Bichectomia, a cirurgia da moda, pode te envelhecer mais rapidamente
Procedimento caiu nas graças das pessoas com rosto arredondado e, por ser relativamente simples, virou tendência. Especialistas fazem alerta
atualizado
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De tempos em tempos um procedimento cai nas graças das pessoas e acaba virando “modinha”. Na maioria das vezes, as celebridades são as responsáveis por popularizar o movimento. Não foi diferente com a bichectomia, cirurgia para deixar o rosto mais fino e tirar o aspecto arredondado.
Na face, existem diversos compartimentos de gordura que funcionam como coxins de proteção. Essas áreas se estendem ao longo de toda a superfície lateral do rosto, em plano profundo, desde a têmpora até próximo à mandíbula, recebendo o nome de bola ou bolsa de Bichat. O procedimento consiste em retirá-las pela parte interna da bochecha, cortando a gengiva.Salvo exceções mais complicadas, a operação dura entre 30 minutos e uma hora e pode ser feita com anestesia local, geral ou local com sedação. Parece simples, não é mesmo? Cirurgiões plásticos, dermatologistas e dentistas discordam.
“O procedimento já existe há um certo tempo, não é recente. O que vem acontecendo é a banalização, qualquer um quer fazer e faz. Existem dificuldades e riscos, como pegar o nervo facial, causando paralisia da face, lesão no ducto da glândula parótida (canal da saliva), infecções, sem contar o envelhecimento do rosto”, explica a cirurgiã plástica Ivanoska Filgueira.
A dermatologista Melissa Chaves explica que o envelhecimento é geral, não acontece apenas na pele. “Vem do osso, depois o músculo atrofia e, com o tempo, a gordura diminui de volume, tirando a sustentação da derme nas camadas mais profundas. Principalmente após os 40 anos, a pele cai e acontece um derretimento mesmo”, diz.
A especialista reforça que existem algumas indicações para realizar a bichectomia, mas não é muito amplo e quando a pessoa com rosto mais magro se submete por conta e risco, está adiantando o processo de envelhecimento. “É irreversível. Depois, se esse paciente se arrepender, vai precisar ficar repondo, de seis meses a um ano, com substâncias artificiais, o ácido hialurônico, por exemplo”, fala.
O caso certo para o procedimento
Com 24 anos, Luíza Vale achava seu rosto muito redondo, dando um ar de mais nova. Para se livrar da cara de “menininha” resolveu se submeter à bichectomia.
“Tenho uma página onde posto vídeos de maquiagem e sempre caprichava no contorno para afinar as bochechas. As pessoas me acompanham pela rede e ficam surpresas ao me encontrar pessoalmente, pois tinham outra impressão do meu corpo. Me incomodava bastante”, conta.
O profissional escolhido explicou todos os riscos, fez o estudo facial e deu resposta positiva sobre a necessidade da cirurgia. Luíza tomou uma anestesia local e achou o procedimento bem tranquilo e de imediato gostou do resultado.
“Fiquei com o rosto mais cavadinho, de mulher, minha autoestima melhorou muito. Não me arrependo”, afirma, aos 26 anos.
Como surgiu a “redução das bochechas”
A bichectomia é indicada para pessoas com mordiscamento (morder a bochecha por dentro). A cirurgiã-dentista Heloísa Crisóstomo reforça o fato de o procedimento ter sido criado para esse fim específico. “O resultado é funcional, a estética é apenas um adicional”, diz.
A especialista reforça que não existe uma simulação para garantir como será o resultado. “A ressonância mostra nervos, mas não a quantidade de gordura presente para calcular o volume a ser retirado”, explica a cirurgiã-dentista.
A principal função das bolas de Bichat é auxiliar na sucção durante a amamentação. Ela impede as mucosas da boca encostarem uma na outra no momento da sucção. Isso explica o porquê da bochecha dos bebês em amamentação serem maiores que as das crianças mais velhas.
Essa função se perde conforme as pessoas crescem, e, com o passar do tempo, o corpo vai absorvendo a gordura e deixando o rosto com aspecto mais magro. “Por isso, para as pessoas com o contorno mais arredondado, pela disposição dos músculos da face, esse procedimento não adiantaria nada”, fala a cirurgiã plástica Ivanoska.
O importante é procurar um profissional qualificado para tirar as dúvidas, analisar o paciente individualmente e dar a palavra final sobre a necessidade ou não do procedimento. “Existem casos onde o paciente tem edema facial prolongado, abscessos no rosto, precisa ser internado, tudo isso porque o médico não era especializado”, diz a médica.
Para ela, menores de 21 anos devem esperar e não realizar o procedimento antes de atingir a idade.