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A vida depois de… meu marido se transformar numa mulher transexual

Casadas há 8 anos, elas falam de preconceitos e mostram que o amor não precisa seguir padrões para ser vivido

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A vida depois de meu marido virar uma mulher
1 de 1 A vida depois de meu marido virar uma mulher - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

A história do casal Anillá era daquelas bem comuns: se conheceram adolescentes, namoraram e casaram. Além de trazer afeto e carinho, os 11 anos de relação também funcionaram como um período de autoconhecimento. Diana Anillá, 30 anos, se descobriu transexual e Lyna Anillá, 26 anos, lésbica.

Deixaram de ser um casal heterossexual, para se transformar em uma mulher trans gay casada com uma mulher não-binária.

Apesar das diferenças, o amor que sentiam uma pela outra as ajudaram a se encontrar e a encarar preconceitos. Por isso, nunca pensaram em terminar. “Não tem como eu viver sem ela, pois seria o mesmo que viver sem mim mesma”, se declara Lyna.

Altos e baixos marcaram o relacionamento até Diana e Lyna “saírem do armário”, como elas mesmas definem. Mas o início do namoro, em 2006, aconteceu como qualquer paquera adolescente: com uma troca de olhares. Diana cantava em uma banda de rock em Brasília e, ao enxergar Lyna na platéia, sentiu que não conseguiria mais viver sem ela. O pensamento foi mútuo.

Mesmo que, de início, as duas formassem um casal heterossexual que, aparentemente, cumpria as expectativas da sociedade, Lyna sempre achou a companheira “muito feminina”. Já Diana acreditava que Lyna gostava de mulheres. “Tem certeza que você não é lésbica?”, perguntou ao conversar com ela pela primeira vez.

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Brigas com os familiares, preconceitos no mercado de trabalho e alguns conflitos entre elas foram cenas recorrentes até se enxergarem enquanto duas pessoas que fugiam dos padrões sociais. O casal quebrou as expectativas da família, que imaginava futuros profissionais e amorosos bem diferentes do que elas escolheram.

Lyna é filha única de uma mãe solo que idealizava um mundo cor de rosa para ela. Os pais de Diana traçavam algo diferente do universo da fotografia e da música: queriam uma filha graduada em direito e enquadrada em altos cargos públicos.

Antes de se casarem, a relação com os familiares já era conturbada. Hoje, não mantém mais contato. Os antigos amigos as apoiaram, mas o casal também conseguiu expandir o ciclo de amizades. Elas devem isso ao fato de terem se encontrado no mundo. “A gente se sente menos julgada pela nossa relação hoje em dia do que antes de nos assumirmos”, avalia Lyna.

Não aguento mais me fantasiar de homem
Assumir o sexo feminino para o mundo fez Diana nascer de novo. A mesma ideia de renascimento coube para Lyna, que conseguiu se enxergar enquanto lésbica. A dificuldade de entender o contexto em que viviam gerou várias dúvidas.

A confusão girava em torno de uma questão intrigante para Diana: ela nasceu com características do gênero masculino, nunca se sentiu parte desse universo e sempre teve atração por mulheres. “Na adolescência eu comecei a entender que não precisava gostar de homem para me sentir mulher”, explicou.

Identidade de gênero e orientação sexual são coisas diferentes. Com gênero, a pessoa se identifica: há quem se perceba como homem ou como mulher. É diferente de sexualidade e por quem se sente atração sexual e com quem se desenvolvem laços românticos. Diana é a prova de que se ser uma mulher trans não significa necessariamente gostar de homens.

“Desde que nos assumimos para o mundo, o sol nasceu de novo. Passamos a nos relacionar melhor e a sermos mais felizes”, disse Diana. Para as “Anillá’s”, a única certeza do futuro é de que o amor, a alegria e a arte sempre estarão presentes na união que, desde o começo, ignorou qualquer julgamento.

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