Em busca de melhores resultados, atletas recorrem à ioga e meditação
A prática ajuda na concentração, no autoconhecimento e a canalizar as emoções que cada modalidade requer, segundo especialista
atualizado
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Todo atleta almeja o pódio. Para tanto, é preciso ter treinos regulares, alimentação balanceada e noites tranquilas de sono. Em busca de melhores resultados, esportistas têm recorrido à ioga aliada à meditação como uma alternativa para trabalhar a mente e controlar as emoções ao longo das provas até a tão sonhada vitória.
Quando se fala em meditação, o senso comum tende a crer que a prática é utilizada apenas para acalmar a mente e o espírito. Mas acredite, ela também pode ser usada para liberar a agressividade. Afinal, um de seus objetivos é o autoconhecimento.
Calmo, tranquilo e de coração bom. É assim que o lutador de artes marciais Vinícius Moreira, o Mamute, 29 anos, é descrito pelo treinador Pedro Galiza.
Mamute se prepara para a luta mais importante de sua vida: o Ultimate Fighting Championship (UFC) Brooklyn, em Nova York. O combate será em 19 de janeiro. Até lá, ele precisa aprender a lidar com suas emoções, especialmente para liberar a agressividade no tatame.
“Nas últimas lutas que participou, o Mamute entrou muito passivo. Ele tinha de perder o primeiro round para reagir”, lembra Pedro Galiza. Cinco minutos antes do combate que decidiria o futuro do atleta no UFC – um dos campeonatos mais importantes para lutadores de artes marciais –, ele estava dormindo.
A adrenalina é importante para um atleta. A gente precisa fazer com que ele já entre na luta ligado
Pedro Galiza
Foi por isso que, na reta final para a grande luta, o treinador recorreu pela primeira vez à ioga para otimizar os resultados na preparação de um atleta. Ele conta com a ajuda do professor Wesley Paixão.
Wesley acompanha alguns treinos de Mamute para observar sua performance em situações semelhantes à que ele vai enfrentar no dia 19. “O lutador que faz meditação respira melhor e oxigena mais o cérebro. Ele consegue diminuir a agitação da mente, pensar mais rápido e antecipar uma reação.”
Benefícios diários
Mamute treina em média quatro horas por dias, de segunda-feira a sábado. A rotina inclui treinos no tatame, musculação, crossfit e natação. Às sextas, ele dedica a manhã para praticar ioga. “A gente tem uma visão superficial da ioga e acha que é só para relaxar, mas não. É o autocontrole do nosso corpo: para relaxar mais ou aumentar a sua frequência cardíaca.”
O Metrópoles passou uma manhã com Mamute. Chegamos no meio do treino de luta. O salão estava cheio de lutadores de quimono, golpes para todos os lados, suor escorrendo dos rostos e cotovelos em direção ao tatame. A adrenalina à flor da pele. Na hora seguinte, no estúdio de ioga de Wesley Paixão, o cenário se transforma.
Agora sem as luvas, de calças largas e camisa limpa, Mamute se concentra para respirar corretamente, inspirando e expirando no tempo que o professor pede.
A segunda parte do treino começa com a técnica pranayama para fortalecer e potencializar a respiração pelas vias aéreas – porque o lutador respira mais pela boca do que pelo nariz.
“Na hora da luta, a gente fica tão focado que não percebe. É involuntário. Mas é visível nos pequenos intervalos que temos. Eu fico menos ofegante. A prática também me ajuda a controlar a respiração em um momento de apuro”, avalia.
Chegar ao UFC é o sonho da maioria dos lutadores. A realidade pode ser muito mais estressante do que a vida glamourosa transmitida pelos lutadores de elite nas redes sociais. A rotina inclui treinos puxados, dor e cobrança dos patrocinadores.
As técnicas de respiração prolongada ajudam também a controlar a ansiedade e a dormir. “Eu aprendi a respirar pela glote. Isso me deixa mais relaxado e eu durmo mais rápido.”
Ioga como uma ferramenta terapêutica
Atividades físicas de longa duração levam o corpo e a mente ao estado de exaustão. O bancário Albert Luiz Viveiros, 54 anos, pratica ciclismo e mountain bike de estrada desde 1977. Sua paixão são as ultramaratonas, provas que chegam a ser realizadas em sete dias seguidos, exigindo muito dos atletas.
Há dois anos, ele passou a ter crises lombálgicas, “o terror de todo ciclista”. Por recomendação do médico-ortopedista, começou a praticar a ioga como uma maneira de fortalecer a musculatura interior, e a meditação veio como um plus. “Eu acabei ganhando na questão do equilíbrio”, disse.
Em outubro de 2017, Viveiros participou da Brasil Ride, ultramaratona de sete dias em Arraial d’Ajuda, na Bahia. Atletas de mais de 20 países participam para pedalar, em média, 80km por dia. Albert começou a se preparar com a ioga sete meses antes.
A meditação melhorou o equilíbrio mental do ciclista e a tomada de decisões, auxiliando-o a encarar os obstáculos e resolver o medo. “Você passa a se conhecer melhor com a meditação, respiração, equilíbrio, concentração da mente”, considera.
“Os participantes costumam dizer que é muito mais mente do que corpo. Sem dúvida, é preciso ter a mente controlada, e a meditação te fornece o controle emocional para chegar no objetivo”, avalia.
Quando você está extremamente cansado, no seu limite, você tem que se lembrar das técnicas de respiração para ganhar forças para persistir
Albert Luiz Viveiros