Qualidade de vida é assunto da primeira aula de Felicidade da UnB
“Estar aqui não é um sintoma, não é estar morrendo”, reforçou o professor. Depressão e ansiedade vão ser debatidas durante o semestre
atualizado
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Com Frejat tocando nas caixas de som, o professor Wander Cleber Pereira explicou que, ao longo da disciplina, cada encontro vai começar com alguém colocando uma música na sala. Assim, com a presença de 240 alunos matriculados, foi dada a largada da primeira aula de Felicidade do país, no auditório da Universidade de Brasília (UnB) – Faculdade do Gama (FGA).
A iniciativa veio a partir da criação de uma comissão de saúde mental. Com casos de suicídios de estudantes noticiados no semestre passado, os professores ficaram preocupados com o estado emocional dos alunos e pensaram em medidas para tornar o tempo no campus menos tenso.
“Montamos nossa comissão como uma resposta a essas situações, mas não vamos dar só esse foco, queremos melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirmou Wander. “Promovemos um futebol entre professores e alunos para aproximar todo mundo, vamos pensar em atividades para o corpo docente, pretendemos trazer profissionais para conversar sobre saúde mental. Ainda existem colegas que percebem isso como uma falha, uma incapacidade – continua sendo tabu”.
Durante a primeira aula, o professor não deixou espaço para preconceitos. “Estar aqui não é um sintoma, não é estar morrendo, estamos aqui porque queremos mais”, disse. “Esta sala não é lugar para gente intolerante”, reforçou. Durante o semestre, depressão, ansiedade, fobia social e felicidade vão entrar em pauta e serão foco de debates e esclarecimentos.
Lidia Ruanny, 22 anos, está na reta final do curso de engenharia aeroespacial e ficou atraída pela disciplina, a qual trata de questões mais humanas. “Estou na universidade há vários anos e o meu curso é bem pesado e difícil, sofremos muito”, comentou. “A gente acha normal estar triste, estressada, baixo-astral e desmotivada por causa da faculdade, mas, com essa disciplina, os alunos vão poder ver que não é bem assim”.
A estudante de engenharia eletrônica Débora Janini, 21, vê a matéria como uma válvula de escape da pressão da faculdade. “Ela quebra um pouco o clima da FGA, um campus majoritariamente de exatas, sem muitas aulas de autoconhecimento”, apontou. Débora ainda ressaltou existirem muitos alunos, incluindo ela, sofrendo ataques de pânico e ansiedade devido às cobranças, e que alguns chegam a trancar o curso por isso.
A impressão da aluna foi ecoada por Felipe Farias, 24 anos, estudante de engenharia aeroespacial. “Eu, por exemplo, faço só o trabalho de conclusão de curso e estou tendo problemas emocionais, essa aula vai trazer saídas e soluções. É uma matéria bem necessária”, falou.
Como funciona?
A disciplina é de 60 horas e rende quatro créditos para os matriculados. Apesar dessas formalidades, o professor Wander não quer que a matéria seja tradicional. “Preciso dar nota, mas desejo um espaço no qual o aluno desestresse e se sinta bem”, enfatizou.
Wander afirma não ter passo a passo para a felicidade, já que é um conceito tão amplo e individual. Algumas atividades foram pensadas para dar mais confiança e estímulo para os estudantes, mas não existe fórmula mágica. “A felicidade não é um lugar, é um caminho”, falou.