driblar as tentações. Eu, que nunca tinha orado, descobri dentro da cadeia a força da fé”, contou Eurípedes. Por meio da religião e do trabalho com a costura, ele passou a enxergar a prisão como a chance de mudar a realidade.

Durante os cinco anos e oito meses que passou na Papuda, Eurípedes juntou dinheiro para se virar fora da cadeia. “Temia ser rejeitado nas ruas. Queria começar do zero, mas não tinha certeza de quando conseguiria sair e, por isso, nunca pensei em levar adiante esse ofício.”

Assim que deixou a penitenciária, Brasília vivia um boom de motoboys e Eurípedes resolveu usar o dinheiro poupado para tirar uma habilitação de motociclista. O investimento, contudo, foi em vão. A carteira de trabalho continuou em branco.

Um estalo veio à cabeça e Eurípedes se lembrou de um alfaiate, amigo da família, que trabalhava em um ateliê na Asa Sul. Com ele, aprendeu a fazer calça social. Depois, concluiu um curso de corte e de costura no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

De lá, passou pelo Polo de Modas do Guará e, pouco tempo depois, foi empregado por uma costureira em São Sebastião. “Com o trabalho, consegui um empréstimo e comprei a minha primeira máquina de costura”. Aos poucos, Eurípedes juntou alguns equipamentos e abriu em Santa Maria uma loja especializada em fabricação de uniformes e consertos de roupas – intitulada Eliú.

Empresas terceirizadas do Banco Central e da Câmara dos Deputados já foram alguns dos clientes de Eurípedes. Hoje, com o apoio da esposa, Iracema do Nascimento, 51, ele emprega sete funcionários – um é menor aprendiz – e tem 12 máquinas de costura.

Entre um botão e outro, o costureiro dá palestras na igreja que frequenta e tenta dialogar com o governo para que seu grupo religioso consiga voltar a visitar os presos da Papuda. E sobre os próximos passos, ele revela entusiasmado: “Vou fazer uma faculdade de moda”.

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