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Pacientes e especialistas dão dicas para enfrentar o diagnóstico de câncer

‘Metrópoles’ ouviu médicos, psicólogos e pacientes para reunir uma série de dicas para quem começa a jornada de tratamento contra o câncer

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São só algumas palavras. Mas tão fortes que, em segundos, abrem um abismo na frente de quem as escuta. Destrói sonhos, planos de uma vida inteira, do próximo fim de semana. Para muita gente, o desafio de enfrentar o diagnóstico de câncer vai além de traçar estratégias de tratamento. Passa por lutar contra demônios internos que aparecem de repente, sem pedir licença. Significa enfrentar medos nunca sentidos, ver o controle sobre a vida e o próprio destino escorregar por entre os dedos. E, no meio do furacão, se reerguer a tempo de enfrentar o extenuante tratamento, agendar a cirurgia, dar conta dos próximos passos. O câncer não espera.

A experiência da doença é única para cada um dos pacientes. Em geral, dizem os especialistas, o pior momento costuma ser o pós-diagnóstico. A hora em que o chão se abre debaixo dos pés. Já outros, vão se dar conta da situação mais para frente, no seio mutilado, na cirurgia de risco, na recaída.

A verdade, dizem os especialistas, é que a palavra “câncer” é genérica demais hoje para a ciência. Dá nome a uma série de doenças que, para a medicina, podem ser completamente diferentes, do tratamento ao nível de ameaça. Mesmo assim, sempre que é dita em um consultório, gera calafrios. “No primeiro momento, a impressão é que o mundo está desabando mesmo”, pontua o oncologista Fernando Vidigal, diretor médico da clínica Cettro. Mas contra todos os monstros, é preciso se colocar de pé. Curar o coração é tão importante quanto curar o corpo.

Inclusive para a ciência. Várias pesquisas nos últimos anos concluíram que pacientes otimistas, em geral, têm resultados mais positivos no tratamento oncológico. “O emocional gera uma alteração negativa de hormônios que interfere até no tratamento. Pacientes emocionalmente bem, enfrentam a doença de forma mais tranquila”, sublinha Luiz Gonzaga, psicólogo especialista em pacientes com câncer, do Instituto de Oncologia Santa Paula (IOSP), em São Paulo.

Por isso, por mais escuro que o caminho adiante pareça, é preciso seguir, nem que por um fio mirrado de luz. Está difícil saber por onde começar? No mês que marca o Novembro Azul, contra o câncer de próstata, e o Dia Nacional do Combate ao Câncer Infantojuvenil, pacientes e especialistas dividiram suas dicas e experiências com o Metrópoles para quem começa agora sua jornada contra a doença.

1. Não tenha medo da informação
“O primeiro momento costuma ser do medo do desconhecido”, observa Luciana Holtz, psico-oncologista e presidente do Instituto Oncoguia. O segundo momento, portanto, deve ser de conhecer a doença. “Muitos pacientes têm medo da informação. De saber o que é a sua doença. Mas ele precisa entender que mundo é esse, qual é o cenário, o que ele vai precisar fazer. Se é tirar a mama, quanto da mama? Vai dar para reconstruir? E para isso, claro, ele precisa confiar na equipe médica que escolheu para acompanha-lo”, continua.

2. Se apoie nas pessoas que você ama
Pode ser o marido ou a esposa, namorados, os pais, irmãos, o melhor amigo. A fisioterapeuta Raquel Rosa atende há nove anos pacientes oncológicos em Brasília. Há alguns meses, lançou o livro “Entre uma e outra primavera” (Editora Alumnus), que reúne depoimentos de pacientes e profissionais sobre o enfrentamento do câncer de mama. “Para elas, o mais importante é o apoio familiar”, concluiu, ao conversar com as pacientes. “As pacientes que têm alguém que as acompanha em todo o tratamento ficam melhor”, finaliza.

3. E também nos companheiros de luta
Contar com o apoio da família ou de alguém próximo é fundamental. Mas nem sempre supre a necessidade que temos de compartilhar dores. Saber que a luta não é só sua pode trazer conforto ao coração. Assim nasceu o livro de Raquel Rosa. Entre uma consulta e outra, começou a notar que as pacientes passavam horas conversando na sala de espera sobre a doença, trocando dicas, experiências e telefones. Pediu que escrevessem sobre o assunto e compartilhassem com o mundo, em um livro.

