É ético maquiadores postarem fotos editadas de clientes no Instagram?
E legal? Especialista em direito do consumidor revela se o ato pode ser enquadrado como propaganda enganosa
atualizado
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Poderosa ferramenta de elevação da autoestima, a maquiagem é capaz de suavizar os poros, ressaltar os lábios, dar a impressão de nariz mais fino e rosto consideravelmente menos volumoso. Porém, para criar perfis instagramáveis e atrair mais fidéles por meio das redes sociais, determinados beauty artists apostam não apenas em técnicas aprimoradas de contorno e delineado, mas em aplicativos de edição de imagem que distorcem a foto de clientes e acabam por perpetuar padrões de beleza inalcançáveis.
Alterar detalhes pontuais para abrilhantar o trabalho realizado em plataformas como o Instagram, a maior vitrine profissional para maquiadores e cabeleireiros da atualidade, pode ser aceitável, mas até onde é ético (e legal) adulterar o clique?
A questão inquieta internautas e é motivo de debate on-line. “Tem um maquiador conhecido em Macapá que usa TANTO Photoshop nas clientes que a gente não sabe o que é a make e o que é edição”, repudiou uma usuária do Twitter. “A questão é que maquiador tem que especializar em maquiagem, edição só ilude cliente”, disse outra. Uma terceira fez um paralelo: “Perfis de maquiagem estão parecendo cardápio de fast food. Só propaganda enganosa.”
Retoques pontuais
À frente de uma escola de edição de imagens com cursos virtuais voltados a profissionais da beleza, Pedro Nakamura defende o tratamento, mas com ressalvas. “Infelizmente, as pessoas associam a edição a algo negativo, quando, na realidade, ela é essencial em qualquer segmento. O que eu ensino aos meus alunos é fazer a melhor foto possível para editar apenas o necessário, e ser o mais fiel possível ao trabalho realizado”, declara o fotógrafo, professor e empresário, em entrevista ao Metrópoles.
“É importante manter a fidelidade do trabalho e sempre postar um resultado que o profissional consiga entregar ao vivo aos clientes”, complementa.
Segundo Nakamura, ao contrário do senso comum, corrigir cor, contraste, saturação, brilho e nitidez é necessário para deixar a imagem o mais perto possível da realidade, e não da fantasia, sobretudo em fotos tiradas com o celular.
“Cada celular tem características de processamento de imagem diferentes. Uns podem deixar a foto amarelada. Outros, alaranjada. Além disso, podemos fazer pequenas correções, como tirar um brilho que caiu no rosto, um fio de cabelo na testa, um cantinho dos cílios que levantou ou até uma pequena falha no batom, detalhes que não transformam ou descaracterizam o trabalho do profissional”, exemplifica.
Vale ressaltar que equipamentos de iluminação, a exemplo do ring ling, simplificam o clique e também o trabalho posterior de edição.
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Abalo da autoestima
A maquiadora e fotógrafa Isabel De Santis, familiarizada com grandes editorias de beleza, revela que segurar a mão na hora de tratar as imagens é primordial para fidelizar clientes. Afinal, quando a edição é usada em excesso, a diferença entre as fotos publicadas nas redes sociais e o resultado que a cliente vê quando olha no espelho após o atendimento pode gerar frustação e abalo da autoestima.
“Ao fim da make, ao ver o resultado sem a edição acentuada de alguns profissionais, muitas clientes acreditam que o problema está nelas. ‘Como pode todas aquelas mulheres do Instagram terem saído lindas daqui e eu não?’. Esse é um assunto muito complexo”, comenta.
Isabel se restringe a alterar cores, luzes, sombras e características efêmeras, como espinhas, roxos ou distorções da própria lente, em fotos de clientes. Já em editoriais, ela diz ter mais liberdade. “Quando crio um trabalho conceitual, menos atrelado à realidade, o uso dessas ferramentas se torna livre”, reitera.
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Propaganda enganosa?
Doutor em direito pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em direito do consumidor, João Pedro Leite Barros afirma que o uso excessivo de aplicativos de edição de imagem pode, sim, ser enquadrado como propaganda enganosa.
“Distorcer imagens de produtos ou prestação de serviços, transformando a real oferta em algo meramente utópico, pode significar conduta abusiva. Ao criar expectativas para o consumidor, o fornecedor deve cumpri-las, nos exatos termos propalados”, adverte.
De acordo com o advogado, sem prejuízo de averiguação de infração penal, o fornecedor pode ser sancionado administrativamente pelos órgãos competentes, além de ser obrigado a suspender a veiculação da publicidade e responder por eventuais ações indenizatórias, individuais ou coletivas.
Ele ainda lembra que, recentemente, países como a Inglaterra avançaram nessa luta contra a propaganda enganosa nas redes sociais. No país europeu, por exemplo, autoridades proibiram o uso de filtros em ações publicitárias. A nova regra busca prevenir que os efeitos realcem exageradamente os resultados do produto que estão sendo divulgados, especialmente no caso de cosméticos. A decisão se aplica a marcas, influenciadores e celebridades do Reino Unido.
A Advertising Standards Authority citou, a fim de exemplificar o uso excessivo de edição em fotos compartilhadas na web, dois stories feitos por duas influenciadoras para empresas de bronzeamento artificial que usavam filtros para deixar a pele mais escura. Ao divulgar a decisão, as autoridades britânicas julgaram que os efeitos “exageravam enganosamente o efeito que o produto era capaz de alcançar”.
Dicas para identificar imagens adulteradas
Editor de fotografia do Metrópoles, Michael Melo selecionou três dicas para identificar imagens editadas em demasia e facilitar a sua busca pelo maquiador ideal.
1. Fundo fotográfico
Repare no fundo da fotografia. Ao focar no tratamento da pele e do corpo da modelo, determinadas pessoas esquecem do cenário, fazendo com que elementos do fundo percam a continuidade.
2. Cores e iluminação
É muito comum um indivíduo escolher uma cor de algum ponto da pele e pintar o rosto todo do mesmo tom, deixando uma aparência artificial ao desconsiderar como a iluminação chega em cada ondulação natural da face.
3. Simetria
Note quando o rosto estiver com os lados muito parecidos. Copiar o lado em que a maquiagem deu certo, fazendo uma espécie de espelhamento, está entre os truques mais grosseiros de edição.
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