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A vida depois de… perder os movimentos do corpo

Após sofrer grave acidente de carro em 2007, Bruno Braga deu a volta por cima. Hoje, defende o país na seleção brasileira paralímpica de tênis de mesa e luta por uma vaga nos Jogos do Rio de Janeiro

atualizado

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Gabriel Ramos/Metrópoles
Bruno Braga
1 de 1 Bruno Braga - Foto: Gabriel Ramos/Metrópoles

Como fazia toda quinta-feira, Bruno Braga, então com 16 anos, acabava de jogar uma partida de tênis com o pai, Eudo. Na volta para casa, optou por dormir no banco de trás do carro, já que estava cansado e teria uma prova importante na manhã seguinte.

O calendário marcava 31 de agosto de 2007. O veículo que Eudo conduzia se chocou com um muro no caminho entre a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), no Setor de Clubes Sul, e a residência da família, no Park Way. Ele sofre de narcolepsia, a doença do sono, e acabou dormindo no volante. E Bruno, que dormia no banco traseiro sem o cinto de segurança, sofreu o grande revés de sua vida.

Ao acordar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Santa Luzia, quatro dias depois do acidente, Bruno estava com os movimentos do corpo limitados. “Quando fizeram os exames, constataram que eu tinha ficado tetraplégico”, conta. Hoje, ele não movimenta as pernas nem as mãos. Porém, tem controle sobre o tronco, os braços e o pescoço.

“A minha primeira reação ao acordar foi perguntar do meu pai”. A preocupação de Bruno tinha motivo, afinal Eudo também estava no acidente. “Mas me falaram que ele estava bem, então pensei comigo mesmo: o meu pai está bem, do resto a gente corre atrás”.

Ele garante que a relação dos dois se fortaleceu ainda mais após o acidente. “Meu pai é uma pessoa muito importante”, afirma, emocionado. “Nós superamos uma barra muito difícil. Hoje a gente não se separa mais, somos como uma pessoa só”.

Em busca de uma vaga olímpica
Aos poucos, Bruno retomou a rotina. O menino ativo de 16 anos deu lugar ao atleta que hoje, aos 25, luta por uma vaga olímpica. Ele chegou à seleção brasileira de tênis de mesa com seis meses de prática e tem grandes chances representar o país no Rio de Janeiro, em 2016.

“Eu aprendi muita coisa. Na época do acidente, perdi vários amigos e também a minha namorada. Poder chegar e dizer que venci isso, faz tudo valer a pena”, emociona-se. “O tênis de mesa trouxe a minha vida de volta, posso dizer que o esporte me salvou”.

Dois anos depois do acidente, Bruno conheceu a modalidade por influência de um amigo. Guilherme Costa, também mesatenista e tetraplégico, insistiu durante um ano para que ele experimentasse o esporte. Atualmente, os dois são colegas de seleção brasileira e representam o Brasil em importantes campeonatos internacionais.

“Todos os dias o Guilherme chegava para mim e falava ‘vamos, conhecer o tênis de mesa’. Um dia ele insistiu tanto e acabei topando. Quando cheguei lá, vi que estava jogando tênis, como sempre fiz. Só o tamanho que era reduzido”

Bruno Braga
Reprodução/Facebook
Bruno após a conquista do bronze no Mundial Paralímpico de Tênis de Mesa, em 2014 *Reprodução/Facebook**

Aos 25 anos, Bruno coleciona inúmeras medalhas da modalidade. No quarto, uma parede exibe as conquistas para quem quiser ver. A única que não fica exposta é a “toda poderosa”, como chama, em brincadeira com a mãe Nancy. “Essa eu guardo separadamente, em um local muito especial e a sete chaves”, brinca, ao mostrar o prêmio conquistado no último Campeonato Mundial Paralímpico da modalidade, em 2014.

A placa simboliza uma conquista histórica. No ano passado, ele foi o primeiro cadeirante – juntamente com o parceiro Aloisio Lima – a conquistar uma medalha para o Brasil em um mundial da categoria. “É a mais importante de todas. Podem vir milhões de outros depois, mas eu fui o primeiro”, orgulha-se. “Até a Dilma eu conheci. Da primeira vez que me ligaram do Palácio do Planalto, jurei que fosse trote. O que você pensaria se recebesse uma ligação da assessoria da presidente?”, pergunta, sempre bem-humorado.

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