Curso de bordado: uma forma de meditação e autoconhecimento
Juçara Costa é quem ministra as aulas. Ela é de uma família de bordadeiras e descobriu nessa arte um poder de aceitação
atualizado
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Há quase 20 anos, Juçara Costa quis reinventar suas roupas. Achou em um mercado sacos de açúcar que a inspiraram e criou um guarda-roupa inteiro usando o tecido. “Minha mãe enlouqueceu. Foi quando busquei a memória da infância e pensei em fazer um bordadinho para dar um toque especial”, lembra a artista plástica.
Ela se apaixonou pela técnica e começou a inventar pontos com a linha. Nunca mais parou de bordar. O primeiro vestido, inclusive, segue em construção até hoje: duas décadas depois, ele ainda recebe aplicações e detalhes. Transformou-se em terapia.
Com inspiração nas mulheres, na feminilidade e no histórico de bordadeiras de sua família, Juçara, que é mineira e tem 65 anos, queria provar que todo ser humano tem potencial criativo. Foi aí que, em 2015, ela criou o Desenho Bordado, carinhosamente chamado de DB.
O curso dura 4 meses e é realizado em Belo Horizonte, onde Juçara vive. No final de agosto, ela esteve em Brasília e ministrou um curso de iniciação ao bordado na Escola Quântica e Holística. Juçara ensinou às alunas que não há certo e errado.
Em suas aulas é proibido desfazer o ponto feio, e o avesso deve ser considerado tão bonito quanto o direito. As mulheres aprendem que não são perfeitas, o importante é estar ali, focada no presente.
Na segunda parte da aula, as alunas começam a bordar um manto. Não precisa saber previamente as técnicas. A ideia é que, sem lápis nem rascunho, elas se conectem com sua essência, sosseguem o barulho interno e entrem em conexão com a própria alma. É uma espécie de meditação.
“O manto vai falando várias coisas. E ele é um abraço concreto delas para elas mesmas. Uma aluna, por exemplo, está bordando com arame. Eu não vou falar nada, mas quando ela vestir o manto, vai perceber que o abraço está duro, afiado”, explica a artista plástica. Juçara borda mantos para cada um de seus filhos, pega as agulhas e linhas quando pensa neles ou quando está preocupada com alguma viagem.
Apesar da maior parte dos alunos ser mulher e do bordado estar associado à feminilidade, Juçara conta que já foi chamada para ministrar uma vivência a 27 diretores de escolas. “Foi muito rico. A sensação que eu tive é que eles ficaram tão frágeis, cheios de sensibilidade. Se desarmaram”, lembra.No final, a artista plástica, que também é atriz, apresenta o monólogo “Júlia e a Memória do Futuro”, escrito por Jair Raso e com direção de Kalluh Araújo. Juçara vive uma mulher de 90 anos que se encontra com a morte e revive suas memórias. Depois disso, alunas e professora se sentam para dividir histórias.
Eu brinco que é um curso de autodesconhecimento. Desaprendam tudo o que aprenderam. Quero que cheguem ao final vazios, como uma tela em branco, como um tecido liso
Juçara Costa