Maquiadores da antiga Hollywood: um sucesso que resiste ao tempo
Conheça alguns dos profissionais que fizeram os looks das estrelas se tornarem famosos até hoje
atualizado
Compartilhar notícia
Na antiga Hollywood, os grandes estúdios dominavam o cenário cinematográfico mundial. Para entrar neste universo, no entanto, a meta não era apenas ter os melhores atores, mas produzir movie stars. São raros os casos de artistas que fizeram o sucesso apenas por sua atuação, afinal, naquela época a ordem era saber cantar, dançar e ter sex appeal.
Com as atrizes, essas leis eram ainda mais rigorosas. Fosse para estrelar um lúdico musical na Metro Goldwyn Mayer ou aparecer nos sofisticados filmes da Paramount, toda e qualquer starlet precisava de um bom maquiador.
Responsáveis por criar os looks das estrelas, esses verdadeiros artistas não eram creditados de forma justa por seu trabalho. Quando se fala em premiações da Academia, por exemplo, William J. “Bill” Tuttle, que maquiou estrelas como Katharine Hepburn, Judy Garland e Esther Williams (essa última no filme “A Rainha do Mar”, de 1952, que exigia da atriz horas e horas de mergulhos em uma grande piscina nos lotes da MGM), só foi reconhecido oficialmente em 1965 com um Oscar honorário pelo trabalho em “As 7 Faces do Dr. Lao”, de 1964.
O feito voltaria a ser realizado em 1969 com John Chambers ganhando o prêmio por “Planeta dos Macacos”, de 1968, para somente a partir de 1982 ter sua categoria própria.
De qualquer forma, os maquiadores de outrora não desfrutavam dos cosméticos inovadores e avanços dermatológicos disponibilizados atualmente. Por isso, para sempre estarem perfeitas na tela, as atrizes precisavam de técnicas inovadoras que só um especialista poderia fazer. Conheça alguns dos mais famosos maquiadores da clássica Hollywood.
Max Factor
Era considerado o “pai da maquiagem” por ter se consagrado na época de Ouro de Hollywood. Visionário, o inventor e fabricante de perucas Max Factor criou o look inesquecível dos ícones mais famosos da década de 1920 e 1930 como Jean Harlow, Bette Davis e Carole Lombard.
O maquiador criativo acreditava que glamour era algo que deveria estar ao alcance de todas as mulheres, tanto que é dele a famosa frase “você não nasce glamuroso. Glamour é criado”. Para desenvolver uma boa maquiagem, Max usava inventos mirabolantes como o Beauty Calibrator, um aparelho excêntrico que servia para medir o contorno facial e apontar pequenas imperfeições que deveriam ser corrigidas com maquiagem.
São dele as ideias de preparar a pele com creme/gel de limpeza + adstringente para receber a maquiagem e a dica de que as cores da maquiagem deveriam se harmonizar às cores de pele, cabelo e olhos. “Todos os cosméticos precisam estar em perfeita harmonia de cores com a tez do indivíduo, ou então eles colidem, produzindo um efeito grotesco e antinatural”, explicava o maquiador no livreto “The New Art of Society Make-Up”, de 1928.
Allan “Whitey” Snyder
Muito do look atemporal de Marilyn Monroe se deve ao talento de Allan “Whitey” Snyder, que foi o maquiador da estrela por toda sua carreira. Allan maquiou Marilyn de 1946 até o dia de seu funeral, em 1962.
Dentre os segredos desenvolvidos em parceria com a estrela, o mais famoso consistia em usar vaselina como primer e iluminador. O maquiador aplicava o produto nas maçãs do rosto, pálpebras e na ponta do nariz de Marilyn, que no inicio da carreira não gostava da pele muito matificada – o que veio a mudar com a maturidade de sua pele no inicio dos anos 1960.
