A Mulher Rei: entenda a importância do filme para mulheres pretas
Protagonizado majoritariamente por mulheres pretas, produção foi lançada nesta quinta-feira (22/9) nos cinemas brasileiros
atualizado
Compartilhar notícia
Nesta quinta-feira (22/9), foi lançado oficialmente no Brasil o filme A Mulher Rei, que têm mulheres pretas como maioria no elenco. A protagonista do longa, Viola Davis, veio ao país para promover a produção. Em entrevista em solo tupiniquim, ela falou sobre a importância de uma história como essa ser contada. “Pode criar o mundo que todos queremos ver”, defendeu.
Para a cientista política Nailah Neves, a indústria cinematográfica está, com A Mulher Rei, dando exemplo para outras esferas, como as salas de aulas. De acordo com a especialista, é mais que urgente colocar heróis afrodescendentes no foco. “Por muitos anos, a branquitude só produziu histórias para eles, até porque narrativas em que eles são o padrão de beleza, moral e inteligência fazia parte do controle sobre os demais”, pontua.
A Mulher Rei conta a história de uma tribo de mulheres guerreiras (o exército Agojie) lideradas por Nanisca, personagem de Viola. Elas são a força militar do reino de Daomé. A trama se passa em 1800, na África, no atual Benin, no período em que o tráfico humano ainda ocorria no continente.
De acordo com Nailah, o fato das pessoas pretas terem mais informações e alcançarem um poder aquisitivo maior pode fazer com que elas requisitem seu direito de também ter suas vidas relatadas em vários formatos. “Nós temos inúmeras histórias em quadrinhos, desenhos animados e filmes de heroínas brancas ficcionais, mas só em 2022 conseguimos um filme inspirado em guerreiras africanas que realmente existiram”, aponta.
Segundo a especialista, essa narrativa não é apenas uma mudança na indústria do cinema e nem mesmo só sobre representatividade para a população preta. “É um resgate de direito a memórias de grupos civilizacionais que foram totalmente apagados dos livros de história”, ressalta.
Viva, Viola!
A expectativa de Viola Davis é que A Mulher Rei e as Agojie sejam capazes de fazer tantas mulheres negras verem seu valor. A atriz e produtora norte-americana sonha em ver a produção se tornar um blockbuster.
Ao longo da coletiva, a qual o Metrópoles fez parte, Viola falou sobre representatividade e como se sentia ao não se ver representada em personagens brancas e seus cotidianos. A americana sonhava com uma personagem que a mostrasse. “Me senti humanizada. O filme fala sobre a complexidade de ser uma mulher negra. É a minha vida”, contou.
Temos a chance de sermos vistas de forma que nunca fomos vistas. Quando eu falo ‘ser vista’, é tanto nos cinemas, nos grandes filmes, quanto na nossa vida real. Nosso poder não é moderado, nossa complexidade é apagada. Somos enxergadas apenas por meio da nossa contraparte branca
Viola Davis
Por fim, ela falou sobre o racismo e a forma como a mulher preta é tratada na sociedade. “As mulheres negras no cinema eram desconhecidas, apagadas. Na minha vida, eu sei quem elas são. Algumas vezes elas não são mães, tias…”, afirmou. “Sou merecedora tal qual Meryl Streep, eu mereço estar na primeira cadeira, eu mereço meu marido. Não me importo que não sou loira, eu mereço estar aqui”, desabafou.
A premiada atriz foi questionada se o longa incentivaria o surgimento de mais histórias como essa. Viola devolveu o questionamento com uma pergunta: “Vocês vão gastar dinheiro para ver o filme de uma heroína negra?”.
A Mulher Rei custou US$ 60 milhões para ser produzido. Nos Estados Unidos, o filme já estreou alcançando um recorde de bilheteria. Só no primeiro final de semana de exibição, arrecadou US$ 19 milhões (aproximadamente R$ 100 milhões), acima do previsto pela Sony, que eram US$ 12 milhões.