Da pílula ao gel: veja um guia completo sobre métodos contraceptivos
Entre pílulas, dispositivos intrauterinos, mitos e verdades sobre a contracepção, saiba o que dizem especialistas
atualizado
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Criada em 1960, a pílula anticoncepcional foi um grande marco e gerou uma verdadeira libertação sexual feminina. Na época, não havia outros métodos contraceptivos além da camisinha. A chegada do anticoncepcional está diretamente relacionada à liberação sexual e ao feminismo. O método se difundiu e, atualmente, cerca de 100 mil mulheres utilizam a pílula ao redor do mundo.
Antes do surgimento do método, casais tentaram todo tipo de recurso para evitar a gravidez ao longo dos séculos. No Egito Antigo, usava-se excrementos de crocodilo, com o objetivo de criar uma barreira ácida. Na Grécia Antiga, a orientação era o óleo de cedro, atualmente usado na aromaterapia.
Na Roma dos gladiadores e do pão e circo, a receita envolvia a introdução da metade de um limão na vagina – como uma espécie de tampa para o colo do útero. As precursoras da camisinha eram feitas de tripa animal e também já circularam por aí objetos similares ao dispositivo intrauterino (DIU), mas feitos de ossos.
Com o passar dos anos, outras alternativas surgiram. Contudo, quando o assunto é impedir uma gestação, não existe opção completamente eficaz. Até mesmo soluções mais modernas, como a camisinha e a pílula anticoncepcional, têm índices de fracasso. A indústria segue em busca de inovações para garantir mais conforto e segurança quando se fala em planejamento familiar.
O que há de novidade
De acordo com Jordanna Diniz, ginecologista e cirurgiã ginecológica, a maior novidade dos últimos tempos é o DIU com menor dosagem hormonal, que permite contracepção também com menores efeitos colaterais ligados à progesterona. Há também uma opção do dispositivo cobre com prata, de menor tamanho, “que promete menos cólicas e sangramento associado”, explica.
Há ainda uma série de métodos anticoncepcionais voltados para o universo masculino sendo produzidos. Entre os principais contraceptivos para os homens, o anticoncepcional em gel, a pílula masculina e a injeção são os que parecem apresentar melhores resultados. Entretanto, todos seguem em um arrastado processo de desenvolvimento e testagem.
“No Brasil, ainda não temos bem difundida a contracepção masculina”, explica a ginecologista Jordanna. “Por ora, as mulheres detém essa ferramenta com maior consciência e adesão”, afirma.
Recentemente, a agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos aprovou um gel anticoncepcional livre de hormônios.
Batizado de Phexxi, o produto, comercializado pela biofarmacêutica americana Evofem Biosciences, é indicado para ser aplicado uma hora antes do sexo. De acordo com a empresa, ele é capaz de torna o pH da vagina inóspito para os espermatozoides.
As opções de métodos disponíveis no mercado
A gama de métodos contraceptivos é ampla, com níveis de eficácia e exigências de adaptação diferentes. O mais comum, a camisinha externa, é sem dúvida o mais famoso. Embora apresente apenas 82% de eficácia quando o assunto é impedir a gravidez, ela é imprescindível como barreira física para controlar a transmissão doenças sexualmente transmissíveis.
Um dos métodos mais difundidos ao redor do mundo, quem toma a pílula anticoncepcional tem 9% de chance de engravidar. Ou seja, de cada 100 mulheres que tomam pílula, 9 engravidam sem ter planejado. Isso ocorre, principalmente, por conta da necessidade de ingerir os comprimidos todos os dias, preferencialmente no mesmo horário. O método apresenta diversos efeitos colaterais ao corpo feminino.
O adesivo hormonal, que libera o hormônio feminino estradiol e deve ser trocado semanalmente, apresenta 91% de eficácia. Há ainda o anel vaginal, com o mesmo nível de proteção contra a gestação. Durante três semanas, o anel libera hormônios que são absorvidos pela vagina.
Com a mesma ideia da pílula, há a injeção anticoncepcional, mas com um princípio de depósito. Ela também inibe o ciclo menstrual, contudo, os efeitos colaterais costumam ser mais intensos. Quem investe no método tem 6% de chance de ficar gestante.
Campeões quando o assunto é segurança, os dispositivos intrauterinos (DIU) de cobre (99,2% de eficácia) e de mirena (99,8%) apresentam efeitos colaterais reduzidos e funcionam de maneiras distintas no corpo. O DIU funciona como uma barreira física. No caso do DIU de mirena, há a liberação de um um hormônio (parecido com a progesterona), que gera alterações no endométrio e nas trompas uterinas, impedindo a gestação.
O uso da pílula anticoncepcional
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 61,6% das mulheres brasileiras optam pela pílula como método regular para evitar uma gravidez não planejada. Nos consultórios, a cena se repete: a jovem, antes mesmo da primeira relação sexual, já começa a tomar o remédio. A pílula não serve apenas para evitar gravidez, como também ajuda a controlar problemas como a endometriose e o ovário policístico.
