8 medidas simples para manter a saúde mental durante o isolamento
Especialistas ensinam como preservar o bem-estar psicológico em meio à crise do coronavírus
atualizado
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“De repente acordamos e tudo mudou. A Disney não tem mais magia, Paris já não é romântica, nenhum caminho quer levar a Roma, em Nova York todo mundo dorme e a Muralha da China não parece mais uma fortaleza. Abraços e beijos tornaram-se armas e não visitar os avós virou um ato de amor”. A mensagem que circula na internet, de autor desconhecido, narra com delicadeza o cenário de luta do mundo contra a pandemia do novo coronavírus.
Desde que fez as primeiras vítimas, em dezembro de 2019, a doença tem afetado a rotina e os ânimos da população. De início, para conter a disseminação, especialistas recomendaram, apenas, evitar visitas à China, país de origem da Covid-19.
Depois, acrescentaram medidas preventivas, como cancelamento de viagens internacionais e intensificação das práticas de higiene pessoal. Em seguida, com a assustadora progressão da epidemia, governos foram obrigados a intervir. Fronteiras foram fechadas e o funcionamento do comércio foi interrompido – medidas pensadas para evitar a circulação e aglomeração de pessoas, principais formas de contágio da doença.
Agora, neste panorama semi-apocalíptico, com hospitais lotados e gôndolas de supermercados vazias, outra questão de saúde pública vem à tona: como preservar a saúde mental dos cidadãos em meio à crise?
Afinal, manter o bem-estar da mente com a brusca mudança na rotina e as incertezas sobre o amanhã é desafiador. E a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece isso. Nessa segunda-feira (16/03), o órgão publicou uma lista de orientações para zelar pelo lado psicológico durante o pico do coronavírus e, dessa maneira, evitar quadros de ansiedade e depressão.
“O repentino e quase constante fluxo de notícias sobre um surto pode deixar qualquer pessoa preocupada”, diz o documento. A sugestão da organização para minimizar essa angústia é escolher um meio de comunicação confiável para, ao menos, não ter versões conflitantes sobre o tema.
A psicóloga clínica Mara Gomes revela que uma maneira eficaz de não alimentar a ansiedade sobre os rumos da doença é, também, consumir histórias positivas sobre a Covid-19, como as experiências de pessoas que se recuperaram e os avanços nas buscas por tratamento.
Outro conselho da OMS é manter contato com entes queridos por telefone e oferecer ajuda a quem precisa.
Quem se agarra a essa recomendação e tem tirado bons proveitos dela é a arquiteta Rafaella Brasileiro, de 30 anos.
Esposa de uma das primeiras vítimas de coronavírus do Distrito Federal, a moradora do Lago Sul encontrou no apoio familiar a fórmula para superar o período de confinamento e a preocupação com o estado de saúde do marido. “Uma coisa muito legal que estou fazendo é encontros on-line com toda a família”, revela.
“Nesta semana, por exemplo, nos reunimos virtualmente para cantar parabéns para uma prima”, conta. Rafaella, o marido e os dois filhos estão isolados desde o dia 14/03. “E assim ficaremos por um bom tempo. Perder o direito de ir e vir é difícil, mas com otimismo e apoio de quem se ama, tudo simplifica.”
Os pacientes diagnosticados e pessoas que residem na mesma casa devem cumprir isolamento obrigatório por 14 dias.
A terapia on-line também é uma maneira eficaz de manter a mente sã. Ciente disso, o Conselho Federal de Psicologia acaba de suspender a obrigatoriedade de cadastro para psicólogos que decidirem oferecer atendimento virtual. A medida foi tomada para ajudar pacientes durante o isolamento, seja ele voluntário, seja ele obrigatório, e deve ser revogada assim que a situação se normalizar.
A funcionária pública Ana Carvalho, de 32 anos, recorre ao atendimento remoto para controlar a crise emocional desencadeada pela calamidade pública provocada pelo vírus.
“Estou trabalhando em home office há uma semana. Cumprir a jornada profissional de casa é um desafio, mas até aí tudo bem. Engatei um quadro de ansiedade e insônia quando fui à farmácia e vi prateleiras vazias e pessoas de máscara. Foi quando minha ficha sobre a gravidade do problema caiu”, relata.
Bateu um medo do futuro. Pela primeira vez na vida, não sei como será o próximo mês
Ana Carvalho, 32 anos
Ela espera que as sessões de terapia amenizem a inquietude. “Minhas consultas com a psicóloga estão marcadas e serão por vídeo. Vamos tratar a ansiedade. Para vencer esta doença, meus pais idosos precisarão de mim”, conclui.
O psiquiatra especializado em medicina psicossomática e hipnose clínica Leonard Verea ainda salienta que praticar exercícios físicos, afastar-se das redes sociais e dedicar tempo a hobbies, como leitura e jardinagem, são medidas capazes de tranquilizar a mente e afastar os pensamentos negativos.
“A ansiedade que as pessoas estão vivendo neste momento é movida a falta de conhecimento e sensação de impotência”, analisa o médico. “Em situações de incerteza e ausência de controle como esta, é importante manter a calma, a resiliência e focar as energias em atividades que restabeleçam o equilíbrio e bem-estar”, aconselha.
Segundo o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, a epidemia do novo coronavírus no país deve atingir seu ponto máximo entre os meses de abril e maio, período em que o governo será mais rigoroso com as medidas restritivas de circulação. A expectativa é que o cenário melhore e, consequentemente, as determinações se afrouxem entre agosto e setembro.
Até lá, as recomendações são, de fato, intensificar as práticas de higiene pessoal e evitar aglomerações. Ou seja, ao que tudo indica, longos períodos em casa e noticiários monotemáticos, com as atualizações da pandemia, serão a grande realidade dos próximos meses.
Para não perder o norte neste meio tempo e acabar ferindo o equilíbrio emocional, siga as oito dicas destacadas pelo Metrópoles: