Marcas como a Natura abolem ingrediente triclosan. Entenda polêmica
Pesquisas associam esse componente, presente em cosméticos e produtos de higiene pessoal, a problemas de saúde como o câncer de mama
atualizado
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Você costuma ler o rótulo de produtos? Se não, deveria. Por trás de embalagens chamativas, em meio àquelas letrinhas miúdas da composição, podem estar escondidos ingredientes que, acredite, você não quer perto do seu corpo. Um deles é o triclosan, uma substância química bactericida que atua como conservante de diversos cosméticos e artigos de higiene pessoal.
A polêmica envolvendo esse componente está em alta. Na semana passada, o perfil Novos Produtos, famoso no Instagram por divulgar grandes lançamentos do mercado, avisou que, a partir daquele momento, deixaria de anunciar itens com triclosan na composição. A Natura, a maior empresa de beleza do Brasil, também já declarou ter abolido esse ingrediente de todos os seus cosméticos. Mas, o que tem motivado ações como essas?
Primeiramente, é importante ressaltar que o triclosan foi considerado revolucionário em 1966, quando foi patenteado pela companhia química Ciba, na Suíça. No entanto, com o avançar dos anos, o produto passou de mocinho a vilão. Pesquisas recentes associam o ingrediente a problemas de saúde como câncer de mama e ovário, alterações hormonais, desenvolvimento de germes resistentes a antibióticos, queda do sistema imunológico, alergias, osteoporose e fragilidade muscular.
Além disso, o triclosan não é biodegradável — ou seja, impacta negativamente o meio ambiente. “A maior preocupação a respeito desse ingrediente refere-se a seu grande consumo no mundo, aliado ao fato de não ser biodegradável. Um de seus possíveis impactos é sobre micro-organismos aquáticos. Por essa razão, o triclosan consta nas listas de substâncias perigosas ou de risco da União Europeia (UE) e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)”, alerta a Natura.
A Food and Drug Administration (FDA), a agência reguladora dos Estados Unidos, também já declarou que o componente não é reconhecido como seguro. Em 2016, ela impôs regras para a comercialização de produtos que contêm essa substância em território norte-americano.
No Brasil
Após o posicionamento da FDA, o Ministério Público Federal de Minas Gerais entrou com uma ação civil pública pedindo que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibisse o uso do triclosan em qualquer tipo de produto fabricado, distribuído, comercializado e exportado pelo Brasil. A justificativa usada foi de que existe um intenso debate na comunidade científica sobre os perigos do uso indiscriminado dessa substância.
“O problema é que nosso uso é cumulativo, porque utilizamos vários desses produtos várias vezes ao longo do dia. Além disso, estudos recentes também apontaram a presença de triclosan no ambiente, especialmente em águas residuais, nos efluentes de estações de tratamento de água, em rios e em sedimentos, o que decorre justamente da sua presença em produtos de limpeza e de higiene, que são descartados diariamente”, afirmou à época o procurador da República Cléber Eustáquio Neves.
A Anvisa recebeu o requerimento do MP, mas segue permitindo a utilização de 0,3% do componente em produtos de higiene pessoal. “A utilização do triclosan está estabelecida pela Resolução de Diretoria Colegiada nº 29, de 1º de junho de 2012, que resultou da internalização da Resolução MERCOSUL GMC N° 08/11, que trata da lista de substâncias conservantes permitidas em produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes. Trata-se, portanto, de decisão técnica, decorrente de harmonizações internacionais de requisitos sanitários cuja revisão é normalmente realizada em avaliação conjunta no âmbito do Mercosul”, revela nota da agência enviada ao Metrópoles. A decisão, defendem, é conjunta com Argentina, Paraguai e Uruguai, país que completam o bloco.
Questionada se há pesquisas em curso sobre o potencial danoso dessa substância, a Anvisa respondeu que sim. “A agência editou a Consulta Pública 749/2019, com a proposta de atualização da lista de substâncias de ação conservante permitidas, a qual envolve também o assunto triclosan. Neste momento, essa Consulta Pública está na fase final de consolidação de dados”, conclui o comunicado.
O que dizem os especialistas
Para a médica Clarissa Borges, integrante da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e sócia da clínica Harmonie, essa tendência de excluir o triclosan da composição de cosméticos, como fez a Natura, veio para ficar.
“O triclosan é uma substância química com propriedades antibacterianas. Por décadas, ele foi adicionado a produtos de cuidados pessoais, como sabonetes e cosméticos para as mãos, e materiais que vão de roupas esportivas a embalagens de alimentos. Quando você usa um produto que contém triclosan, uma pequena quantidade pode ser absorvida pela pele ou pela boca, o que, segundo estudos científicos, pode trazer diversos malefícios à saúde”, elucida.
“Se você está preocupado com o triclosan, verifique as listas de ingredientes de seus produtos”, recomenda.
O portal também entrou em contato com o Conselho Federal de Química. Até a publicação desta reportagem, entretanto, a entidade não se posicionou.
Galeria de produtos
Devido às atuais polêmicas envolvendo a substância, muitas marcas de cosméticos têm enaltecido a ausência de triclosan em suas composições.
“Livre de parabenos, triclosan, petrolato, óleo mineral e corantes”, destaca a Skala ao divulgar seu mais novo lançamento.
Na galeria, confira 10 produtos livres de triclosan para adicionar (sem medo) à rotina de cuidados!