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Dor crônica em qualquer lugar pode ser sinal de endometriose

Especialista explica como tecido que reveste o útero pode se alocar em outros órgãos e passar despercebido por anos por médicos

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Dor garganta
1 de 1 Dor garganta - Foto: iStock

Talvez você não esteja preparada para o seguinte questionamento, mas já parou para pensar se aquela dor no ombro que te persegue há anos não é endometriose? A pergunta pode soar absurda porque a doença, uma das maiores causas de infertilidade em mulheres do mundo, é, por definição, ginecológica.

Acontece quando o endométrio, mucosa que reveste a parede interna do útero, “vaza” durante a menstruação e se prende a outros órgãos, geralmente nos arredores do útero, como os ovários.

Pode ocorrer, no entanto, de esse sangue “perdido” ganhar pernas maiores do que o esperado e se alojar em qualquer outro lugar do corpo, como intestino, bexiga, fígado e, em casos mais raros – e mais graves – pulmão e cérebro.

“Sempre que a mulher menstrua, parte desse sangue vaza para a barriga, para a cavidade abdominal”, explica Marco Aurélio Pinho de Oliveira, chefe do ambulatório de endometriose do hospital universitário da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e autor do livro “Endometriose profunda: o que você precisa saber” (Editora Dilivros).

“Isso é um processo normal. No entanto, possivelmente por causa de uma incapacidade imunológica em reabsorver esse sangue, 15% a 20% das mulheres desenvolvem a endometriose”, continua.

Estima-se que 6 milhões mulheres no Brasil convivam com a doença. A maioria descobre por causa das fortes cólicas, sintoma mais comum da endometriose – sempre que fica menstruada, o tecido instalado fora do útero descama e sangra, causando um desconforto que pode beirar o insuportável.

A forma profunda da anomalia, no entanto, pode ser igualmente incômoda, com a diferença de que muitas vezes passa batida nos consultórios, como alerta o ginecologista.

“Se o endométrio se instalar no intestino, por exemplo, a paciente pode sentir dor na lombar, pontadas no ânus. Às vezes, pensa que é um problema ortopédico e fica sem o diagnóstico correto por anos”, diz Oliveira.

A notícia boa para as hipocondríacas é que encontrar a doença em lugares mais “exóticos” não é comum em quem nunca foi diagnosticada com a endometriose pélvica. Para pacientes já diagnosticadas, no entanto, o médico diz que o sinal vermelho deve ser ligado para qualquer dor crônica que piore no período menstrual.

Há achados da doença nas amídalas, no pulmão – onde, em alguns casos, pode levar ao acúmulo de água -, na bexiga, fígado, cérebro e até no nervo ciático. Nesses casos, além do tratamento hormonal convencional, a solução costuma estar no bisturi. “É uma cirurgia estirpativa e costuma dar boa qualidade de vida para a paciente”, tranquiliza o especialista.

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