Esse é o caso de Amanda Corcino, que toma a pílula desde os 16 anos. O método foi uma alternativa para diminuir os efeitos de uma cólica muito forte, além de melhorar a pele, em uma tentativa de não recorrer a remédios mais fortes.
“No começo deu muito certo, a pílula funcionava por cerca de um ano e, depois disso, eu voltava a ter cólicas, o que atrapalhava muito a minha qualidade de vida”, relata. E então, assim que o anticoncepcional parava de “resolver o problema”, ela partia para o próximo. Em cada um dos tipos de medicamento ela descobria uma “Amanda diferente”.
“Os efeitos da pílula mexeram muito comigo. Eu já passei por Amandas choronas, Amandas agressivas, Amandas que não sentiam nada, tudo por conta do hormônio”, relembra.
Os efeitos negativos do contraceptivo são bastante difundidos. Desde dores de cabeça, náuseas, alteração do fluxo menstrual, aumento de peso, alterações de humor, diminuição de libido até aumento do risco de trombose.
“O corpo feminino foi feito para trabalhar de forma diferente todos os dias. A pílula anticoncepcional exerce um bloqueio no eixo hormonal feminino, impedindo as variações que resultam na ovulação”, explica a ginecologista e obstetra Bruna Pitaluga.
“Essa inibição traz uma série de malefícios ao corpo feminino, desde o cérebro, ao útero e ovários, até o sistema imunológico feminino”, completa. Sem falar que a eficácia é muito baixa para a quantidade de efeitos negativos, de acordo com a especialista. Existe uma chance de 9% de gravidez utilizando o método.
Quase 10 anos após o início do uso da pílula, Amanda descobriu que as cólicas fortes eram um sinal de um problema mais sério, a endometriose. O quadro é caracterizado pelo crescimento exagerado e anormal do tecido que reveste o útero.
Algum tempo após o diagnóstico e o incômodo da pílula, a brasiliense resolveu colocar o Dispositivo Intrauterino (DIU) de mirena. Desde então, ela relata um “aumento da qualidade de vida significativo”.
De bem com o fluxo
De acordo com a ginecologista Bruna Pitaluga, “no futuro iremos colher os frutos de uma geração que começou a usar métodos contraceptivos muito cedo. Vamos pagar um preço bem alto com relação a problemas como câncer de mama, trombose, depressão e outras complicações”, alerta.
Nathalia Ohofugi resolveu colocar fim ao uso de hormônios. “Eu percebi que não queria continuar tomando pílula. Não porque eu me sentia mal, eu nunca tive efeitos colaterais expressivos. Porém, sabia que aquilo não era algo natural do meu corpo”, explica a advogada.
Ela decidiu colocar o DIU de cobre, porque não queria investir em um método que alterasse as suas funções biológicas como elas são, sem deixar de menstruar, o que para ela, é um processo importante enquanto mulher. Quando foi fazer a troca, percebeu que o anticoncepcional “estava atrofiando o útero”, relata. Nathalia e a médica então acharam prudente esperar seis meses sem o uso da pílula antes de colocar o dispositivo.
“Você volta a ter esse contato com o seu ciclo e com as suas questões de fertilidade, isso também faz parte do autoconhecimento, é algo que fez muita diferença para mim. Com o anticoncepcional, você vive uma coisa muito manipulada”, diz.
Como trocar de método
É natural sentir desconforto com certo tipo de método contraceptivo, uma vez que cada organismo funciona de maneira particular. Contudo, antes de pular de um para outro, há algumas recomendações de transição. O endocrinologista Rodrigo Ferrarese ensina o que deve ser feito antes de realizar a transição entre algumas das opções disponíveis.
Você usa injeção e quer trocar para comprimido
Neste caso, assim como a injeção, recomenda-se começar a tomar a pílula na mesma data em que a injeção seria aplicada. Uma nova cartela deve ser iniciada independentemente da sua menstruação. Se, ao contrário, você segue uma cartela e quer mudar para injeção, o ideal é que, no término de uma cartela, no dia em que começaria outra, já opte pela injeção.
Você quer tirar o DIU e passar a tomar pílula
Assim que tirar o DIU, no dia seguinte, inicie uma cartela de anticoncepcional. O ideal, preferencialmente, é esperar a menstruação. Ou seja, retirar o DIU quando estiver menstruada e começar uma nova cartela no dia seguinte, ou no mesmo dia que tirar o DIU.
Você toma pílula e quer colocar o DIU
Recomendamos sempre que o DIU seja colocado durante o período menstrual. Assim, você interrompe a cartela, espera a menstruação vir e coloca o DIU. E, então, não precisa mais tomar pílula nenhuma.
Confira mais detalhes sobre o uso de métodos contraceptivos no vídeo da ginecologista Bruna Pitaluga, do Hospital Santa Lúcia.
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