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Ressonância magnética é aliada tecnológica dos homens na hora de detecção do câncer de prostata

Exame não substitui temido toque retal, mas pode ajudar a fazer diagnóstico mais preciso e guiar melhor indicação de tratamento

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Em assunto de saúde, a mulher está anos luz à frente do homem. Em geral, tem mais afinidade com consultórios e exames periódicos do que eles e, por isso, vive em média sete anos a mais, segundo o IBGE. Para os especialistas, um dos culpados dessa aversão que os homens têm em agendar consultas com o urologista é o tal exame do toque retal, para investigação do câncer de próstata. O que muitos não sabem é que ele não é o melhor e nem deve ser o único instrumento de diagnóstico.

A ressonância magnética tem sido cada vez mais defendida por médicos como ferramenta importante na hora de identificar a doença e separar o joio do trigo: o câncer que merece atenção daquele que não vale a penúria do tratamento. “Até 30% dos homens vão manifestar a doença ao longo da vida. A chave não é dizer se a pessoa tem ou não a doença, mas em detectar o câncer clinicamente significativo”, explica o radiologista Leonardo Kayat, professor da Universidade Federal Fluminense e diretor científico da Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro.

Ainda segundo ele, algumas pesquisas dão conta de que entre 30% e 50% dos pacientes submetidos a cirurgias de câncer de próstata poderiam se beneficiar de tratamentos menos agressivos se os diagnósticos tivessem maior precisão.

Assim, a bandeira de Kayat e de especialistas da área é educar sobre os benefícios do uso da ressonância no diagnóstico da doença. A prática já vem sendo usada há mais de 15 anos pela medicina, mas só agora atingiu maturidade o suficiente para virar praxe. Na última quarta-feira (9/12), o médico esteve em Brasília a convite do laboratório Exame para falar com a comunidade médica sobre o assunto. Junto com o radiologista Marcos Madureira, do laboratório, ele conversou com o Metrópoles sobre saúde do homem e o papel da tecnologia no diagnóstico da doença.

Rafaela Felicciano/Metrópoles
Os médicos Marcos Madureira e Leonardo Kayat

 

Já existe entre as mulheres informação e uma maior conscientização da importância dos exames periódicos no diagnóstico do câncer de mama. Entre os homens, no entanto, parece haver maior uma resistência em fazer, por exemplo, o exame de toque. Isso é verdade?

Leonardo Kayat: É verdade. Por uma boa dose de preconceito, porque os homens acreditam que descobrir câncer de próstata é fazer toque retal. O toque retal faz parte da investigação, mas não é o único método e nem é o melhor método. Mas ainda não havia, dentro do arsenal médico, uma ferramenta de tanta acurácia para detectar o câncer de próstata como existe, para as mulheres, a mamografia. A forma de pesquisar o câncer de próstata sempre foi através da combinação do PSA (de sangue) e do toque. Se dava positivo, o paciente fazia uma biópsia. Só que existe aí um problema muito grande com o que a gente chama de superdiagnóstico. Ou seja, você encontrar focos de tumores que não trariam problema nenhum para o paciente e que levavam a um tratamento desnecessário. A grande mudança de paradigma é que a ressonância vem ocupar um papel no meio de campo desse diagnóstico. A gente agora consegue ter um bom rendimento sobre quais áreas dentro da próstata são suspeitas para câncer e quais valem a pena serem investigadas.

Ela serve apenas como exame suplementar ou pode substituir o exame de toque?

Marcos: A ideia é não substituir. Uma coisa é o exame clínico do urologista. A ressonância se apresenta como uma ferramenta a mais para o urologista continuar a investigação.

