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A história por trás dos casamentos arranjados na Síria

Projeto narra como as meninas com idades entre 13 e 16 anos se sentem ao serem obrigadas a se casarem com desconhecidos

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Magnus Wennman
Magnus Wennman
1 de 1 Magnus Wennman - Foto: Magnus Wennman

O Líbano conta com a presença de mais de um milhão de sírios que ali se refugiaram. Na tentativa de sobreviverem fazem qualquer negócio. Arranjam, inclusive, maridos para suas filhas crianças, para que eles passem a sustentá-las. Os casamentos são arranjados e, em sua maioria, as meninas são vendidas. Uma entre quatro mulheres sírias se casam no Líbano antes mesmo de chegarem aos 18 anos. Essas estatísticas pioraram com a crise dos refugiados e a falta de perspectiva.

O fotógrafo sueco Magnus Wennman registrou então cinco perfis dessas meninas — que ainda são crianças — e como são os seus relatos, que vão desde “Eu ainda espero que alguém possa me salvar” a “Eu sonho em me divorciar um dia, mas até agora não foi possível”.

  • Taghride, 15

Magnus Wennman

“O homem com quem vou me casar é tão feio. Ele é gordo e se parece mais velho que meu próprio pai. Eu não suporto a ideia de que ele vai me tocar, que ele vai ser meu marido. Choro com frequência e imploro para minha mãe e meu pai não me forçarem a isso. Ao olhar para esse anel que ele me deu, só consigo pensar em destruí-lo, pois penso em como minha vida estará acabada. Parei de ir para a escola na 6ª série após a bombardearam. Nunca retornei à sala de aula, mas eu sinto falta de tudo que envolva o assunto. Só consigo pensar o tanto que isso é injusto. Nunca pedi por muito na minha vida, queria apenas ter comida na mesa e poder ir para a escola. Mas nem isso é possível. Preciso de alguém que me salve da minha família.”

  • Mona, 14

Magnus Wennman

“Eu tinha 13 anos e ele 28 anos quando o conheci. Eu não sabia muito sobre o que acontecia entre um homem e uma mulher. Antes de nos casarmos, minha mãe me explicou e me sugeriu que encarasse tudo como se fosse completamente normal. Primeiro eu entrei em choque. Eu tive medo. Mas ele foi simpático. Agora eu me acostumei com o que está acontecendo, com ele me tocando. Mas isso levou tempo. Sinto falta da escola, adoraria voltar a estudar, pois meu sonho é ser uma aeromoça. Sei que meu marido jamais permitiria isso, ele disse que agora minha responsabilidade é tomar conta da casa. Aceitei que minha vida será assim.”

  • Darime, 16

Magnus Wennman

“Nos mudamos de Homs há três anos. Eu estava na 7ª série em minha cidade natal quando a guerra tornou-se muito intensa e fomos obrigados a nos mudar. Eu vim para cá mas minha mãe está muito doente e não pude voltar para a escola. Ao invés disto, arranjei um trabalho em uma loja de lingerie. Um homem mais velho entrou na loja e disse querer casar-se comigo. Eu disse sim, pensando que poderia facilitar a vida e assim cuidar da minha mãe, mas ele tornou-se muito ciumento e controlador e eu fugi. Eu fico feliz que não cheguei ao ponto de realmente me casar com ele.”

  • Ghazal, 15

Magnus Wennman

“Eu tinha 10 anos quando a guerra ficou insustentável. Depois que minha escola foi bombardeada meu pai nos proibiu de sair de casa. Não podíamos brincar lá fora, tudo parou quando estava na 4ª série. Um homem de 25 anos disse que queria se casar comigo. Ele me ensinou a ler e a escrever. Fiquei feliz e eu quis casar com ele. Meu pai e meu irmão estão na Alemanha e eu penso que ele está comigo. Ele é legal e me dá dinheiro todos os dias para comprar besteirinhas. Eu espero que a gente se case em breve.”

  • Meervat, 14

Magnus Wennman

“Meu pai (comigo na foto) ganhou 4 mil dólares com o meu casamento. Eu tinha 13 anos de idade e meu marido 22. Na nossa noite de núpcias eu estava tão assustada que fiquei em choque. Ele percebeu e me deixou em paz. No outro dia a mãe dele ouviu que não havíamos consumado o casamento. Ela começou a gritar dizendo que as pessoas iriam pensar que ele não é um homem de verdade e depois nos forçou a consumar o casamento. Mas ela ainda não estava satisfeita. Ela começou a bater nele com um cinto. Permaneci ali por seis meses e tentei lidar com isso, mas eu era tão maltratada que fui parar em um hospital. Então meu pai me resgatou e me levou para casa novamente. Eu sonho em me divorciar um dia, mas até agora não foi possível.”

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