Para os lábios ficarem volumosos, Allan começava contornando-os com um lápis de boca em um tom vermelho escuro para depois passar, sempre com o auxílio de um pincel, cinco tons diferentes de vermelho mais claro. Para finalizar, um pouco de sombra branca era colocada nos lábios, para ficarem mais iluminados. Para o olhar ter mais naturalidade, Allan cortava os cílios postiços pela metade e aplicava apenas nos cantos externos dos olhos.
Em seu último filme, “Something’s Got To Give”, de 1962, que nunca foi finalizado, a debilidade emocional e física de Marilyn estava em seu auge. Dizem que graças ao trabalho de Allan, a expressão de cansaço conseguiu ser diminuída com uma mistura eficaz de duas bases (uma com efeito bronzeador e outra no tom ivory white) e algumas gotas de tinta de palhaço que eram aplicadas no corpo e rosto da atriz.
Wally Westmore e Alberto de Rossi
Wally Westmore e Alberto de Rossi foram os responsáveis por fazer o look de Audrey Hepburn ser um dos mais consagrados da história do cinema e da moda. Wally, junto com seus irmãos, era um dos profissionais mais talentosos de Hollywood. Ele conseguia fazer Fredric March virar um monstro assustador em “O Médico e o Monstro”, de 1941, e ao mesmo tempo era quem enriquecia os traços marcantes da deslumbrante Grace Kelly em “Janela Indiscreta”, de 1954.
Os dois dividem méritos pelo visual de Hepburn em clássicos como “Sabrina”, “A Princesa e o Plebeu”, “Cinderela em Paris” e o famoso “Bonequinha de Luxo”. Mas uma das técnicas mais conhecidas, e um pouco arriscada, de Alberto de Rossi consistia em aplicar uma grande quantidade de rímel nos olhos da atriz e separar cada cílio de Audrey com um alfinete. Dessa forma, o rímel se espalharia melhor e deixaria o olhar de Audrey mais penetrante para os close-ups das câmeras.
Na década de 1960, Audrey mudou um pouco de visual, mas Alberto continuou com ela. A sombrancelha marcada ficou mais fina e os olhos mais carregados com sombras bem pigmentadas, algo proposto pelo maquiador, conhecido também por criar os sketches de maquiagem de Elizabeth Taylor para o filme “Cleópatra”.
Dorothy Ponedel
Dorothy Ponedel conheceu Judy Garland no set de filmagens do clássico “Agora Seremos Felizes”, de 1944. A atriz, considerada até então o patinho feio da MGM, tinha se acostumado com as dietas extremamente restritivas impostas pelo estúdio e com os acessórios que artificializavam sua aparência.
Dottie, como era chamada por Garland, tinha sido responsável pela aparência de Marlene Dietrich na Paramount e imediatamente jogou fora os discos de borracha que tinham sido inseridos para mudar os contornos do nariz e os capeamentos que cobriam os dentes de Garland. Em vez disso, ela valorizou a beleza natural da atriz ao levantar suas sobrancelhas e alterar a linha de seu cabelo com uma pinça.
As duas permaneceram amigas até o dia da morte de Judy Garland, em 1969 e, ironicamente, a maquiadora tem o mesmo nome da personagem de Judy em “O Mágico de Oz”, filme que a consagrou no mundo inteiro.
Bob Schiffer e Clay Campbell
A dupla de maquiadores da Columbia Pictures fez com que Rita Hayworth se tornasse imortal em filmes como “A Dama de Shanghai”, de 1948, “Os Amores de Carmem”, do mesmo ano, “Salomé”, de 1953, “Modelos”, de 1944, e no inesquecível “Gilda”, de 1946. Clay era o cabeça do departamento de maquiagem da Columbia e idealizou como Hayworth deveria aparecer em cada filme, mas foi Bob que se tornou amigo pessoal de Rita por muitos anos. Ele a maquiou de seus 21 aos 40 anos e trabalhou com ela em 11 de seus filmes.