Leonardo: A porta de entrada do homem ao serviço de saúde geralmente é o urologista. Então é muito arrojado e pretensioso a gente dizer que a ressonância substitui o toque. Porque a pessoa poderia generalizar e dizer que a ressonância substitui a consulta. O toque não é o ponto mais importante da consulta, mas ele é tão importante para marcar a procura do homem pelo atendimento, que não podemos descartá-lo. A chave de tudo é: vá ao médico. Você pode até se negar a fazer o exame de toque, mas não pode deixar de ir ao médico. E outro dado é o seguinte: as mulheres têm notoriamente uma expectativa de vida maior que a dos homens. Isso é explicado pelo fato de que a mulher tem uma relação com o serviço de saúde mais íntima do que o homem. A mulher, por conta dos preventivos que ela faz, tem acesso a práticas de saúde que o homem não tem por ele só procurar o médico quando tem sintomas. Quando a mulher vai ao médico fazer um preventivo, ela também mede a pressão, vê se tem diabetes, olha função renal; e isso detecta doenças tão ou mais graves do que tumores. Quando o homem faz rastreio de câncer de próstata, também faz um eletro, checa a glicose e outras coisas que vão ajudar a detectar doenças silenciosas.

Essa demora do homem em buscar o médico influencia, por exemplo, para que o diagnóstico de câncer nos homens ser mais tardio, quando comparado a mulheres?

Leonardo: Não. Hoje em dia o câncer ainda é detectado em estágio precoce na maioria dos homens. Nos que têm acesso a serviços privados e seguro de saúde. No setor público, o nível de informação da população e mesmo a rede não está preparada a conduzir esse rastreio de forma eficaz. Tanto que existe hoje uma briga entre sociedades de especialidades médicas quanto ao rastreio ou não. Como o câncer de próstata é muito frequente, ele acaba sim sendo detectado de forma precoce. Mas o fundamental é que hoje em dia é uma irresponsabilidade do serviço de saúde uma pessoa morrer disso. Porque é uma doença curável quando detectada precocemente – mais de 90% quando o tumor é de pequeno volume confinado à próstata. Se você tem um tumor que é o segundo que mais mata homens no Brasil, mas sabe que quando o diagnóstico é correto existe 90% de chance de cura e controle, é uma irresponsabilidade não tentar otimizar as ferramentas de rastreio.

Brasília(DF), 09/12/2015 - Cancer de prostata - Leonardo Kaya (radiologista) . Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Brasília(DF), 09/12/2015 – Cancer de prostata – Leonardo Kaya (radiologista) . Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

 

Todos os homens então deveriam se submeter a uma ressonância de próstata?

Marcos: Não é que todo paciente vai fazer ressonância magnética. É porque hoje ela consegue ajudar o clínico a diferenciar o tumor que vai para tratamento do que vai ser apenas acompanhado. E dá mais ferramentas para resolver essa questão da briga entre as especialidades de fazer ou não rastreamento. As especialidades que são contra defendem que você vai operar muito paciente. O exame, na verdade, pode ajudar a selecionar melhor o paciente que vai para cirurgia ou não.

Leonardo: O câncer de próstata não é uma doença esporádica na população. Até 30% dos homens podem manifestar a doença ao longo da vida. E uma proporção considerável – pelo menos 80% – se chegarem a 110, 120 anos, vão ter focos de câncer de próstata detectáveis. Isso acontece por causa da biologia da próstata. A chave não é dizer se a pessoa tem ou não a doença. O paradigma dos últimos anos é a gente não se preocupar mais em detectar o câncer, mas em detectar o câncer clinicamente significativo: aquele que tem condição de matar a pessoa por si mesmo.

Esse exame é incômodo, como o do toque?

Marcos: Não, pelo contrário. O paciente fica deitado na mesa de exame por 30 minutos, com uma injeção de contraste. Ele pode ser feito também com um espécie de antena que você coloca no reto do paciente e que pode gerar desconforto. Mas hoje essa bobina é dispensável.

É alto o índice de gente que se submete a tratamento de câncer de próstata sem necessidade?

Leonardo: É. Chutando por alto, entre 30% e 50% dos pacientes que operam de próstata em países sem grande nível tecnológico poderiam ter se beneficiado de opções menos invasivas. Mas essa informação talvez não seja confiável porque nem sempre esses dados são obtidos por ressonância. E tem um outro dado interessante: a ressonância é uma exame caro. Mas já existem estudos de economia de saúde que mostram que o preço unitário da ressonância é alto, mas no geral, inseri-la no lugar certo sai mais barato na cadeia geral. A ressonância é muito cara quando você considera a unidade do exame comparada ao toque retal, que é gratuito. Mas você economizaria em tratamentos desnecessários ou adiantaria os necessários.

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