Pela mesma observação, o Instituto Oncológico Santa Paula, em SP, criou a Coneccte, uma rede social exclusiva para pacientes. Lá, médicos e especialistas só entram para compartilhar artigos, textos e pesquisas. Das conversas, só participam pacientes. É um espaço livre para falarem de medos, dores físicas e emocionais, efeitos colaterais do tratamento que só quem passa conhece.

“Na psicoterapia, falamos em ‘cura pela fala’. Falar faz bem, e foi baseado nisso que criamos o grupo”, explica o psicólogo do IOSP Luiz Gonzaga, da equipe técnica da rede.Além disso, a rede é um jeito moderno de trazer a sensação de pertencimento, de fazer parte de um grupo de pessoas vivendo a mesma coisa. “Somos um ser gregário. Imagine uma zebra numa savana. Sozinha, ela se torna vulnerável. Em bando, se sente protegida”.

Além da rede, existem outros espaços em que pacientes podem dividir experiências. Algumas redes e hospitais têm grupos de apoio psicológicos para seus pacientes. Além disso, filmes, livros e blogs que contam a experiência de seus autores e tratam do assunto sob o olhar do paciente também podem ajudar. “O diagnóstico pode dar a impressão de que se está sozinho, mas esses grupos fechadinhos, ajudam trazem conforto emocional”, complementa Luciana Holtz.

Confira alguns filmes que tratam do assunto:

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Um Amor Para Recordar (2002):  Em plenos anos 90, Landon Carter é punido por ter feito uma brincadeira de mal gosto em sua escola. Como punição é encarregado de participar de uma peça teatral em sua escola. Quando conhece Jamie Sullivan, uma jovem estudante de uma escola pobre. Com o tempo Landon se apaixona por Jamie que, por razões pessoais, faz de tudo para escapar de seu assédio.
Minha Vida Sem Mim (2003): Sarah Polley é uma garota de 23 anos, casada, com duas filhas pequenas, morando num trailer nos fundos da casa da mãe e trabalhando como faxineira que descobre ter câncer em estágio avançado e ter poucos meses de vida. Ela decide não contar a ninguém e realizar pequenos desejos e missões no tempo que lhe resta.
Pronta Para Amar (2011): No filme Marley (Kate Hudson) descobre que está entre a vida e a morte por causa de um câncer. Em meio a sua luta, ela conhece Julian (Gael Garcia Bernal), um rapaz por quem se apaixona. Neste momento decisivo da sua vida, ela percebe que sente mais medo de amar do que de morrer.
A Culpa É Das Estrelas (2014):  Hazel e Gus são dois adolescentes que compartilham de um humor cáustico, um desdém para o convencional, e um amor que os varre em uma viagem. Sua relação é ainda mais milagrosa dado que outro companheiro constante de Hazel é um tanque de oxigênio. Gus faz piadas sobre sua prótese de perna, e eles se conheceram e se apaixonaram em um grupo de apoio do câncer.
Lipstick (2006): Um filme espirituoso, engraçado e aclamado pela crítica sobre uma jovem determinada a superar os desafios do câncer de mama com coragem e bom humor. Seu batom vermelho brilhante se torna um forte símbolo de seu otimismo. A história gira em torno de Geralyn, uma jornalista recém-casada de 27 anos, que logo após conseguir o emprego de seus sonhos, descobre que está com câncer.
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50% (2011): Adam, roteirista de programas de rádio de 27 anos, é diagnosticado com um tipo raro de câncer. Com a ajuda de seu melhor amigo, sua mãe e uma jovem terapeuta, começa a lidar com sua doença e passa a entender quais são as coisas realmente importantes da vida.

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Um Amor Para Recordar (2002): Em plenos anos 90, Landon Carter é punido por ter feito uma brincadeira de mal gosto em sua escola. Como punição é encarregado de participar de uma peça teatral em sua escola. Quando conhece Jamie Sullivan, uma jovem estudante de uma escola pobre. Com o tempo Landon se apaixona por Jamie que, por razões pessoais, faz de tudo para escapar de seu assédio.

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Minha Vida Sem Mim (2003): Sarah Polley é uma garota de 23 anos, casada, com duas filhas pequenas, morando num trailer nos fundos da casa da mãe e trabalhando como faxineira que descobre ter câncer em estágio avançado e ter poucos meses de vida. Ela decide não contar a ninguém e realizar pequenos desejos e missões no tempo que lhe resta.

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Pronta Para Amar (2011): No filme Marley (Kate Hudson) descobre que está entre a vida e a morte por causa de um câncer. Em meio a sua luta, ela conhece Julian (Gael Garcia Bernal), um rapaz por quem se apaixona. Neste momento decisivo da sua vida, ela percebe que sente mais medo de amar do que de morrer.

