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A vida depois de… perder o rim e a visão por causa da diabetes

Em decorrência da doença, Patrícia perdeu a visão de um olho, precisou fazer um transplante renal, mas surpreendeu médicos e se tornou mãe

atualizado

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A história de Patrícia Bittencourt é recheada de sucessivos milagres que só um livro poderia contar. E foi isso que a servidora pública decidiu fazer. Lançou uma autobiografia na qual revela como é conviver com a diabetes tipo 1, doença que ela contraiu quando ainda era criança.

Em decorrência da doença, Patrícia perdeu a visão de um olho e precisou de um transplante de rim, prontamente cedido pela irmã. No entanto, surpreendeu os médicos, conseguiu engravidar e hoje, aos 46 anos, mostra que tudo é possível quando se acredita no poder da superação.

Felipe Menezes/Metrópoles

Quando fala de sua infância, Patrícia relembra detalhes com exatidão. Entre muitos sorrisos, ela revela minúcias e pormenores das clássicas diversões infantis que, aos 10 anos, foram abruptamente interrompidas por um problema de saúde que, até então, ninguém sabia do que se tratava. Patrícia foi encaminhada para o Hospital de Base, mas a dificuldade do reconhecimento dos sintomas no início dos anos 1980 prejudicou a obtenção de um bom diagnóstico.

“A enfermeira achou que era desidratação e acabou me dando Coca-Cola e eu vomitei tudo. Me colocaram em uma cabine e descobriram que a minha glicose estava tão alta que eu estava quase entrando em coma. Foi aí que diagnosticaram minha diabetes tipo 1”, explicou a servidora, revelando que a censura para “sentir o cheiro de doces” era a única informação que tinha sobre a doença.

A diabetes melito tipo 1 é considerada a mais agressiva. Adquirida na infância, é caracterizada por uma deficiência absoluta de produção de insulina no pâncreas, gerando complicações agudas e crônicas. Este processo, mediado pelo sistema imunológico, ocasiona um quadro permanente de hiperglicemia, daí a necessidade de aplicações de insulina, bem como um olhar atento para dieta e exercícios físicos – esses últimos responsáveis por melhorar o controle da glicose no sangue e diminuir os fatores de risco cardiovasculares.

Arquivo Pessoal

A internação fez com que Patrícia perdesse 10 quilos, no entanto, ela relembra que não demonstrou resistência ao novo aprendizado e iniciou o treinamento: aprendeu a tomar insulina, fazer seu próprio plano alimentar e, principalmente, a se adequar à nova situação. Contudo, na adolescência, o veto aos doces e guloseimas fizeram com que Patricia, em suas palavras, se rebelasse e deixasse de lado as orientações médicas.

Eu me arrependo e acho um absurdo o que eu fiz, mas aprendi minha lição. Talvez precisasse passar por tudo isso para hoje ter consciência e tratar a situação da maneira adequada

Patrícia Bittencourt

A consequência do comportamento na adolescência fez com que Patrícia ficasse com apenas 7% da visão do olho esquerdo, se tornando monocular aos 26 anos. De acordo com a servidora, embora ela estivesse sentindo os sintomas — tendo que fazer sessões de laser para estancar as hemorragias do globo ocular — ela não acreditava que o problema poderia evoluir.

“A cegueira do diabético não tem cura, mas ela te avisa. Se você não muda, não toma consciência e não controla sua dieta um dia ela te derruba de vez porque é uma doença silenciosa”.

Felipe Menezes/Metrópoles

Concomitante ao tratamento da visão, Patrícia descobriu que seu rim também estava afetado pela doença e precisaria de um transplante. Ela, que não queria um doador vivo por causa dos riscos, cogitou esperar na fila de transplante.

No entanto, a irmã mais nova de Patrícia, Cristine Bittencourt, conhecida como Tina pelos mais íntimos, não pensou duas vezes e se prontificou a sair da Nova Zelândia, onde residia, para fazer a doação para a irmã. A lembrança faz Patrícia ir às lágrimas. “Ela disse que não iria embora daqui enquanto não fizesse o transplante. Então eu sou muito grata. Ainda mais que, para ser doador, além de querer, você precisa ser compatível. Eu conheci uma pessoa que tinha nove irmãos e nenhum deles quis doar. E minha irmã se dispôs, e com coragem porque existe o risco”.

Patrícia relembra que após a cirurgia, ela passou a enxergar a vida com mais gratidão, positividade e aguçou ainda mais seu lado espiritual. As orações fizeram parte do dia a dia e a figura de Deus deixou de ser importante e passou a ser prioridade.

Arquivo Pessoal

Com dois meses de transplantada, ela conheceu o marido Paulo César em uma festa. Fazia pouco tempo que a servidora tinha tirado a máscara de proteção por causa do transplante e na paquera foi Patrícia que precisou tomar a atitude. “Porque senão o nosso primeiro beijo não tinha saído até hoje”, relembra ela às gargalhadas.

Depois de casados, veio o desejo por filhos, contudo, Patrícia não acreditava que poderia se tornar mãe. “Meu nefrologista disse que para engravidar eu teria que procurar uma clínica de alto risco, pois era diabética e transplantada. Mas quando ele me disse ‘ acho que você está grávida’ e eu brinquei ‘não, essa barriguinha eu sempre tive’. Ele me examinou e eu já esperava meu filho. Foi uma surpresa emocionante”. As consultas, diferentes do que acontecem normalmente, eram semanais. Mas, tudo correu sem nenhuma alteração.

Felipe Menezes/Metrópoles

A rotina de Patrícia conta com muitas atividades físicas para controlar a glicemia, remédios imunossupressores para evitar a rejeição do órgão transplantado e uma maior atenção a dieta, sem açúcar. No entanto, a parte doce da vida está nas entrelinhas.

Além da vida saudável, João Pedro, seu filho, tem 14 anos e a união com Paulo César está prestes a completar 20. Patrícia decidiu detalhar toda sua história de superação em um livro, que será lançado no dia 18 de abril.

Qualquer obstáculo da vida deve ser encarado com fé. Tudo que aconteceu comigo até hoje me tornou uma pessoa melhor e todos os dias eu aprendo. Eu não me limitei a aprender depois que me tornei monocular ou depois do transplante ou depois do casamento. Eu faço isso todos os dias. É nessa consciência que reside a sabedoria.

Patrícia Bittencourt

 

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