Quando é seguro retomar os exercícios após contrair a Covid-19?
Voltar antes do fim dos sintomas pode agravar o quadro. Saiba o que recomendam especialistas
atualizado
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Os benefícios para quem pratica atividade física são incomparáveis. Não apenas pela barriga de tanquinho ou pelo bumbum na nuca, mas porque a lista de melhorias no cotidiano promovida pelos exercícios vai desde uma maior disposição quando você acorda até a qualidade do sono incomparável quando vai dormir.
Se as tão famosas doses de endorfina fazem muita falta para você, o isolamento social como forma de prevenção à Covid-19 pode parecer um atestado de sedentarismo. Imagine ter que dar uma pausa no ritmo de treinos em casa, tão suado e construído na base da força de vontade, para ver uma baixa no seu condicionamento físico por conta de uma infecção pelo coronavírus. Mas, acredite, ela é necessária.
Como uma doença recente, os efeitos da Covid-19 no organismo estão em processo de descoberta contínua pela ciência. Contudo, especialistas já desvendaram que os possíveis impactos do coronavírus no sistema respiratório e, principalmente, no coração, podem afetar a prática esportiva.
É natural sentir-se um pouco indisposto durante a recuperação da doença e é, inclusive, recomendado evitar fazer exercícios físicos enquanto a carga viral ainda estiver alta no corpo. Mas, afinal, quando é seguro retomar a rotina de atividades físicas após vencer a Covid?
O primordial, quando se fala em período pós infecção da Covid-19, é a capacidade de transmitir a doença. Mesmo com o término dos sintomas, é possível que permaneça uma carga viral capaz de infectar os outros. Portanto, é essencial aguardar 14 dias antes de considerar praticar uma atividade esportiva em público — e o isolamento também vale para o convívio com outras pessoas.
Além disso, mesmo em casa, fazer exercícios pode dificultar a sua recuperação. Ainda em casos de sintomas leves, as atividades físicas aumentam a circulação do vírus — a partir da circulação do sangue — e podem ocasionar um aumento da carga viral no coração, resultando em complicações mais sérias.
Mas, então, quando é recomendado voltar?
Em entrevista ao Metrópoles, a cardiologista Clea Colombo, presidente do grupo de estudos cardiologia do esporte, ressalta que o retorno para a atividade física, assim como a recomendação da avaliação médica, depende do quadro clínico que a pessoa teve.
Casos graves costumam gerar consequências maiores, e o organismo demanda mais tempo para se restabelecer. Cada uma das complicações particulares vai exigir uma avaliação profissional para verificar o quanto esses problemas interferem no exercício físico.
No entanto, “o retorno seria, no mínimo, após duas semanas de resolvida a doença”, explica a médica. Aguarde 14 dias após os sintomas sumirem completamente e, então, comece com atividades mais leves.
O retorno deve ser gradual. Nem tente alcançar o mesmo desempenho de antes da infecção na primeira sessão de ginástica. Ou seja, nada de uma rotina pesada no crossfit, uma aula agitada de spinning ou correr como você costumava antes.
Qual a periodicidade e frequência de exercícios recomendada?
Após o tratamento, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) volta a valer. São pelo menos 150 minutos de exercícios aeróbicos leves a moderados por semana ou 75 minutos de atividade intensa. E duas sessões semanais de treinamento de força.
Recomendações para cada quadro
- Para quem testou positivo, mas permaneceu assintomático: evitar exercício físico por pelo menos duas semanas após o resultado positivo do teste. Lembrando que é fundamental aguardar os 14 dias para sair de casa, seguindo rigorosas diretrizes de isolamento.
- Para quem desenvolveu sintomas leves ou moderados: também é recomendada uma interrupção mínima de duas semanas de qualquer treinamento físico, só que essa pausa deve iniciar a partir do fim dos sintomas. É importante considerar a possibilidade de lesão cardíaca nesses casos, sendo necessários exames cardiológicos.
- Para indivíduos recuperados: o ideal é realizar uma avaliação cardiovascular clínica cuidadosa em combinação com biomarcadores cardíacos e imagens. Sem sintomas e nenhuma evidência objetiva de comprometimento cardíaco, o retorno às atividades físicas, com acompanhamento clínico, pode ser feito. Se o teste sugerir problemas cardíacos, o retorno deve aguardar o período de tratamento.
- Para aqueles que foram hospitalizados, mas cujos biomarcadores cardíacos e estudos de imagem estão normais: descanso mínimo de duas semanas após a resolução dos sintomas, levando sempre em consideração testes cardíacos, seguidos por uma retomada gradual aos exercícios.
- Para pacientes que foram hospitalizados, ficando mais gravemente doentes, e tiveram lesões cardíacas associadas ao quadro de Covid-19: recomenda-se o retorno à prática física de acordo com o tratamento da miocardite, mesmo sabendo que ela não representa a única possibilidade decorrente de alterações cardiovasculares.
Acompanhamento médico
Do ponto de vista dos especialistas, é recomendável que todas as pessoas passem por uma avaliação médica antes de voltar ao exercício, “já que temos visto que indivíduos com quadros leves e assintomáticos podem ter comprometimento do coração no futuro”, aconselha Clea Colombo.
No entanto, pelo quadro díspar socioeconômico, “muitas pessoas não tem condições de procurar um médico a curto prazo, e não queremos inibir que ninguém volte à prática de exercícios”, pondera a cardiologista.
Portanto, se for possível, faça uma avaliação médica antes de aumentar a intensidade do exercício, por conta da segurança. “É fundamental saber se esse coração está bom para fazer atividades de alta intensidade”, garante.
Sinais de alerta
É muito comum que as pessoas que tiveram Covid-19, independente do nível de gravidade do quadro, apresentem algumas sequelas. Algumas podem, inclusive, interferir na possibilidade de praticar ou não atividades físicas.
Segundo a educadora física Mônica Marques, à frente da academia Cia. Athletica de São José dos Campos, em São Paulo, existem sinais mais comuns. A miocardite, uma inflamação do miocárdio de origem cardíaca, é um exemplo de contraindicação para a atividade física. Sinais como dores no peito, palpitação ou dificuldades para respirar podem ser sintomas, de acordo com a cardiologista Clea.
“Outras condições, mais comuns, são o cansaço excessivo e as dores no corpo”, pontua Mônica. Essas são as chamadas miopatias, que ocasionam incômodos musculares. Há ainda os sintomas respiratórios, como a falta de ar.
Também existe uma possibilidade maior de trombose como sequela pós-Covid, que tem como seu principal sintoma uma dor forte na panturrilha. Ao identificar esse incômodo expressivo na região, é necessário interromper a atividade e procurar um médico.
Questão de saúde
Falar em prática de atividade física é também tratar de um pilar de vida saudável. Embora a pandemia e o confinamento tenham aumentado significativamente os índices de sedentarismo, “o exercício é essencial para a saúde, porque é capaz de auxiliar a prevenção de várias doenças e, inclusive, minimizar os riscos de quadros graves da Covid-19”, explica Clea Colombo.
Para trazer as primeiras métricas epidemiológicas e clínicas necessárias para facilitar o recomeço após a contaminação pelo vírus, a Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) publicaram um documento com orientações para o retorno seguro à prática de exercícios.