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A Culpa É Das Estrelas (2014): Hazel e Gus são dois adolescentes que compartilham de um humor cáustico, um desdém para o convencional, e um amor que os varre em uma viagem. Sua relação é ainda mais milagrosa dado que outro companheiro constante de Hazel é um tanque de oxigênio. Gus faz piadas sobre sua prótese de perna, e eles se conheceram e se apaixonaram em um grupo de apoio do câncer.

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Lipstick (2006): Um filme espirituoso, engraçado e aclamado pela crítica sobre uma jovem determinada a superar os desafios do câncer de mama com coragem e bom humor. Seu batom vermelho brilhante se torna um forte símbolo de seu otimismo. A história gira em torno de Geralyn, uma jornalista recém-casada de 27 anos, que logo após conseguir o emprego de seus sonhos, descobre que está com câncer.

4. Esqueça as estatísticas
Resista à tentação de recorrer ao Google para pesquisar sobre o seu diagnóstico. “O paciente deve ter foco no tratamento, e não se apegar a dados matemáticos. É comum as pessoas chegarem aqui desanimadas, trazerem experiências ruins de um familiar ou um conhecido e tomarem isso como uma sentença de morte”, diz o oncologista Fernando Vidigal.

A opinião é compartilhada por Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia, que criou a ONG justamente para levar informação séria e de qualidade para os pacientes.

“Esses estudos são feitos com grupos específicos, amostragens, nem sempre traduzem a realidade do paciente. É preciso saber o quanto aquilo é real para você. De repente, é bom até discutir com o próprio oncologista quais são os sites que ele recomenda, que são sérios e atualizados”.

5. Não pare sua vida por causa da doença
Manter a normalidade é fundamental para a saúde mental quando nos deparamos com um diagnóstico assustador. E é também recomendação médica. “É o primeiro aspecto do tratamento, que o paciente, na medida do possível, mantenha seus hábitos de vida. Que siga fazendo uma atividade física, com orientação, que tenha uma alimentação equilibrada. O tratamento vai impor dificuldades, mas é possível manter a qualidade de vida”, afirma Fernando Vidigal.

Além disso, ocupar a cabeça com problemas que vão além do consultório médico faz toda a diferença no equilíbrio emocional. “O paciente tem que tentar deixar a vida o mais normal possível. Tem gente que negocia no trabalho e segue com a rotina. Trabalha até quinta na hora do almoço, por exemplo, faz a quimio na parte da tarde, passa o fim de semana se recuperando e está novo em folha na segunda-feira. Assim, ele continua com a vida, continua tendo problemas ‘normais’ de todo mundo”, sugere Luciana Holtz.

6. Some tratamentos para corpo e mente
Segundo Luciana Holtz, muita gente ainda torce o nariz para a psicoterapia no pós-diagnóstico, mas uma ajuda profissional pode ser a diferença entre a sanidade e escuridão absoluta. “Tudo bem, ele não precisa fazer terapia até o fim da vida. Talvez não precisa fazer nem até o fim do tratamento, apenas no primeiro momento. Se todos os pacientes pudessem ter um apoio psicológico depois do diagnóstico, seria o ideal”, diz.

Outros tratamentos ajudam. A ciência já coleciona uma boa quantidade de estudos que corroboram que a meditação mindfulness, por exemplo, ajuda no tratamento ao reduzir os hormônios do estresse e aumentar a sensação de bem-estar, além de ajudar a regular o sistema imunológico. Fé, em qualquer que seja a religião, também traz benefícios similares.

“O tratamento oncológico tem a via medicamentosa e a não medicamentosa, e aí o paciente vai buscar aquilo que lhe traga conforto nessa via. Fé de qualquer natureza ajuda, meditação, terapia, enfim. Todos eles, desde que alinhados ao tratamento médico, somam”.

Fernando Vidigal, oncologista

7. Quando tudo passar, tire disso uma lição de vida
A expectativa de vida e as possibilidades de cura de pacientes com câncer têm aumentado nos últimos anos, por isso, a quantidade de gente que sai da doença inteiro para contar sua história é cada vez maior. “Muitos deles, tiram disso tudo uma lição de vida. Passam a olhar encarar os problemas de maneira diferentes, revê as relações com a família, com a natureza e com o próprio corpo, passa a se cuidar e se conscientizar mais, muda hábitos”, frisa o oncologista Fernando Vidigal.

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